Há exatamente 25 anos, o povo de Timor-Leste fez uma escolha histórica que mudou para sempre o destino do país. O referendo de 30 de agosto de 1999, que culminou na independência de Timor-Leste, foi um marco não só para o pequeno país do sudeste asiático, mas também para a comunidade internacional, que viu nesse momento a vitória da autodeterminação e da justiça. Agora, um quarto de século depois, é tempo de refletir sobre os avanços e os desafios que ainda persistem.
António Guterres, o atual secretário-geral das Nações Unidas, que foi esta sexta-feira agraciado com a nacionalidade timorense, é um símbolo do apoio internacional que Timor-Leste sempre teve. Guterres desempenhou um papel crucial durante a transição do país para a independência, tanto como primeiro-ministro de Portugal como em suas funções nas Nações Unidas. A sua condecoração em Timor-Leste não é apenas um reconhecimento do seu passado, mas um sinal da profunda ligação entre o destino deste jovem país e a comunidade global.
É necessário que o espírito de luta e determinação, que impulsionou a independência de Timor-Leste, seja transmitido às novas gerações
Contudo, o caminho para a plena realização das aspirações de independência tem sido difícil. A sociedade civil timorense, representada pelo Fórum das Organizações Não-Governamentais de Timor-Leste (Fongtil), sublinha que, apesar dos progressos feitos, os desafios são imensos. Pobreza, desnutrição, dependência económica do petróleo e falta de serviços públicos de qualidade continuam a ser questões urgentes que necessitam de soluções concretas. Além disso, há uma crescente preocupação com a tentativa de limitar as liberdades fundamentais, uma lembrança de que a luta pela liberdade não termina com a conquista da independência.
A presidente do parlamento timorense, Fernanda Lay, também destacou a importância de não subestimar os desafios atuais. A pobreza, o desemprego e as fragilidades no setor da saúde e educação são barreiras significativas que o país ainda enfrenta. Estes problemas são exacerbados pela dependência de recursos naturais, como o petróleo, que embora financiem o orçamento do Estado, não geram empregos suficientes para a população jovem do país.
O ex-chefe da missão das Nações Unidas em Timor-Leste, Ian Martin, ecoou estas preocupações, apontando que o verdadeiro desafio para o futuro de Timor-Leste reside em garantir serviços básicos e oportunidades de emprego para a sua população predominantemente jovem. Ao mesmo tempo, é necessário que o espírito de luta e determinação, que impulsionou a independência do país, seja transmitido às novas gerações.
Apesar das dificuldades, Timor-Leste tem razões para celebrar. O país conseguiu estabelecer-se como a democracia mais sólida do sudeste asiático, realizando eleições livres e mantendo uma sociedade civil ativa e uma liberdade de expressão robusta. No entanto, como António Guterres bem apontou, o mundo enfrenta hoje uma erosão da confiança global, e países como Timor-Leste, que sentem os impactos das alterações climáticas, precisam de mais apoio internacional para garantir um futuro sustentável e pacífico.
As celebrações dos 25 anos de independência de Timor-Leste são uma oportunidade para honrar o passado e os sacrifícios feitos, mas também um momento crucial para olhar para o futuro. O caminho para o desenvolvimento sustentável e equitativo é longo e cheio de desafios, mas com o apoio contínuo da comunidade internacional e a resiliência do seu povo, Timor-Leste pode continuar a avançar em direção a um futuro mais próspero e justo.
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