Mais importante do que recitar os números do desemprego é interpretar esses números em conjunto com muitas outras variáveis e fazer uma ‘radiografia’ das suas causas para programarmos o futuro.
Segundo a ‘Informação Mensal do Mercado de Emprego’ do IEFP, referente a outubro-2021, podemos inferir algumas causas do desemprego em Portugal.
O desemprego é transversal aos diferentes graus de escolaridade, mas atinge mais acentuadamente as mulheres, o que mostra que há alguma coisa a fazer nesta área. Não faz sentido, no século XXI, existirem mais de setenta mil desempregados com escolaridade inferior ao quinto ano e analfabetos.
Um país pequeno que se dá ao “luxo” de ter dezenas de milhar de licenciados desempregados só pode ser um país pobre. Pobre na determinação de recursos técnicos necessários para planificação de cursos superiores e respectivo contingente de alunos sem deixar ninguém de fora. Pobre em falta de apoios reais aos recém-licenciados para abrirem as suas próprias empresas. Pobre em iniciativa empresarial. Pobre na mentalidade de muitos empresários que pensam que pagar funções técnicas a licenciados ao seu serviço é um desperdício financeiro. Pobre porque tem políticos que se satisfazem por o desemprego estar baixo sem atenderem ao facto de ser mão de obra pouco ou nada qualificada e com ordenados de miséria.
É um país pobre na Justiça, mas é rico em incompetência e corrupção.
Este país tem tudo para ser viável, excepto a classe política.
Acabaram com as escolas técnicas que formavam técnicos intermédios e criaram sistemas de formação profissional a fingir só para arrecadarem os fundos comunitários. Os alunos quando acabam o ensino secundário, são homens e mulheres com pelo menos dezoito anos, mas não sabem fazer nada, apenas estão direcionados para a Universidade, contudo nem todos têm essa vocação ou aptidão. Não há mecânicos, pintores de construção civil, eletricistas, vendedores, contabilistas ou canalizadores qualificados. Cento e setenta e cinco mil desempregados de longa duração deveria fazer pensar os responsáveis pela condução do país.
O investimento estrangeiro procura-nos pelos baixos salários, os quais motivam a saída de talentos para o estrangeiro onde são reconhecidas as suas competências e usufruem de uma boa qualidade vida. As empresas portuguesas que apostaram nas qualificações técnicas dos seus trabalhadores e que praticam salários atractivos, são hoje empresas de topo a nível internacional. Na maioria das empresas a motivação dos trabalhadores é vista como um custo e não como um investimento. O peso das remunerações em relação ao valor da produção é dos mais baixos da EU, mesmo assim as confederações patronais exigem apoios em contrapartida do aumento do salário mínimo, são as empresas subsídio-dependentes já habituadas a isso há décadas.
A grande consequência é o atraso económico e social sistemático e crónico do país. Os países do leste europeu que estavam atrás de nós já nos ultrapassaram, a população portuguesa continua a emigrar, com a diferença que agora são os mais qualificados que emigram, porque não têm trabalho e quando têm é mal pago e sem perspectivas de terem uma boa qualidade de vida.
É imperioso tomar medidas políticas no sentido de inverter esta situação de atraso económico e social progressivo. A competitividade mundial não se compadece com a falta de qualificação dos recursos humanos em Portugal.
Temos que ser mais exigentes com aqueles que ganham bem para governarem o país.