O Sahel ou Sael (do árabe ساحل, translit. sahil: ‘borda’ ou ‘margem’) é uma faixa de 500 a 700 km de largura, em média, e 5 400 km de extensão, entre o deserto do Saara, ao norte, e a savana do Sudão, ao sul; e entre o oceano Atlântico, a oeste, e ao mar Vermelho, a leste.
O Sahel atravessa os seguintes países (de oeste para leste): Gâmbia, Senegal, a parte sul da Mauritânia, o centro do Mali, norte do Burquina Fasso, a parte sul da Argélia, Níger, a parte norte da Nigéria e dos Camarões, a parte central do Chade, centro e sul do Sudão, o norte do Sudão do Sul e a Eritreia. Eventualmente, são incluídos também a Etiópia, o Djibuti e a Somália.[6]
Constitui uma zona de transição entre a ecozona paleoártica e a ecozona afro-tropical, ou seja, entre a aridez do Saara e a fertilidade da savana sudanesa (no sentido norte-sul).[7]
Trata-se de uma região fitogeográfica dominada por vegetação de estepes, que recebe uma precipitação entre 150 e 300 mm por ano. Pode-se, portanto pensar que a agricultura no Sahel está condenada ao fracasso. No entanto, a região é protegida por um cinturão verde constituído por uma flora altamente diversificada, que a protege dos ventos do Saara. Por outro lado, o Sahel tem sido atingido por longos períodos de seca. Entre 1968-1974, a prolongada seca levou a uma situação de fome nos países da região, o que motivou a fundação do Fundo Internacional de Desenvolvimento Agrícola, uma agência especializada das Nações Unidas.
Por vezes, o termo ‘Sahel’ designa os países da África ocidental, para os quais existe um complexo sistema de estudos da precipitação.

Ao longo da história da África, o Sahel assistiu à sucessão de alguns dos mais avançados reinos africanos, que beneficiaram do comércio através do deserto, conhecidos como reinos sahelianos.
Desde 2020, esta região testemunhou mais de oito golpes ou tentativas de golpe, de Estado principalmente em todo a faixa do Sahel – no Mali, Burkina Faso, Niger, Chade, Sudão e Guiné.
Seis países, uma faixa, instabilidade sem fim. À primeira vista, parece uma crise de segurança. Mas, por baixo, é uma história económica e de governança.
Alguns factos:
▪ O Sahel abriga mais de 150 milhões de pessoas, mas contribui com menos de 3% para o PIB da África.
▪ Apesar das vastas reservas – ouro do Mali, urânio do Níger, petróleo do Chade – a maioria dos países está entre os 20 piores do Índice de Desenvolvimento Humano das Nações Unidas.
▪ Mais da metade da população vive abaixo da linha pobreza, enquanto o desemprego jovem gira em torno de 30 a 40% em muitas regiões do Sahel.
▪ Enquanto isso, mais de 20.000 tropas estrangeiras (principalmente ocidentais) operaram na região na última década* – e ainda assim, a insegurança cresceu. As forças militares internacionais no Sahel, como a operação Barkhane da França, a missão de paz da ONU (Minusma) e a cooperação militar com os EUA, foram drasticamente reduzidas e encerradas em muitos países, especialmente no Mali, Níger e Burquina Faso. A retirada ou expulsão destas forças foi motivada por tensões políticas, desconfiança em relação à influência ocidental e alegações de fracasso no combate ao terrorismo, levando os países do Sahel a buscarem novas parcerias, como com a Rússia (através de grupos como o Africa Corps) e a China.
Resumindo, os recursos são muitos, os resultados são escassos.
Cada golpe de Estado – seja em Niamey, Bamako ou Ouagadougou – não é apenas uma busca pelo poder; é uma revolta contra os sistemas que falharam no desenvolvimento, no crescimento e na democracia.
Muitos desses novos regimes militares usam a linguagem da “soberania” e do “anti-imperialismo”, rejeitando bases estrangeiras e condicionalidades de ajuda.
Mas esse desafio vem com risco – isolamento económico, sanções e fuga de capitais.
Ainda assim, não se pode ignorar o simbolismo:
Em todo o Sahel, uma população jovem e inquieta está a questionar os modelos pós-coloniais, a influência ocidental e décadas de promessas quebradas. Então, esses golpes de Estado são um colapso – ou um reset? Esta é a questão que define a próxima década da África.
Porque se essa “Faixa do Golpe” se transformar numa identidade política, não mudará apenas quem governa – poderá redesenhar as alianças da África, mudando a lealdade de Paris para Moscou, de Washington para Pequim e da dependência para o desafio.
A história do Sahel não é apenas sobre quem detém o poder – é sobre quem define o progresso.
Edição e adaptação de João Palmeiro com Dishant Shah.

*Forças e operações anteriores
- Força G5 Sahel: Um grupo formado por países da região como Mauritânia, Chade, Burquina Faso, Mali e Níger, criado para combater o extremismo islâmico. O grupo foi dissolvido ou está em processo de dissolução, pois vários países se retiraram alegando ineficácia e servir aos interesses estrangeiros, conforme relatado pelo DW.
- Operação Barkhane (França): Uma operação militar francesa contra grupos militantes islâmicos que operava em vários países do Sahel. A operação foi criticada pelo povo por não conseguir controlar o terrorismo e, em algumas áreas, foi associada a práticas coloniais. As bases francesas e a sua influência militar foram desmanteladas, conforme mencionado no Observatório Militar da Praia Vermelha.
- Minusma (ONU): A missão de paz da ONU no Mali foi uma das mais caras e mortíferas da história da organização. A retirada da Minusma do Mali criou um vácuo que foi aproveitado por outros grupos militantes.
Novas parcerias
- Rússia: Grupos como o Africa Corps, formado após a morte de Yevgeny Prigozhin, estabeleceram laços próximos com alguns governos do Sahel. A Rússia demonstra interesse na região por razões geopolíticas e de segurança, pressionando outros países europeus e a Europa como um todo.
- China: Interessada nos recursos naturais da região, a China investiu significativamente em projetos de infraestrutura e exploração de minerais, buscando maior influência econômica e política.
O cenário atual
- Instabilidade: A retirada das forças internacionais tem criado um vácuo que pode levar ao aumento da violência e instabilidade na região, com o risco de aumentar a influência de grupos militantes.
- Ameaça jihadista: A ameaça jihadista no Sahel é complexa e não pode ser combatida apenas com abordagens nacionais. A abordagem internacional precisa ser adaptável e mais eficaz para lidar com as ameaças em constante evolução, de acordo com o Africa Defense Forum.
- Como Sahel, no norte da África, virou epicentro global de -.13/03/2025 — só que com mais cidadãos em armas cresceram ainda mais os conflitos e também as disputas entre o Estado Islâmico…
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