A recente notícia de que cerca de 70% da produção de vinhos do Algarve é vendida e consumida na própria região é, sem dúvida, um reflexo do encanto que o nosso terroir exerce sobre turistas e residentes estrangeiros. A aposta na qualidade e a valorização do que é autêntico têm sido a bandeira dos produtores algarvios, que viram a produção crescer 5% anualmente nos últimos anos e duplicar o número de produtores certificados na última década.
A região já tem 55 produtores certificados que, numa área de 1.400 hectares, produzem cerca de 1,7 milhões de litros de vinho, segundo números da Comissão Vitivinícola do Algarve.
No entanto, este cenário levanta questões sobre a sustentabilidade e o futuro da indústria vinícola algarvia. A forte dependência do mercado local e do canal Horeca, alimentado principalmente pelo turismo, pode representar um risco. Num mundo globalizado e sujeito a flutuações económicas e crises inesperadas, como a pandemia recente demonstrou, depender quase exclusivamente de um único mercado pode ser perigoso.
O vinho algarvio brilha no paladar de quem o prova, mas precisa de expandir as suas fronteiras
Além disso, a presença tímida dos vinhos algarvios no restante território nacional e nos mercados internacionais indica um potencial inexplorado. Com apenas 15% da produção destinada à exportação e 10% vendida no resto do país, há espaço para estratégias que ampliem a visibilidade e o reconhecimento dos nossos vinhos além-fronteiras. A ausência em grandes superfícies comerciais limita o acesso do consumidor nacional, que muitas vezes desconhece a qualidade dos néctares produzidos no Algarve.
Outro ponto a considerar é a presença significativa de produtores estrangeiros, que representam cerca de 40% do total. Embora a diversidade seja enriquecedora e traga novas técnicas e perspetivas, é fundamental garantir que os produtores locais não sejam relegados a segundo plano. Investir na formação, no apoio e na valorização dos viticultores algarvios é crucial para preservar a identidade e a tradição da nossa região.
É louvável que os produtores apostem na qualidade, mesmo que isso resulte em preços finais mais elevados. No entanto, é necessário encontrar um equilíbrio que torne os vinhos algarvios acessíveis a uma fatia maior da população, sem comprometer a excelência. Programas de promoção, participação em feiras nacionais e internacionais e parcerias com distribuidores podem ser caminhos para ampliar o mercado e diminuir a dependência do turismo.
Em suma, o vinho algarvio brilha no paladar de quem o prova, mas precisa de expandir as suas fronteiras. A riqueza do nosso terroir e a dedicação dos produtores merecem ser reconhecidas não só pelos visitantes que aqui chegam, mas também pelos próprios portugueses e apreciadores de vinho em todo o mundo. É tempo de erguer a taça e brindar a um futuro onde o vinho do Algarve seja celebrado em todas as mesas.
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