A Ordem dos Nutricionistas estima que seriam necessários mais cerca de 800 nutricionistas no Serviço Nacional de Saúde, o que corresponde ao dobro dos que trabalham nos hospitais e a sete vezes mais nos Cuidados de Saúde Primários.
Segundo o estudo “Integração de Nutricionistas no Serviço Nacional de Saúde” apresentado esta quinta-feira, Dia Mundial da Saúde, pela Ordem dos Nutricionistas, nos Cuidados de Saúde Primários (CSP) há um nutricionista para cerca de 100 mil utentes, sendo o rácio defendido pela ordem de 12 mil utentes por cada profissional.
A bastonária da Ordem dos Nutricionistas, Alexandra Bento, salienta que, mesmo com a inclusão de mais profissionais no âmbito do concurso iniciado em 2018, “estima-se um rácio de cerca de 90 mil utentes por nutricionista, o que é claramente desajustado, não garantindo o acesso dos portugueses aos cuidados de nutrição”.
Recorda que a OMS estima que mais de 13 milhões de mortes em todo o mundo, a cada ano, se devem a causas evitáveis, como é o caso dos maus hábitos alimentares, e insiste que é urgente olhar para a nutrição como uma garantia de prevenção de doença e promoção de saúde.
Tendo em conta a recente publicação dos locais de estágio do concurso para admissão de nutricionistas ao estágio da carreira de Técnico Superior de Saúde – ramo nutrição, o estudo testou o cenário com a integração destes profissionais, o que resulta num aumento de profissionais na região de Lisboa e Vale do Tejo (31 das 40 vagas a concurso), “cumprindo um dos objetivos de existir, pelo menos, um nutricionista em cada ACeS [agrupamento de centros de saúde)”.
Contudo, sublinha o estudo, “não é uma dotação suficiente, face às necessidades da população ao nível do acompanhamento nutricional nos CSP e do cenário epidemiológico do país”.
Em qualquer dos cenários analisados, “é notório o défice de nutricionistas nos CSP: estima-se que sejam necessários, incluídas as colocações do concurso iniciado em 2018, entre 556 a 861 profissionais para cumprimento de dotações recomendadas em outros países, resultando na necessidade de contratar entre 403 e 708 nutricionistas para os Cuidados de Saúde Primários a nível nacional”, aponta.
“Hoje, mais do que nunca, a Ordem dos Nutricionistas relembra que urge olhar para a nutrição como uma garantia de uma população portuguesa mais saudável, consequência de uma estratégia focada na prevenção e no tratamento da doença, ao reforçar a presença de nutricionistas no SNS”, insiste Alexandra Bento.
Algarve e Centro são as únicas regiões sem registo de melhorias
Nos cuidados hospitalares, tendo em conta as recomendações de entre 50 a 75 camas hospitalares para cada nutricionista seriam necessários entre 39 a 141 destes profissionais.
O estudo, da autoria do Observatório da Profissão da Ordem dos Nutricionistas, conclui que há um nutricionista por cada 89 camas nos cuidados de saúde hospitalares.
O rácio de camas por nutricionista não apresentou diferenças significativas entre 2020 e 2022, ainda que se registem melhorias nas regiões do Alentejo, Lisboa e Vale do Tejo e Norte, refere. Já as regiões do Algarve e Centro são as únicas que não registaram melhorias.
O trabalho fala de uma “evolução favorável” do rácio em relação a 2020, mas lembra que na amostra analisada o aumento foi apenas de nove profissionais nos cuidados hospitalares.
“Deve ser notado que a lotação praticada nos hospitais foi também mais elevada em 2022 que em 2020, o que contribuiu para parte das variações observadas, uma vez que a alteração no número de profissionais é pouco relevante”, acrescenta.
A Ordem reconhece que as necessidades apontadas representam “um desafio substancial” para o reforço dos recursos humanos do SNS, mas sublinha a “comprovada eficácia do investimento nestes profissionais em ganhos de saúde e ganhos económicos a médio e a longo prazo”.
Globalmente, sublinha o estudo, “é possível concluir que, ainda que a implementação do Serviço de Nutrição esteja a ser efetuada, é notada alguma falta de harmonização no que respeita à designação e coordenação, sendo necessário um contacto mais estreito com as instituições hospitalares no sentido de identificar barreiras à implementação do despacho”.