O empresário Carlos Natal formalizou na quarta-feira a sua candidatura à presidência do Chega, pretendendo criar um “espaço de diálogo” que mostre à direção o “descontentamento” no partido e motive o seu realinhamento com os valores fundacionais.
Nas primeiras eleições diretas para a presidência do Chega em que André Ventura irá ter um concorrente, Carlos Natal afirma, em declarações à Lusa, que, sendo um dos “fundadores do partido”, sente que o Chega “está a ser desvirtuado”, existindo um “descontentamento” da parte das pessoas “que estiveram na raiz do projeto”.
“O Chega tornou-se um partido de um homem único. Não há espaço para que as pessoas possam ter opinião, não há canais dentro do partido para as pessoas poderem (…) comentar, participar nas decisões”, indica.
O empresário algarvio, que aderiu ao Chega em novembro de 2018, frisa assim que pretende “fazer um alinhamento do partido com os propósitos do início”, tornando-o novamente num “partido de pessoas humildes, dos portugueses”, e não o “partido de elite” que alega ter-se tornado, onde a gestão é confiada “só a alguns” e “o resto são peões que têm que obedecer ao grande líder”.
Para ilustrar o ponto, Carlos Natal aborda a sua própria experiência dentro do partido: candidato inicial do Chega à Câmara Municipal de Portimão nas últimas eleições autárquicas, o empresário diz ter sido afastado pelo partido sem receber qualquer explicação, apesar de ter enviado cartas ao presidente e “vários e-mails para a direção”.
Considerando que a sua experiência pessoal “é um exemplo claro daquilo que não deve acontecer” num partido – onde “as decisões são tomadas e depois ninguém as justifica” -, Carlos Natal pretende, com a sua candidatura, “abrir um espaço de diálogo” e provocar “mudanças do ponto de vista da orgânica e do funcionamento do Chega”.
Entre as propostas, e apesar de partilhar a linha ideológica do partido, Carlos Natal afirma que, “nalguns aspetos, poder-se-ia dar mais atenção ou um enfoque maior numas áreas que, de facto, elas existem e são problemáticas”, dando o exemplo do combate à corrupção.
“Quando se fala em minorias, normalmente o presidente fala sempre sobre os ciganos (…) mas não devemos é continuar sempre a insistir nessa minoria, porque há outras que também devem ser faladas. (…) Refiro-me, por exemplo, à minoria dos banqueiros deste país que passam o tempo todo a roubar os portugueses”, salienta.
Numa quebra com a linha do presidente do Chega – na sua moção de candidatura, André Ventura considera que o partido não deve “abdicar da participação ministerial num Governo eventualmente liderado pelo PSD – Carlos Natal pede, no seu manifesto, que o Chega “nunca participe em coligações de Governo, sejam elas pré-eleitorais ou pós-eleitorais”, a não ser que o partido seja o mais votado.
Do ponto de vista interno, Carlos Natal propõe a abolição da Comissão de Ética do partido, o órgão responsável pela aplicação da diretiva 03/2020 – também conhecida como “lei da rolha” – que estabelece que “qualquer referência ofensiva a membros ou dirigentes do partido” acarreta a “imediata suspensão de todos os cargos e funções, bem como da militância, pelo período mínimo de 30 dias”.
Segundo o empresário, as suspensões motivadas por essa diretiva – que diz serem feitas de “forma quase aleatória e sem grande justificação”, não tendo “nenhum ponto de democraticidade” – servem, antes de mais, para que sejam “purgados aqueles não partilham as ideias do líder e da direção que, neste momento, está à frente do Chega”.
Enfrentado um concorrente que o próprio diz ser central no partido – “o Chega é o André Ventura e o André Ventura é o Chega” – o empresário não tem ilusões sobre o seu resultado nas eleições diretas, mas afirma que “de certeza absoluta” que irá ter “alguns votos”, apesar de não avançar se “vão ser expressivos ou não”.
“O que eu quero é que os militantes que estão descontentes com o progresso e com a forma como o partido tem vindo a caminhar, que depositem o seu voto, e que esse voto depois seja expressivo no sentido de fazer ver ao líder e à direção que existem uma série de pessoas que não estão contentes com o rumo que o partido está a levar”, aponta Carlos Natal.
As eleições diretas para a presidência do Chega decorrem a 06 de novembro, com o congresso do partido a ter lugar três semanas depois, entre 26 e 28 de novembro.