Há um eco que ressoa pelos campos desertos, nas cidades solitárias, nas vidas cronometradas pela pressa e pela eficiência. Um eco que nos lembra de um tempo que passou, mas que continua a pulsar no coração daqueles que, como eu, se recusam a esquecer. É a nostalgia, uma saudade não apenas do que já vivemos, mas também do que nunca tivemos a oportunidade de viver.
As palavras que ecoam como um sino tocando o dobre de finados recordam-nos que os espelhos da nossa civilização estão a rachar. No mundo moderno, onde a tecnologia avança a uma velocidade estonteante, perdemos o contacto com as nossas raízes. As florestas naturais que antes se erguiam majestosas agora são abatidas para dar lugar ao progresso. Os trilhos do comboio que outrora cortavam as montanhas estão agora enferrujados e esquecidos. O passado, que deveria ser a base sólida para o futuro, é agora uma sombra, uma recordação triste de uma era que se esvai.
A nostalgia que sentimos não é apenas pela beleza natural que desaparece, mas também pela simplicidade das emoções humanas. Hoje, vivemos num mundo onde o amor parece ter-se tornado um conceito de livros antigos, algo que se lê, mas que raramente se experimenta na sua pureza original. Os duelos foram substituídos por guerras impessoais, onde a coragem perdeu o seu brilho e os homens, em vez de serem heróis, tornaram-se autómatos, prisioneiros de um sistema que desumaniza.
Vivemos tempos onde o tempo, paradoxalmente, parece já não existir. As horas são medidas, contadas, usadas de forma tão calculada que já não nos resta tempo para viver de verdade. Esquecemos o ritmo das estações, o sabor do silêncio, o contacto com a natureza. Preocupamo-nos mais com os satélites e as novas fronteiras tecnológicas do que com a saúde dos nossos rios, das nossas florestas, dos nossos próprios corações.
Este é um apelo à reflexão. Um pedido para que, no meio da correria diária, encontremos um momento para parar, para respirar, para sentir. Que possamos relembrar que somos humanos, feitos de carne, osso e emoção, e não apenas peças de uma máquina gigante que nunca para. Que possamos redescobrir o valor das pequenas coisas: o calor do sol, o riso de uma criança, o voo de uma abelha. Que possamos, de uma vez por todas, quebrar os cronómetros e viver ao ritmo que a vida nos propõe.
A nostalgia, essa memória seletiva que nos faz suspirar pelo que se foi, também nos impulsiona a imaginar um futuro diferente. Um futuro onde possamos reconciliar-nos com a natureza, com os outros e, acima de tudo, connosco mesmos. Onde possamos viver em harmonia, como guardiões deste planeta que, apesar de tudo, ainda nos acolhe.
Neste momento de introspeção, deixo uma mensagem para aqueles que, como eu, sentem essa saudade: que possamos usar esta nostalgia não como uma corrente que nos prende ao passado, mas como um trampolim para construir um futuro melhor, mais humano, mais conectado com o que realmente importa. Que possamos, finalmente, viver e não apenas existir.
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