Por todo o mundo existem inúmeras associações e organizações que trabalham com voluntários. Na área do voluntariado existem diversas atividades, algumas mais visíveis e próximas de nós do que outras, por exemplo, quando nos deslocamos a uma superfície comercial e nos deparamos com alguém que nos entrega um saco de papel para contribuirmos com um género alimentar não perecível. Sabemos, a priori, que aquele voluntário de atitude pró-ativa está a disponibilizar o seu tempo para ajudar uma causa sem ser remunerado e que, ao solicitar a nossa ajuda, origina uma cadeia de interajuda, na qual nos envolvemos e participamos se assim o entendermos.
As atividades de voluntariado podem ser de cariz formal ou informal e podem acontecer no seio familiar, comunitário e/ou organizacional, de forma direta ou indireta. Podem ser exercidas em vários contextos e em diferentes áreas: com crianças, pessoas mais velhas, minorias, meio ambiente, animais, entre muitas outras; com diversas atividades associadas, tais como: ações cívicas, ações sociais, angariação de fundos, divulgações, campanhas, etc. Tudo isto em prol do bem-estar e da melhoria de vida de outras pessoas ou entidades.
Mas o que impulsiona e motiva alguém a querer participar nesta ajuda e a querer ser ator da mudança, a favor da construção de uma sociedade civil mais solidária e resiliente? Para além do altruísmo inerente à ajuda dos demais, o voluntariado pode contribuir significativamente para o próprio bem-estar mental e emocional do indivíduo voluntário e a psicologia tem mostrado cada vez mais interesse nesta área. De acordo com estudos recentes, o voluntariado influencia intrinsecamente a satisfação com a vida, a autoestima positiva, o sentimento de pertença e contribui para a redução do distress e para o desenvolvimento da identidade. Permite ainda desenvolver competências socio-emocionais, a aquisição de novos conhecimentos e o estabelecimento de relações próximas. Assim, os voluntários que se envolvem em ações de voluntariado apresentam níveis mais elevados de realização pessoal, maior bem-estar em geral, assim como melhores desempenhos e comportamentos interpessoais mais positivos.
O Instituto Nacional de Saúde dos Estados Unidos da América descobriu que os adultos que se voluntariam regularmente têm uma menor probabilidade (27%) de desenvolver hipertensão arterial em comparação com aqueles que não o fazem. Outro estudo mostrou que os voluntários que se dedicam a causas humanitárias têm níveis mais baixos de cortisol, uma hormona diretamente envolvida na resposta ao stress, em comparação com aqueles que não praticavam uma ação de voluntariado. A Universidade de Exeter, no Reino Unido, descobriu que o voluntariado pode ser uma forma eficaz de diminuir a sintomatologia associada à depressão e à ansiedade em pessoas com mais de 50 anos.
Embora a atividade de voluntariado enriqueça o ser humano, não podemos cair no erro de generalizar e considerar que todas as experiências de voluntariado são positivas e que não é necessário existir uma preparação prévia. No que respeita, por exemplo, ao voluntário que intervém de forma direta, o choque com a sua realidade pode ter um impacto psicológico negativo, decorrente de ações ou tarefas emocionalmente desgastantes.
Neste sentido, os Psicólogos estão preparados para agir junto de voluntários em dois sentidos: por um lado, na formação e planeamento da atividade; por outro lado, no sentido da prevenção dos impactos psicológicos negativos decorrentes desta ação, através da intervenção psicológica direta ou através da elaboração de manuais de autocuidado e/ou estratégias de gestão de stress, ou seja, ferramentas de apoio ao trabalho do voluntário.
O voluntariado planeado, com formação e acompanhamento, é uma forma de potenciar o desenvolvimento de comportamentos pró-sociais e pró-saúde, minimizando o impacto dos problemas, fortalecendo a coesão social, ao mesmo tempo que contribui para a promoção do bem-estar e da Saúde.
Posto isto, o voluntário não só assume o compromisso de estar e dar o seu tempo à ação de voluntariado, disponibilizando-se a ser agente de mudança, sem receber qualquer compensação, com o objetivo de tornar o mundo mais belo, perfeito e justo. E sim, é esta a mudança que o voluntário livre e responsável deseja receber, para além do que o próprio voluntariado lhe traz a nível psicossocial.