A Casa Municipal da Juventude de Olhão, decidiu brindar os estudantes universitários da terra com um gesto que só pode ser descrito como incrível: a entrega gratuita do emblema da cidade para a capa académica. Eis o grande reconhecimento que o executivo camarário tem para com os jovens que saem da cidade para se formarem e que, muitas vezes, nunca mais regressam.
O que deveria ser um verdadeiro compromisso com a juventude universitária resume-se a um pedaço de tecido. Sim, porque os jovens não precisam de melhores oportunidades de emprego, nem de apoio financeiro para estudar, nem de iniciativas que incentivem o seu regresso e fixação na terra. Eles precisam, segundo a Câmara, de um emblema.
Mas vamos ser justos: este é um esforço que está ao nível das políticas que têm vindo a ser implementadas. Em vez de se apostar na criação de condições para que os jovens possam estudar e regressar, o executivo prefere alimentar um ciclo vicioso de emigração académica e profissional.
A indignação atinge o seu auge quando olhamos para as condições deploráveis que os estudantes universitários de Olhão enfrentam. Como é que é possível, em pleno século XXI, um município que se gaba de apoiar a juventude não tenha sequer previsto algo tão básico como um espaço coberto para proteger os seus estudantes do mau tempo, no terminal rodoviário, nas primeiras carreiras da manhã? Os jovens são literalmente deixados à sua sorte, molhados, desconfortáveis e desconsiderados.
E não para por aqui! O escândalo continua com o encerramento da biblioteca municipal aos sábados. Como é que é possível numa cidade que se diz preocupada com o futuro académico dos seus jovens, a principal infraestrutura pública para o estudo feche precisamente quando os estudantes mais precisam dela? Isto não é apenas um descuido, é um desprezo absoluto pelo esforço e dedicação daqueles que querem aprender e melhorar o seu futuro. A mensagem que a autarquia passa é clara: se quiserem estudar, desenrasquem-se. Se quiserem melhores condições, procurem-nas noutra cidade, porque aqui, em Olhão, não há lugar para quem quer crescer e evoluir.
Não há incentivos para o regresso, nem medidas concretas para integrar os jovens qualificados no mercado de trabalho local. A cidade continua a perder talento, ano após ano, e a resposta da autarquia é um emblema para a capa. Como pode um jovem sentir-se parte da sua terra quando a própria cidade lhe vira as costas? Sem oportunidades, sem perspectivas, sem qualquer reconhecimento concreto além de um pedaço de pano, os estudantes de Olhão crescem a saber que, para terem um futuro digno, terão de procurar longe. Olhão está a transformar-se numa cidade de despedidas, onde a juventude parte e não regressa porque sabe que nada mudou.
Onde estão os estágios municipais pagos? Onde está o apoio ao alojamento para estudantes deslocados? Tudo isto são questões que ficam sem resposta porque o que importa é distribuir símbolos vazios em vez de soluções reais.
E como se esta realidade já não fosse suficientemente irónica, o atual presidente da Câmara de Olhão, que nunca demonstrou interesse real pelos universitários do concelho, agora candidata-se a líder da cidade universitária do Algarve (Faro)? Como pode alguém que nunca resolveu os problemas dos estudantes da sua própria terra, que os deixou ao abandono e sem condições dignas, querer colaborar com a maior comunidade académica da região? O que pode oferecer além de mais símbolos vazios e promessas ocas? Esta candidatura não passa de um oportunismo político descarado, uma tentativa de projetar ambições pessoais.
A entrega de emblemas é só mais um episódio na novela da política de aparências que rege Olhão. A juventude universitária da cidade precisa de muito mais do que gestos simbólicos. Precisa de um compromisso real. Até lá, continuaremos a assistir ao afastamento progressivo dos nossos jovens, que aprendem cedo que Olhão, para eles, é apenas o símbolo num pedaço de pano – e pouco mais.
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