O debate foi tão quente como se previa entre os líderes do PS e Bloco. Quente e cheio de críticas, com o fim da geringonça como pano de fundo, mas de certa forma contido no tom. Resultado final? 3-2, com vitória à míngua do socialista.
Paulo Baldaia
António Costa 6 – Catarina Martins 7
António Costa esteve todo o debate ao ataque, procurando responsabilizar o Bloco pela crise e por abrir as portas à direita. E atacou quando se falava de saúde, de segurança social, de legislação laboral ou de nacionalizações. Catarina Martins jogou quase sempre em contra-ataque mas foi mais eficaz. Acusada de ser mel em campanha e fel no Parlamento, a líder do Bloco respondeu à letra devolvendo a acusação ao PS que, no governo, promete mel e distribui fel. Costa marcou pontos a jogar ao centro, gastando o tempo final a falar da “bravata ideológica” do BE com as nacionalizações, o único ponto onde Catarina foi pouco eficaz na resposta.
Luís Aguiar-Conraria
António Costa 5 – Catarina Martins 3
Foi um debate que começou com um passa-culpas. Cada um culpa o outro pela crise. Nesta fase, penso que Costa acabou por ser mais convincente ao lembrar que o Bloco não abandonou a geringonça agora, mas sim num orçamento anterior.
Catarina Martins esteve melhor, penso eu, ao elencar os problemas do Serviço Nacional de Saúde. São médicos que faltam, são enfermeiros que faltam, é o material que falta. Costa não teve uma resposta convincente. (Mas, na verdade, se uma pessoa acreditar em Catarina Martins fica mesmo convencida de que o SNS está moribundo, para usar as suas palavras. E, sendo assim, que sentido faz repetir a solução dos últimos seis anos?)
Para alguém como eu, que considera o equilíbrio das contas como uma condição necessária para sistemas sustentáveis, António Costa esteve mais forte ao chamar a atenção para os custos orçamentais das propostas do BE relativamente ao fator de sustentabilidade. Infelizmente, foi mais um debate em que não se discutiu as implicações do inverno demográfico para a sustentabilidade da Segurança Social.
A terminar, alguém lembrou a Catarina Martins os custos das medidas que propõe. Como disse Costa, por causa de uma bravata ideológica arriscamo-nos a ter custos de 30 mil milhões. Só faltou acrescentar: já basta o que nos custou a bravata ideológica com a TAP.
Mais uma vez Costa conseguiu falar mais um minuto que o oponente.
Daniel Oliveira
António Costa 6 – Catarina Martins 7
Este era o debate mais importante para Catarina Martins. E o mais difícil. Como não ser derrotada por Costa, sobretudo em relação a esta crise política, e impedir que a coisa aquecesse de tal forma que as pessoas concluíssem que novo entendimento é impossível? Pelo contrário, a Costa interessava mostrar que não há pontes possíveis.
Costa foi, como seria de esperar, eficaz em relação ao passado. E tentou separar o BE do PCP, o que, sendo contraditório com o que disse a Jerónimo de Sousa no debate com ele, se compreende neste dia.
Catarina Martins tentou passar as divergências para coisas bem concretas, que se relacionem com a vida direta das pessoas. E centrou-se na maior preocupação deste momento: o SNS. E foi bem sucedida. Conseguiu, contra as minhas expectativas, prender Costa nos temas concretos e manter a temperatura baixa era tudo o que precisava. E mostrar conhecimento dos temas. Quanto à segurança social, a tecnicidade terá escapado às pessoas, mas António Costa conta, no custo do recálculo do fator de sustentabilidade, como se a medida fosse aplicada a quem não seria – mas potencialmente poderia ter sido. Nas leis laborais, Costa mostrou que não queria debater o assunto, saltando para as nacionalizações (apesar dessas propostas não andarem longe das que o BE defendia quando Costa se entendeu com ele), o que prova o desconforto com o tema laboral.
Catarina Martins foi eficaz na defesa dos seus pontos, António Costa foi eficaz a agitar o risco da direita e na única cartada que tinha guardada. Daria um empate, mas o objetivo fundamental de Catarina Martins era que não se chegasse ao fim do debate concluindo que o entendimento é impossível. Conseguiu.
Cristina Figueiredo
António Costa 8 – Catarina Martins 7
Era um dos debates mais aguardados. E também dos mais previsíveis: António Costa não desperdiçaria o único frente a frente com Catarina Martins para responsabilizar o BE pelo fim da geringonça, e assim aconteceu, com todas as letras. Ficámos ainda a saber, com clareza, que, para o PS, o falhanço das negociações do OE 2022 se deveu à proposta do BE para acabar com fator de sustentabilidade da segurança social. Catarina Martins esteve à altura, em momento algum vacilou na resposta às acusações de Costa, mas no fim a vantagem (ligeira) vai para o líder socialista, que denunciou a “bravata ideológica” de um BE em “versão light” que quer “desprivatizar” a SNS, a EDP, a REN e os CTT com uma proposta tremendamente onerosa para a dívida pública. Fica ainda registada a insistência de Catarina Martins em renovar um entendimento com o PS, a bem do país, após as eleições. Mas do que resultou desta amena, ainda que rija, discussão foi a impressão de que esse entendimento parece mesmo muito difícil. Se isso é bom para a tal maioria absoluta que Costa não pede, mas obviamente deseja, se verá.
Vítor Matos
António Costa 7 – Catarina Martins 4
Era um dos que gerava mais expetativa e talvez tenha sido o melhor debate até agora. Duas posições estabelecidas e um resultado claro: da mesma maneira que neutralizou Jerónimo de Sousa, António Costa desfez Catarina Martins sem se irritar, encurralou-a no beco dos radicais, num duelo muito mais difícil de vencer, porque a coordenadora bloquista tem uma capacidade de argumentação que o secretário-geral do PCP não demonstrou. Perante uma adversária muito mais sólida – Catarina começou bem a lembrar o dinheiro que o Governo não gastou durante a pandemia – Costa conseguiu mostrar ao eleitorado de esquerda como a falta de moderação do Bloco levou o país para eleições antecipadas, e por estar a pedir uma maioria (“absoluta”, disse duas vezes Costa, ainda que estivesse a referir-se a quando não a pediu, em 2015 ou 2019).
“Muito mel” nas campanhas e “muito fel” no Parlamento, foi o soundbite da noite, mas o desequilíbrio fez-se quando se debateram políticas em particular: no caso da exclusividade dos médicos, o PM teve ganho de causa (embora não tenha dito que se tornasse os chefes de serviço exclusivos, como deseja o BE, muito provavelmente iam todos para o privado), assim como na questão da Segurança Social e depois nas leis laborais. O problema aqui é a questão da eficácia do discurso, uma vez que são temas demasiado técnicos para serem bem percebidos pelo eleitor comum. O socialista conseguiu ir colando o Bloco ao radicalismo, mantendo o PS numa posição de aproximação gradual dessas propostas, na medida do que é possível, e conseguiu passar essa mensagem. A derrapagem de Catarina deu-se quando disse que o imposto Mortágua dava para pagar as despesas da Segurança Social*. Costa deu a estocada final ao expor a proposta de renacionalização da EDP, REN, ANA, CTT e Galp, que o BE defende e que elevaria a dívida pública em 14 pontos percentuais. Ainda deixou claro que se não tiver maioria não se vai embora. “Não faço chantagem como o professor Cavaco…” Com quem fará maioria, se ganhar, logo se vê.
*Nota de correção: corrigida uma informação errada no comentário de Vítor Matos, onde se dizia que as verbas do Adicional do IMI (vulgo Imposto Mortágua) não estão consignadas. Pelo contrário, são receitas consignadas ao Fundo de Estabilização Financeira da Segurança Social.