O CDS-PP instou hoje o ministro da Administração Interna, Eduardo Cabrita, a esclarecer publicamente a existência de uma rede de imigração ilegal que atua no Algarve, considerando que o governante cobriu-se “de ridículo” ao ter desvalorizado esta possibilidade.
“Tornou-se muito evidente, e existem indícios muito claros, de que está a ser explorada por traficantes uma rede ilegal no sul de Portugal”, disse o líder parlamentar do CDS, Telmo Correia, à agência Lusa.
O deputado recordou ter perguntado a Eduardo Cabrita, numa audição parlamentar, “se ele não considerava que, perante uma série de desembarques no Algarve, podíamos estar perante uma rede de imigração ilegal” e lamentou que a resposta obtida foi que não se deveria “cair no ridículo” porque se tratava de “factos isolados que não tinham relevância”.
O líder parlamentar centrista realçou igualmente que o Serviço de Informações de Segurança (SIS) considerou “muito preocupante a existência de uma rede de imigração ilegal a partir de Marrocos e tendo como destino o sul de Espanha e o Algarve”.
Apontando que têm existido mais desembarques e até fuga às autoridades de migrantes no sul do país, – o mais recente na terça-feira quando um grupo de 21 migrantes foi intercetado pela GNR na praia da Ilha do Farol, em Faro, – Telmo Correia acusou o ministro da Administração Interna de estar “dia após dia a cobrir-se ele próprio de ridículo”.
Na ótica do deputado, a “principal obrigação” do Governo deveria ser “investigar esta possibilidade, até numa lógica de segurança interna” e não “desvalorizar”.
“O CDS o que quer dizer é que o senhor ministro da Administração Interna tem de vir rapidamente e publicamente prestar esclarecimentos sobre esta matéria” e “retratar-se das declarações que fez”, indicou o líder parlamentar do CDS.
Para tal, o grupo parlamentar democrata-cristão vai dirigir um requerimento ao ministro Eduardo Cabrita a “perguntar se ele quer esclarecer e corrigir a mão, e a exigir que venha publicamente fazê-lo”.
“Tudo indica que estamos de facto perante uma rede criminosa de tráfico de pessoas, e o ministro tem de vir esclarecer isto”, insistiu.
À Lusa, Telmo Correia lamentou ainda que a primeira comissão tenha rejeitado na terça-feira um pedido de audição do PSD para que o ministro da Administração Interna fosse ao parlamento falar precisamente sobre este tema.
Nos últimos oito meses foram intercetados a desembarcar ilegalmente no Algarve 69 migrantes provenientes do norte de África, com o último caso registado ao fim da tarde de terça-feira, na Ilha do Farol.
O grupo de 21 migrantes, aparentemente marroquinos, segundo as autoridades, foi intercetado já no areal da Ilha do Farol, pelas 19:45, tendo pernoitado num pavilhão em Olhão, onde se encontram à guarda do SEF e da GNR.
O Algarve tem sido procurado por migrantes ilegais como porta de entrada para a Europa, tendência que se tem acentuado no últimos meses. Desde dezembro que já foram intercetados 69 migrantes oriundos do norte de África na região.
Em meados de junho, o ministro da Administração Interna afirmou numa comissão parlamentar que Portugal “não deve cair no ridículo” ao considerar que existe uma rede de migração ilegal para o Algarve.
“Estando a falar de quatro desembarques desde dezembro de 48 pessoas devemos ter alguma dimensão do ridículo quando compararmos com aquilo que são 7.500 chegadas a Espanha desde janeiro, mesmo com uma redução significativa de chegadas verificada este ano”, precisou na altura Eduardo Cabrita, respondendo ao deputado Telmo Correia.
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