Uma equipa de cientistas, incluindo da portuguesa Fundação Champalimaud, descobriu num estudo pré-clínico que uma análise ao sangue pode ajudar a detetar doentes oncológicos com resistência à radioterapia no cérebro e identificou um medicamento que pode revertê-la.
O trabalho, que envolveu os investigadores da Champalimaud Noam Shemesh e Andrada Ianus, do laboratório de Imagem por Ressonância Magnética Pré-Clínica, foi hoje publicado na revista científica Nature Medicine.
Os cientistas da Fundação Champalimaud, em Lisboa, contribuíram na aplicação de técnicas e metodologias de imagem por ressonância magnética para a observação da microestrutura do cérebro em ratinhos, segundo um comunicado da instituição.
O estudo pré-clínico foi liderado pelo investigador espanhol Manuel Valiente, do Centro Nacional de Investigações Oncológicas, que realizou experiências com ratinhos e culturas de células tumorais derivadas de doentes e analisou dados de pacientes com metástases (tumores secundários) cerebrais de cancros (primários) do pulmão, mama e pele.
De acordo com os autores do trabalho, a ineficácia do uso da radioterapia no tratamento de metástases cerebrais sugere a resistência tumoral à radiação.
O trabalho concluiu que o aumento dos níveis da proteína S100A9, “facilmente encontrada” no sangue de doentes, “está associado à limitada sensibilidade” à radioterapia.
“Há uma correlação entre os níveis de S100A9 no sangue dos doentes e a sua resistência à radioterapia”, sustenta Manuel Valiente, citado no comunicado da Fundação Champalimaud.
Segundo os cientistas, a proteína S100A9 pode vir a funcionar como um biomarcador para identificar doentes com metástases no cérebro que podem beneficiar de radioterapia.
Um ensaio clínico está em curso em Espanha para validar esta hipótese.
A equipa do estudo hoje publicado descobriu também que um medicamento “conhecido por inibir” a expressão da proteína S100A9 reverte a resistência à radioterapia, potenciando “o uso de doses mais baixas de radiação para matar as células tumorais, minimizando assim os danos colaterais no tecido cerebral normal e aumentando os benefícios para os doentes”.
Os investigadores verificaram que o fármaco “poderia ser usado, em ratinhos e culturas celulares, para transformar metástases radiorresistentes em metástases sensíveis à radioterapia”.