A retoma económica em Portugal ainda vai demorar, embora alguns setores, como o turismo e a agricultura possam recuperar mais depressa, diz o presidente da Comissão Nacional de Acompanhamento (CNA) do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR), António Costa Silva.
“O setor do turismo, que é um dos setores que foi muito atingido, pode responder muito rapidamente”, exemplifica o professor, em entrevista à Lusa, citando o caso do Algarve, onde já se vê “alguns sinais dessa retoma”.
Nesse sentido, considera António Costa Silva, “foi extremamente importante a decisão do Governo britânico para dar luz verde também à circulação de turistas para Portugal”.
Para além do turismo, Costa Silva aposta ainda numa retoma mais rápida no setor agrícola, na medida em que – recorda – só em 2019 a agricultura exportou para mais de 180 países.
“É uma coisa, obviamente, impressionante e, portanto, com um potencial enorme que também se pode desenvolver”, especifica.
Tudo somado, o presidente da CNA prevê que “talvez em 2022” já haja alguma recuperação, da qual os primeiros sinais foram patentes no segundo trimestre deste ano.
“Se continuarmos com estes números, que são excelentes em termos do controlo da pandemia, penso que alguns setores poderão ter uma retoma ainda este ano, outros demorarão mais tempo”, reforça.
Mas, reitera, “é evidente que tudo isso está condicionado pela evolução da pandemia e uma recaída seria trágica”.
Para que haja desenvolvimento e o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) seja significativo e sustentável nas próximas décadas, o professor considera, todavia, que é fundamental “mexer” em algumas alavancas, que identifica: as competências, a capitalização das empresas e o “ecossistema da inovação”.
“Temos de fazer [um investimento muito grande] nas competências e nas qualificações”, explica Costa Silva, citando que no indicador crucial na área da educação – a percentagem da população ativa que termina o ensino secundário – Portugal é dos piores países da União Europeia.
Para o presidente da CNA, isto “é uma espécie de espada de Dâmocles que impende sobre o desenvolvimento da economia portuguesa”.
Quanto à descapitalização das empresas, Costa Silva considera que existe um “problema sério”, que tem de ser corrigido, “apostando claramente não só no sistema bancário que existe (…) como mudando o paradigma de capitalização das empresas”.
“O Banco de Fomento será importante para projetos a médio, longo prazo e para intervenções, mas também os fundos de investimento, as sociedades de capital de risco, especialmente para as empresas mais tecnológicas”, vinca.
Finalmente, Costa Silva considera que é crucial apostar no modelo de inovação tecnológica.
“Este ecossistema de inovação que liga as empresas ao sistema científico e tecnológico está a funcionar em múltiplas áreas”, diz o professor, acrescentando que, em junho de 2020, o “European Board da União Europeia, que avalia a importância da inovação nos vários países, passou Portugal de inovador moderado para inovador forte, a par da Alemanha ou da França”.
“Isto é um sinal de esperança”, conclui.