O ser humano vive por ciclos e cada ciclo apresenta novos desafios.
Em certo momento, a criança sai do colo da mãe e quer movimentar-se sozinha, até que se põe em pé e se auto desafia a andar, sente a necessidade de crescer, de mudar os seus esquemas internos. Cada uma segue o seu ritmo, tem os seus medos, mas é o desassossego da rotina que move a criança para uma nova fase da sua vida e é na conquista de novos saberes que vai crescendo e ganhando confiança e autoconhecimento para o seu futuro. Este é um processo, bem definido por Piaget, em que “o conhecimento é um processo e não um acumular de informação, é uma reorganização progressiva e uma construção individual” e assim, a criança vai-se adaptando ao meio, pelos processos de assimilação e acomodação.
Neste constante crescimento da existência, em qualquer idade, olha-se para a incerteza com alguma desconfiança, como se de “um medo” se tratasse, mas é esta inquietude que move as pessoas, na procura permanente da segurança, de novas oportunidades, de novas formas de estar.
Sofrer com mudanças é natural, é um mecanismo de defesa, mas, se se resiste, pode-se refrear o crescimento pessoal.
Mudar o sentir, mudar a perspectiva do que nos rodeia, é um processo de autoconhecimento desafiador e gratificante, que obriga os adultos, tal como a criança que aprende a andar, a mudar rotinas e a sentir que as coisas podem ter novos sentires.
Estamos numa época festiva, numa época de troca de afectos. Gosta-se de desejar algo de bom e de carinhoso ao outro. Deseja-se Paz, Alegria, Saúde.
O Amor e a Compaixão estão no ar e os sorrisos estão fáceis.
Há necessidade de se estar com quem se gosta, mas a incerteza instalou-se na vida de todos, como se dum vírus se tratasse.
Quantas consoadas não foram alteradas? Quantos jantares de Natal não ficaram reduzidos, inesperadamente, de 15 para 3 pessoas? Quantos não conseguiram estar com quem queriam? Quantos ficaram interditos de visitar quem mais amam?
Quantos não tiveram de fazer testes, à procura de um valor negativo, para estarem com quem amam ou para interditar esses mesmos encontros?
E esta incerteza Natalícia traz angústia e inquietude.
Mas, a bem da saúde mental, há que que combater o vírus da incerteza e tentar transformar este desassossego em novas oportunidades, em novas formas de lidar com a vida, em novas formas de crescer. É um desafio pessoal e único, para cada um, pois, cada um tem a sua própria história.
É uma questão difícil e é um problema transversal à maior parte das famílias e amigos.
Cada um tem de desenvolver algumas competências pessoais e sociais que ajudem a lidar com a mudança, como o autoconhecimento, a proactividade, a resiliência, a esperança, a curiosidade, a flexibilidade, a criatividade, a resolução de problemas, entre outros. É preciso estar-se preparado para este mundo em constante mudança e com oferta excessiva em instabilidade.
Há que apreciar o que a cada um foi permitido viver, com prazer, evitando a vitimização que não ajuda a dar saltos no crescimento.
Sugiro o repensar na forma de lidar com as novas situações que interferem nos hábitos dos afectos. Usufruir o que têm, centrando-se na parte positiva da vida, é um bom desafio.
Talvez seja um momento de alterar rotinas, de olhar para si, sem julgamentos, num exercício de quietude, descobrir novos caminhos, novas formas de se posicionar no mundo, de forma a conhecer-se melhor e a gostar mais de si.
Diz-se, frequentemente, “ano novo, vida nova”, mas todos sabemos que não é assim. Vamos todos continuar com a nossa vida. Mas talvez, cada um, possa fazer pequenas alterações na sua trajetória pessoal, uma sintonia mais pessoal, escolhendo aquilo a que tem de dar mais atenção e aquilo para que deve fazer algum exercício de desapego, escolher entre o importante e o prioritário e a perca de tempo.
Já pensou sobre essas coisas?
Imagine que vai fazer uma mala para 2022. Nessa mala tem de incluir o que mais importante é para a sua sobrevivência psicológica, para a sua saúde mental, para o seu equilíbrio pessoal, para o seu crescimento. O que pretende levar nessa sua bagagem? E o que gostaria de largar ou diminuir ou deixar de sentir?
Sugiro que, para além das pequenas decisões pessoais, mas com muito significado, escolha um conjunto de sentimentos e comportamentos que ajudem a lidar com a incerteza e com a inquietação e que tragam autoconfiança e reconhecimento.
Encha a mala de condimentos que deem valor à sua vida. É fundamental um necessaire de autocuidado físico, psicológico e social, uma bolsa de afeto e alegria, um pacote de resiliência e uma boa embalagem de empatia. Também é útil um pequeno caderno com lembretes de reforço positivo e dicas motivacionais.
Eu, pessoalmente, adoro a magia desta época, em que voam sorriso e frases boas. Adoro a magia do acreditar em que a paz e a bondade são possíveis. Adoro ver o Pai Natal e todas as crenças envolvidas. Adoro estar em família, que fisicamente longe está de coração próximo.
Mas também é uma época de dor por aqueles a quem não é permitido do todo ter ou ver a magia no ar.
Mas na vida há sempre dualidade e temos que viver com elas.
Se me leu, por favor, cuide da sua saúde mental e física, com empatia, um sorriso e muita resiliência e provoque a mudança e o bem estar em si.
Leia coisas que o ajudem a crescer. A página de Ordem dos Psicólogos tem muitas orientações. Sugiro este link: https://www.ordemdospsicologos.pt/ficheiros/documentos/incerteza_como_lidar_com_ela.pdf
*Delegação Regional Sul da Ordem dos Psicólogos Portugueses