… e viva a brilhante iniciativa que conduziu a este programa inovador, que abre portas à participação, programada e apoiada, das Associações e dos Grupos Culturais de Tavira, contemplando a realização de uma série de eventos e actividades culturais de meados de Março a Junho.
É que hoje mesmo [sábado, dia 19] se iniciou com a brilhante actuação da Banda de Tavira, acompanhando o cantor espanhol Juan de Santa Maria. Foi bom de ver, ouvir e sentir o apoio do público que tão entusiasticamente aderiu.
Aplausos por tão importante passo na divulgação e práticas culturais na nossa cidade.
Na essência do programa “Viva a Primavera” julgo estar o convite à participação de TODOS os que queiram apresentar projectos válidos, facultando às gentes do nosso “burgo” espectáculos e eventos culturais com qualidade.
Desde já se perspectiva o êxito deste programa e toma-se o atrevimento de sugerir a criação dum Conselho Cultural Municipal, como órgão opinativo junto do departamento camarário da cultura, integrando um limitado número de representantes das Associações, que, pela pronúncia positiva, participe activamente na programação e nas escolhas. Ter-se-ia então na nossa cidade a DEMOCRACIA PARTICIPATIVA em pleno funcionamento, na área cultural, o que seria fundamental na motivação dos nossos artistas e no empenhado e profícuo “trabalho” das associações.
Já em tempos expressámos a ideia (no “Postal do Algarve) de que, em relação às actividades culturais, seria de todo importante chamar à participação todas as capacidades disponíveis, de pessoas, de agentes culturais e de associações, envolvendo, quando adequado, o sector comercial, e outras forças vivas locais.
Na oportunidade expressámos a opinião de que a programação que vinha a ser praticada, de calendário basicamente fixo, tinha no verão um componente essencialmente de entretenimento e de lazer, que, sendo diversificada e de indubitável qualidade, se afigurava ser muito repetitiva e com características de massificação, muito virada para o “turista”.
Fora do período estival, e à parte pontuais e esporádicas iniciativas, pouca era a produção cultural e notória a falta de articulação entre os agentes culturais, o que conduzia, múltiplas vezes, a que iniciativas de idêntica natureza ocorressem em simultâneo, sem adequada divulgação e ainda, que fosse, por falta de informação, dado azo à contestação dos critérios de acesso e concessão dos apoios. Estava criado o natural ambiente para a crítica fácil e a maledicência.
Também na ocasião se referiu a limitação objectiva ao desenvolvimento das actividades culturais e que reside na inexistência de espaços vocacionados para os agrupamentos e associações funcionarem e fazerem mostra pública da sua arte. (a cidade não dispõe de sala de espectáculos, anfiteatro ou estúdio, situação a que urge pôr cobro).
Referiu-se ainda que algumas actividades eram desenvolvidas, através de acções individuais, fruto dos conhecimentos/influências e do prestígio local dos promotores. Normalmente tais iniciativas, na maior parte dos casos assumindo elevados padrões de qualidade, têm o “público” limitado ao núcleo restrito de amizades/conhecimentos do organizador do evento, potenciado pela deficiente divulgação que era praticada.
Como resultante destas situações, temos em primeira instância uma limitação de públicos e, não raras vezes, sobreposições de actividades do mesmo domínio, (concertos no mesmo dia e à mesma hora, apresentação de livros em locais diferentes, sobreposição horária de eventos, divulgação deficiente etc…). Esta, chamemos-lhe, ausência de coordenação, geradora de deficiente divulgação, induzia frustração nos públicos e acarretava também desmotivação dos promotores e incompreensões várias.
A caracterização atrás referida constituía um alerta para a necessidade de conjugar esforços, de coordenar acções e de impulsionar a criatividade dos diversos agentes envolvidos, chamando todos a uma efectiva participação e mobilização. São estes os factores que agora se acredita terem sido devidamente considerados ao desenhar-se o programa “Viva a Primavera”.
Por tudo o que representa em termos de motivação, de reconhecimento e de incentivo aos “nossos” artistas e pessoas ligadas e interessadas nas diversas vertentes culturais, não será demais repetir as congratulações por tão válido e valioso projecto. Queiram e saibam os intervenientes – Associações Culturais, Agentes, Artistas e Programadores – dar adequada resposta a este “chamamento”. E Tavira viverá cultura!
Ressalvo ser meu entendimento que o processo que conduz à realização deste programa não assume, obviamente, qualquer intenção ou propósito de centralismo na programação ou de dirigismo das actividades culturais. Pelo contrário, penso que passam a ser proporcionadas melhores condições para que a arte e a cultura se desenvolvam no respeito pela criatividade dos artistas, pela sua independência e por um mais consistente apoio às associações e agentes, no respeito pela regra de ouro em que o grau de liberdade criativa dos intervenientes tem sempre a amplitude do infinito.
Aos serviços da autarquia caberá, acordada a programação, apoiar, ceder meios e eliminar dificuldades e promover uma eficaz e abrangente divulgação, aqui em estreita colaboração com todos os agentes envolvidos.