Era uma estreia entre os dois, pelo que a expectativa subiu. Francisco Rodrigues dos Santos apareceu ao ataque, sem poupar o líder liberal, mas a estratégia acabou por não convencer a maioria dos comentadores do Expresso: a média final dá 4,2 para o líder do CDS e 5,3 para o da Iniciativa Liberal. Confira notas e comentários
Henrique Raposo
Francisco Rodrigo dos Santos 2 -Cotrim Figueiredo 7
Rodrigues dos Santos. É um adolescente que se comporta como um adolescente: não deixa o adversário falar, parece que está no pátio do liceu a ‘mandar umas bocas’. Bocas, essas, que caem sempre na brejeirice (ex.: dizer que Cotrim é Ruth Marlene piscando à esquerda ou à direita; como é que o CDS chegou aqui?). Este Chicão, ou melhor, este Chiquinho não é só um adolescente. É um adolscente que recorre à vulgata esquerdista do BE quando pretende criticar os liberais: apelidou-os de “selvagens” e de insensíveis aos mais pobres – a cassete igualzinha à da esquerda. Pior ainda: tal como a esquerda portuguesa, este CDS é incapaz de perceber que existem outros estados sociais. Estados sociais de base liberal como aqueles que marcam a vida dos países europeus mais a norte. Este CDS mostra como boa parte da direita portuguesa, a começar em Rui Rio, está mentalmente colonizada pelo status quo socialista e não consegue imaginar outras realidades, outros modelos. E não é difícil imaginar. Aliás, não é preciso imaginar, basta observar: o modelo liberal explica o sucesso de todos os países europeus que ultrapassaram Portugal nos últimos dez anos.
Cotrim Figueiredo. “Apesar de ser o mais novo, Rodrigues dos Santos é o candidato com a cabeça mais velha”. Desta forma lapidar, Cotrim Figueiredo desenhou e arrumou com o seu adversário. Tentou discutir ideias e reformas para o país, mas teve pela frente uma versão juvenil de Ventura, um pequeno rufia que destrói o debate com apartes e bocas, ou a versão masculina de Catarina Martins, uma pequena máquina de ideias maniqueístas onde só existe branco e preto. Sem crescimento económico forte, um crescimento económico equivalente àquele que Portugal conheceu na segunda metade do século XX, um crescimento acima dos 5%, nós não seremos viáveis no futuro próximo. Esta é a mensagem central de Cotrim e da IL. Não devia ser uma questão liberal ou não liberal, não devia ser uma questão de esquerda ou de direita. Aliás, antes de morrer, Sampaio falou desta questão. Mas isto é revelador do nosso atraso: apenas um pequeno partido, a IL, tem como mote esta questão vital.
Daniel Oliveira
João Cotrim de Figueiredo 5 – Francisco Rodrigues dos Santos 4
Este era um debate importante para o CDS. Francisco Rodrigues dos Santos tinha um único nicho para aproveitar: os conservadores que não debandaram para o Chega. Sobrava-lhe a guerra cultural. Até porque sabe que o eleitorado da IL é, tirando para um nicho jovem que não chega para eleger deputados, pouquíssimo liberal quer nos costumes, quer na política. É basicamente um partido libertário na economia. O resto são flores que o próprio Cotrim de Figueiredo não perdeu mais do que uma frase genérica a defender, relegando essa parte do liberalismo para a total irrelevância. Não perdeu um. Já o ataque de Francisco Rodrigues dos Santos nos temas sociais, chamando à colação a doutrina social da igreja, é menos eficaz, apesar da evidência da denúncia do radicalismo da IL nesta matéria. Mas é tão relevante para o potencial eleitor do CDS como a liberdade individual nos costumes é para o eleitor que a IL está a roubar ao CDS. Francisco Rodrigues dos Santos fez o que tinha de fazer. O problema é que ele não representa essa direita conservadora. Falta-lhe a gravitas, que substitui por gritos que tornam todos os debates cansativos. Boa frase do líder da IL: é o líder mais jovem com a cabeça mais velha. A do líder do CDS: a IL é o Chega com uns trocos no bolso. Mas as linha vermelhas que os dois deixaram com o Chega têm um problema: os Açores, que Cotrim de Figueiredo não conseguiu resolver de forma convincente. De resto, um debate doutrinário, no pior que o termo significa. CDS e IL são duas faces da doença infantil identitária pela qual a direita está a passar A coisa mais dita no debate pelos dois: o que tu dizes é igual ao que diz o Bloco de Esquerda.
Martim Silva
Francisco Rodrigues dos Santos 5 – 4 Cotrim de Figueiredo
À direita, apesar do peso dos partidos, este era um dos debates mais aguardados. O CDS era a maior força à direita do PSD e Iniciativa Liberal (e Chega) têm vindo a ocupar esse espaço. Entende-se por isso a agressividade com que ‘Chicão’ se atirou desde o primeiro segundo à jugular de Cotrim de Figueiredo. O tom e a forma como interrompe permanentemente o opositor é muito irritante e roça a má criação. Mas foi notório hoje que o líder da Iniciativa Liberal não estava preparado para um frente a frente assim, tendo deixado as luvas de boxe em casa.
Paulo Baldaia
João Cotrim Figueiredo 6 – Francisco Rodrigues dos Santos 6
Assertivo, mas sem a agressividade excessiva do debate com o PAN, Francisco Rodrigues dos Santos controlou o debate obrigando João Cotrim Figueiredo a ir mais vezes a reboque das ideias do CDS que o contrário. O líder da Iniciativa Liberal demorou a libertar-se das armadilhas de Rodrigues dos Santos mas fechou bem o debate, deixando o líder do CDS nervoso. Disputam o mesmo eleitorado, mas é pouco provável que qualquer um tenha conseguido ganhar terreno com este debate.
Vítor Matos
João Cotrim de Figueiredo 4 – Francisco Rodrigues dos Santos – 5
Perante uma das maiores ameaças ao seu partido (a seguir ao Chega), Francisco Rodrigues dos Santos cumpriu os mínimos por conseguir fixar a faceta democrata-cristã e conservadora do CDS. Um eleitor idoso ou católico terá dificuldade em passar para uma Iniciativa Liberal que não dá garantias de apoios sociais e que é tão liberal nos costumes como a esquerda. No entanto, não ficou bem a um líder que usurpou a liderança, e que cancelou um congresso, falar dos que saíram do partido porque o “CDS já tinha saído deles”. Perante o popular a sublinhar com sucesso o humanismo do CDS, João Cotrim de Figueiredo não conseguiu ser convincente a defender os benefícios das políticas liberais, mas espetou bem as farpas quando acusou Rodrigues dos Santos de ter “cancelado” um grupo parlamentar inteiro e de ser novo mas ter “a cabeça mais velha dos líderes partidários”.
Filipe Garcia
Francisco Rodrigues dos Santos 3 – João Cotrim Figueiredo – 6
Francisco Rodrigues do Santos está nervoso. Mais que qualquer outro, nestas legislativas, a sua luta é pela sobrevivência, a própria e a do seu partido. E se os debates entre líderes partidários servem para ganhar votos, não terá sido neste, frente a João Cotrim Figueiredo, que o CDS ficou mais próximo de recuperar dimensão. O nível desceu, entre outros momentos, quando acusou a IL de ser um “Chega com uns trocos no bolso”, mas apenas para fazer Cotrim endurecer o discurso. Muito ruído, pouco conteúdo e uma animosidade artifical. No final, até concordam em traçar a linha vermelha em torno do Chega, até aceitam negociar com o PSD.