O ex-autarca de Vila Real de Santo António, Luís Gomes, deverá ser a escolha de Rui Rio para encabeçar a lista de deputados pelo PSD no Algarve, avança o Jornal de Notícias (JN).
Na semana passada, o jornal Observador deu como certo que havia uma espécie de lista negra que excluía à partida alguns nomes nas contas da direção. Dessa lista, o nome do algarvio Cristóvão Norte era um deles.
Tanto Cristóvão Norte como Luís Gomes estão remetidos ao silêncio e recusam-se tecer comentários sobre possíveis cenários.
Na segunda-feira da passada semana, o nome de Cristóvão Norte foi aprovado por maioria para cabeça da lista dos deputados pelo Algarve, em Assembleia Distrital do PSD.
Segundo disse na altura ao POSTAL, o atual presidente da Câmara de Castro Marim e mandatário de Rui Rui, Francisco Amaral, houve “momentos de grande tensão” entre os apoiantes de Rui Rio e de Cristóvão Norte, o mandatário de Paulo Rangel.
No dia seguinte, terça-feira, foram aprovados os restantes nomes para a lista de deputados pelo Algarve a propor à Comissão Política Nacional do PSD: Rui Cristina, Ofélia Ramos, Bruno Costa e Carlos Martins.
Ainda na terça-feira, depois da aprovação do nome de Cristóvão Norte, Francisco Amaral disse na sua página pessoal de Facebook que “não vamos esquecer o que se passou no sábado. Não foi há uma semana, não foi há um mês, não foi há um ano. Foi há 2 dias. Houve eleições internas que não deveriam ter acontecido, só ocorreram por mero oportunismo de alguns companheiros, nomeadamente no conselho nacional. Para não prejudicar a imagem do partido numa luta interna de galos, Rui Rio não fez campanha”.
Amaral disse ainda que “o resultado foi esclarecedor” e Rio teve “o apoio da maioria dos militantes” e deixa um recado: “Se esses companheiros pretendem manter essa postura de constante ataque a Rui Rio, sugiro, aconselho umas férias sabáticas. Nem sequer deveriam ir ao congresso”.
Fonte próxima de Cristóvão Norte disse, no entanto na altura, ao POSTAL que a recente aprovação do cabeça de lista pelo Algarve “não oferece dúvidas pelo resultado esmagador”. A votação, “por voto secreto, contou apenas com quatro votos contra e 40 a favor, havendo cinco abstenções, o que traduz um grande consenso em torno do nome de Cristóvão Norte, entre os apoiantes, tanto de Rangel como de Rio”.
Rui Rio volta a ser número dois pelo Porto
Ainda segundo avança o JN, “já são conhecidos os nomes que Rui Rio escolheu para encabeçar as listas do PSD às legislativas” e que serão aprovados na Comissão Política Nacional da tarde de desta terça-feira e ratificados no Conselho Nacional, à noite, em Évora
“O líder do PSD vai ser o número dois da lista do Porto às legislativas”, adianta o jornal, tal como aconteceu há dois anos, “Rui Rio volta a escolher um jovem para encabeçar a candidatura do seu distrito. Desta feita, trata-se de Sofia Matos, uma advogada de 31 anos. Em Lisboa, o preterido pela Distrital Ricardo Batista Leite vai liderar a lista do partido”.
Listas deverão passar à primeira, mesmo que cabeças de lista já fechados evidenciem limpeza
“Não é limpeza, mas há pessoas que têm de sair”. Era assim que, na véspera do Conselho Nacional do PSD, um rioísta resumia a o dilema da elaboração das listas de candidatos a deputados, sempre um momento de tensão dentro dos partidos, mais ainda quando metade do partido (47,5%) votou contra a atual direção de Rui Rio. Lealdade e competência são alguns dos critérios que Rui Rio já disse que ia ter em conta, depois de, em entrevista à CNN Portugal logo a seguir à reeleição, ter garantido que não estava em causa “nenhuma limpeza étnica”. Uma coisa é saneamento, outra é coerência, disse na altura. Paulo Rangel, que tem estado em contacto com Rui Rio neste processo e que até segunda-feira à noite não dava como certa uma ida à reunião magna do partido, vai mesmo marcar presença em Évora.
A semana foi intensa nas hostes do PSD: na quarta-feira, a task force designada por Rio para reunir com as distritais do partido – composta por Salvador Malheiro, José Silvano, Paulo Mota Pinto e o secretário-geral-adjunto Francisco Figueira – recebeu delegações das distritais de Lisboa e sul do país, e no sábado recebeu as restantes do centro e norte do país. Em todas o paradigma foi o mesmo: as distritais afetas a Paulo Rangel (incluindo Lisboa e Porto) apresentaram sugestões de nomes em tudo alinhadas com a oposição interna e em nada consensualizadas com a atual direção, como foi o caso de Rodrigo Gonçalves em Lisboa, Alberto Machado e Cancela Moura em Gaia ou Carlos Peixoto na Guarda, e a direção deixou-as em suspense total. O objetivo era claro: não dar margem para a oposição interna se organizar.
“Ninguém respondia a nada”, diz uma fonte distrital, detalhando que as reuniões não duravam mais de 10 minutos e sugerindo isso mesmo: “Enquanto nada for definitivo, uma pessoa pensa ‘pode ser que me safe'”. E a paz segue podre e por um fio. Pelos jornais, as críticas iam sendo audíveis, com fontes da direção a dizer que os nomes propostos pelas distritais eram uma “afronta” e com as distritais a passarem o ónus para o lado de lá: se não acolherem os nomes propostos é porque estão a fazer “limpeza”.
Mas há diferenças. Enquanto a distrital de Lisboa, por exemplo, que sempre se manteve anti-Rio em todas as contendas eleitorais, conta que Rio aceda incluir dois ou três nomes propostos num círculo que é, por princípio, um círculo nacional com muitas escolhas do próprio líder, o mesmo não acontece em distritais como Porto, Guarda ou Vila Real, que mudaram de lado num golpe visto como “traição” e cujos líderes se atravessaram por Rangel enquanto a maioria dos seus militantes votou Rio. “Os que apoiaram Rangel por decreto e depois o distrito deu vitória a Rio mostraram que estão desfasados da realidade do partido”, diz uma fonte afeta à atual direção. E com esses Rio não terá complacência.
“NÃO HÁ OPOSIÇÃO ORGANIZADA”
Em todo o caso, é preciso que as listas sejam aprovadas no Conselho Nacional (que nos últimos meses se alinhou com Rangel e contra Rio) e é nesse sentido que há quem diga que pode haver “quatro ou cinco” nomes afetos a Paulo Rangel que podem passar incólumes. É a essa réstia de esperança que muitos se agarram. Na semana passada, o jornal Observador deu como certo que havia uma espécie de lista negra nas contas da direção, que excluía à partida nomes como Alberto Machado, Cancela Moura, João Moura, Duarte Marques ou Cristóvão Norte. A lista foi levada a sério e João Moura, por exemplo, sacrificou o nome de Duarte Marques (ambos são de Santarém) quando apresentou a proposta à direção: pôs a vice e grande responsável pela vitória de Rio em Santarém, Isaura Morais, em primeiro lugar, seguido do seu próprio nome.
Sem qualquer fumo branco da parte da direção, o Expresso sabe que muitos foram os apoiantes de Paulo Rangel que procuraram que o eurodeputado se envolesse pessoalmente no processo para apaziguar e mediar o conflito. Segundo noticiou a CNN, Rio e Rangel terão falado na semana passada e terão marcado uma segunda conversa antes do Conselho Nacional definitivo. A verdade é que a intervenção de Rangel na mediação do conflito acaba por servir a ambas as partes: evita que haja uma oposição interna organizada no Conselho Nacional.
“Não há nenhum movimento de obstaculização nem nenhuma oposição organizada”, garante ao Expresso fonte distrital que esteve do lado oposto ao de Rio na contenda, sublinhando que há apenas “gente que vai ficar chateada, mas é sempre assim”. Certo é que “cabe ao líder escolher os cabeças de lista mas não cabe às distritais escolher o resto”, lembra, afirmando que depois da religitimação de Rio, a atual direção tem legitimidade para fazer o que entender nas listas. Desde que haja “bom senso”. “Não vai ser uma limpeza total, porque até é perigoso excluir metade do partido, terá de haver bom senso”, diz.
CABEÇAS DE LISTA, OS PRIMEIROS SINAIS DE LIMPEZA
Em 2019, Rio fez a primeira ‘limpeza’ ou ‘renovação’: mais de metade dos então deputados não entrou nas listas às legislativas. Mesmo assim, o Conselho Nacional aprovou-as com 74% de votos favoráveis (80 a favor, 18 contra e 10 abstenções). Agora, todos acreditam que não será muito diferente.
Os cabeças de lista pelos vários círculos já estão praticamente fechados e espelham escolhas de Rui Rio: aí é certo que não há espaço para apoiantes da ala oposta. Esta tarde reúne a Comissão Política Nacional (às 15h) para aprovar as listas e para Rio anunciar à sua direção se quer ou não avançar com uma coligação com o CDS e o PPM. O Conselho Nacional reúne às 21h, em Évora.
É nos cabeças de lista, contudo, que se começam a ver os primeiros sinais de “limpeza étnica”. Ao que o Expresso apurou, quem foi cabeça de lista há dois anos e que agora estava do lado de lá da barricada não repetirá a proeza. É o caso de Margarida Balseiro Lopes, que deverá ser substituída em Leiria por Paulo Mota Pinto, ou de Viseu, em que a escolha de Joaquim Miranda Sarmento ou de Hugo Carvalho para lugares cimeiros pode pôr em causa a continuidade de Pedro Alves (montenegrista e apoiante de Rangel) na lista. Também José Cesário, que é habitualmente eleito pelo círculo Fora da Europa poderá ver o vice Maló de Abreu no seu lugar.
Também na Guarda, Carlos Peixoto, que foi cabeça de lista nas últimas eleições e até aqui vice-presidente do grupo parlamentar do PSD, deverá sair para dar lugar ao ex-presidente da câmara municipal de Vila Nova de Foz Côa, Gustavo Duarte.
– Notícia do Expresso, jornal parceiro do POSTAL