O anúncio da recandidatura de Donald Trump à presidência norte-americana em 2024 é aguardado para breve, entre o final das audiências públicas sobre o assalto ao Capitólio, em que é o principal visado, e as eleições intercalares de novembro.
Fontes próximas do ex-presidente disseram ao New York Times que Trump acredita que a recandidatura vai distrair a atenção mediática que está a ser devotada às audiências do assalto de 06 de janeiro. O Washington Post cita dois conselheiros segundo os quais Trump pretende anunciar já em setembro.
Entre os vários fatores a pesar para a decisão está também a baixa popularidade de Joe Biden, que se encontra nos 38,7%. Mas um anúncio de recandidatura antes das eleições tem potencial para ser negativo, dando aos democratas uma forma de galvanizar os eleitores anti-Trump.
Para Everett Vieira III, professor de ciência política na Universidade Estadual da Califórnia em Fresno, fará mais sentido Trump esperar e fazer o anúncio da recandidatura depois das eleições intercalares de novembro.
“Aí, se [o congressista republicano] Kevin McCarthy se tornar presidente da Câmara dos Representantes, a comissão parlamentar que investiga o 06 de janeiro será cancelada”, sublinhou o analista à Lusa.
Se os republicanos também ganharem o Senado, o senador republicano Mitch McConnell poderá bloquear todas as nomeações de Biden “e Trump pode fazer campanha com isso”.
“Trump tem reconhecimento de nome, tem pessoas a lutar por ele até ao dia de hoje, mas penso que vai esperar até depois das intercalares”, referiu.
De acordo com o cientista político Jeffrey Cummins, reitor interino da Faculdade de Ciências Sociais na Universidade Estadual da Califórnia em Fresno, um anúncio precoce costuma ser feito para “antecipar o anúncio de outros candidatos e tentar atrair os doadores o mais cedo possível”.
No entanto, neste caso poderá também estar em causa o lançamento da campanha antes que o Departamento de Justiça formalize uma acusação criminal contra Trump pelo envolvimento no assalto ao Capitólio.
“Pode defender o argumento de que um candidato presidencial não deve ser alvo de uma tentativa de condenação criminal”, sugeriu Cummins. O analista referiu que uma investigação criminal a Trump favoreceria o rival republicano Ron DeSantis, mas avisou que um caso destes leva muito tempo a montar e a julgar e é possível que o tempo se esgote até 2024.
A comissão parlamentar que investiga o assalto ao Capitólio está a cooperar com o Departamento de Justiça em matérias que podem vir a envolver Trump. O líder da comissão, Bennie Thompson, disse aos jornalistas que o Departamento está a investigar um esquema com falsos ‘grandes eleitores’ concebido para manter o ex-presidente no poder de forma fraudulenta.
O que acontece se Trump se candidatar e for alvo de acusação formal? E se ganhar? “Não é claro o que acontecerá se houver um processo criminal e Trump ganhar as eleições”, admitiu Jeffrey Cummins. “Nunca tivemos uma situação dessas”.
A CNN noticiou na semana passada que Donald Trump está a questionar os seus aliados regularmente sobre quando vão terminar as audiências públicas, cujo impacto está a ser maior que o esperado. Esperava-se que a comissão parlamentar terminasse o seu trabalho em meados de julho, mas o calendário estendeu-se. A próxima audiência pública deverá acontecer na quinta-feira, 21 de julho.
Dado o contexto, e o facto de faltarem mais de dois anos para as presidenciais, o cientista político Brian Adams considera que ainda é muito cedo para começar a campanha.
“Não seria vantajoso para Trump anunciar a sua recandidatura agora”, afirmou o analista, docente na Universidade Estadual da Califórnia em San Diego. “Não me parece que Ron DeSantis e outros potenciais candidatos desistissem por causa disso”, explicou.
Adams disse que um anúncio precoce não teria o efeito de arrefecer as aspirações de políticos republicanos como o governador da Florida, Ron DeSantis, o ex-vice-presidente Mike Pence ou o ex-secretário de Estado Mike Pompeo.
“Historicamente, quando alguém se declara candidato à presidência com anos de antecedência não obtém grandes resultados”, afirmou.
Também a ideia de que Trump terá a renomeação garantida caso deseje candidatar-se novamente, considera, é precipitada. “Penso que vai haver uma primária competitiva entre os Republicanos”.
Esta visão alinha-se com o teor de vários artigos que têm saído na imprensa norte-americana, desde o Politico à CNBC, e dão conta de uma “fadiga” relativa a Trump junto dos grandes doadores republicanos, que analisam a viabilidade de outros candidatos.
“Quanto mais cedo um candidato anuncia”, disse Everett Vieira, “mais tempo anda com um alvo nas costas”.