Encarando outra crise económica, algumas realidades parecem estar a repetir-se. À medida que a recuperação económica começa a dar os primeiros passinhos, o conhecimento adquirido durante a crise de 2008 apresenta-se como uma ferramenta preciosa. Ao longo dos últimos meses, as taxas de desemprego cresceram, e sectores como o turismo, o comércio e retalho, bem como o sector artístico e cultural sofreram (e sofrem) com severidade. Estes indicadores são particularmente relevantes para jovens trabalhadores/as, uma vez que estes sectores em particular absorvem a larga maioria da força de trabalho com menos de 30 anos europeia. O crescimento do desemprego jovem é um sinal de alarme major, especialmente porque a UE tem estado a lidar com uma grave crise de desemprego jovem à cerca de uma década.
Para descrever o grupo de 14 milhões de jovens Europeus, identificados ao longo dos últimos doze anos, um novo termo foi inventado: NEET, em português os “Nem-Nem”. Traduzindo, o significado do acrónimo é “Nem empregado, nem estudante, nem em formação”… Também significa não envolvido nem participante pleno da vida social e da democracia.
Se a crise do passado nos ensina… Quais são as lições do passado?
De acordo com o estudo publicado pelo Eurofound, hoje existem, 14.2% the europeus com idades compreendidas entre os 15-29 são considerados NEETs. Para a impressionante percentagem de jovens afastados de uma vida de trabalho plena e escolhida em liberdade, esta realidade tem um elevado custo. A começar pelo facto de que tantos NEETs custam 142 000 milhões de euros por ano à Europa (consulte o estudo aqui). Ao trabalhar no projecto “Empowering Youth for Decent Work” com a Out Of The Box International em 2018, a investigação demonstrou que o investimento total de 8.8 bilhões de euros dos esquemas da Garantia Jovem (YG) e dos fundos da Iniciativa Emprego Jovem (YEI) apresentaram resultados positivos para cerca de uns meros 2 milhões dos 14 milhões de jovens NEETs ao longo de uma década inteira.
É por este motivo que acredito profundamente que se trata de um problema de mentalidade: à medida que a UE ia recuperando da última crise económica, os jovens Europeus continuaram a ser os primeiros a ficar de fora. Hoje, e olhando para trás, este fenómeno mais parece ser crónico do que uma reacção pontual a uma crise.
Enquanto toda a Europa começa a trabalhar no Next Generation EU, apresentado pela Comissão Europeia, de olhos postos no futuro, a noção de Trabalho Digno, tal como está descrito na Agenda 2030 no ODS8 (Trabalho Digno e Crescimento Económico) não deve cair no esquecimento. Vamos lembrar.
À medida que os Estados Membros puseram em prática medidas para mitigar a crise de desemprego jovem da crise de 2008, a definição da UE de Trabalho Digno não foi incluída nem nos critérios nem nos métodos. De forma geral, naquela altura os EMs disponibilizaram programas aos jovens europeus desempregados que se traduziram em emprego temporário, sazonal, inseguro, mal pago, e abaixo das suas qualificações.
Os empregadores encaram agora uma geração de mão de obra que, à medida que foram crescendo, não construíram uma carreira, e consequentemente não aprimoraram competências nem acrescentaram valor enquanto profissionais. Ao invés, a força de trabalho resultante apresenta-se como uma manta de retalhos da colecção de experiências profissionais pobres que foram acumulando, uma geração descrente e pouco motivada.
A Europa está no início de um caminho para a recuperação de uma nova e cruel crise. É tempo de fazer escolhas difíceis. Não escolher intervir no emprego jovem enquanto problema de mentalidade crónico e tendo em conta a noção de Trabalho Digno, significa vir a lidar com várias gerações “perdidas e marcadas” de Europeus (conforme alertou o Conselho Europeu em 2013) daqui a dez anos. Eis a oportunidade para investir e intervir, já que fazer o suficiente não é sustentável.
Devemos fazer melhor. Vamos fazer melhor.
Versão em português do artigo “Trabalho Digno no futuro” publicado no dia 10/10/2020 em http://otbeurope.com/decent-work-in-the-future/.
* Como educadora e instrutora freelancer, trabalhou durante a última década em organizações do setor privado em projetos de recursos humanos, bem como na sociedade civil e no setor público gerenciando projetos que promovam a paz e a igualdade, capacitem e motivem pessoas de todas as idades dentro de um contexto multicultural. Larga experiência em questões de violência de gênero e igualdade de gênero, tanto na intervenção social coletiva, quanto na intervenção individual por meio de metodologias de apoio às vítimas.
OTB Pool of Experts
http://outofthebox-international.org/
Informação Europe Direct Algarve
Garantia para a juventude – o que é?
O desemprego juvenil continua a ser uma preocupação durante a crise do coronavírus. Antes da pandemia, o desemprego dos jovens (15-24 anos) na UE era de 14,9%, abaixo do seu pico de 24,4% em 2013. Em agosto de 2020, esse valor subiu para 17,6% e prevê-se que continue a aumentar. Segundo as previsões económicas do verão de 2020 da Comissão Europeia, a economia da área do euro registará uma contração de 8,3 % em 2020, a recessão mais profunda da sua história.
Para compensar o impacto sobre os jovens, a Comissão Europeia propôs em julho de 2020: o “Apoio ao emprego dos jovens – Uma ponte para o emprego da próxima geração”. A Garantia para a Juventude é uma iniciativa da UE para ajudar os jovens a encontrar trabalho sobretudo durante a crise do coronavírus. O pacote de Apoio ao emprego dos jovens tem quatro vertentes:
1. um reforço da Garantia para a Juventude
2. ensino e formação profissionais orientados para o futuro
3. um novo impulso para a aprendizagem
4. novas medidas de apoio ao emprego dos jovens
+ informação aqui
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