Siné foi um dos homens mais inspiradores e preciosos que conheci nos meus tempos de Paris. Veio no mesmo avião do meu regresso, a 30 de Abril de 1974, para a celebração da Revolução dos Cravos, Siné exultava e fez um desenho icónico publicado então no semanário Sempre Fixe.
Anos depois, participou numa exposição colectiva em Rio Maior e, há uma dezena de anos, veio com a mulher a minha casa para alguns dias de férias. Era gentil, delicado e leal para com os amigos, e de raiva exclusiva para o que achava odioso, o fanatismo, a opressão, as ditaduras, mais os políticos corruptos, os militares, os juízes e os padres.
Foi o mais celebrado dos desenhadores satíricos de sempre em França, odiado e amado em alto grau desde os anos 1950 no L’Express e no Siné-Massacre, até ao Charlie e Siné-Mensuel dos nossos dias mais recentes.
Bon vivant, apreciava os vinhos, as mulheres, a amizade, também o tabaco. Siné deixa uma obra imensa, um retrato forte da nossa diversa comédia humana, na mão inspirada de um rebelde que era e não se rendia.
Siné, morto em combate em plena glória, daqui te saúda un vieux copain!