Os miomas uterinos são os tumores pélvicos mais frequentes, afectando 60-70% da população feminina em geral e 25-40% das mulheres em idade reprodutiva.
São tumores benignos que se desenvolvem a partir da camada muscular do útero (miométrio) e conforme a sua localização classificam-se em submucosos, intramurais e subserosos.
A sua etiologia é desconhecida, mas há factores que pode influenciar o seu crescimento: genéticos, hormonais, vasculares e ambienciais.
A sua incidência aumenta a partir dos 35 anos, altura em que na sociedade actual muitas mulheres programam a primeira gravidez, devido ao facto de atingirem a sua estabilidade profissional e familiar tardiamente.
As mulheres de raça negra têm um risco acrescido em relação às caucasianas (10 a 20%) e as que apresentam excesso de peso também têm maior probabilidade de desenvolver este tipo de tumores.
A sintomatologia mais frequente inclui a hemorragia, a dor e os problemas reprodutivos.
Dependendo do tamanho e localização, os miomas podem interferir com a capacidade reprodutiva da mulher, condicionando hemorragias na gravidez, abortos de repetição e problemas no parto.
Os miomas submucosos e os intramurais mais volumosos parecem ser responsáveis por estas alterações, comprovando-se em vários estudos realizados que após a sua remoção as taxas de aborto diminuem e as taxas de gravidez aumentam de forma significativa.
Cabe ao ginecologista informar estas mulheres que, devido aos avanços da tecnologia e investigação é possível tratar os miomas conservando o útero.
O “gold standard” no tratamento dos miomas submucosos é a miomectomia histeroscópica, técnica de videocirurgia considerada um dos maiores avanços no tratamento deste tipo de patologia. Pode ser realizada em ambulatório, com rápida recuperação da doente e baixa morbilidade, sendo raras as complicações desde que realizada por um cirurgião experiente nesta técnica cirúrgica.
Para o tratamento dos miomas intramurais (e subserosos) a técnica de eleição será a miomectomia laparoscópica, reservando-se a clássica via aberta (laparotomia) para casos muito graves com miomas muito volumosos e/ou em grande número.
Consideradas técnicas minimamente invasivas implicam uma diminuição da dor no pós-operatório, menor tempo de internamento/convalescença e melhores resultados cosméticos.
Como alternativa ao tratamento cirúrgico surgiu a embolização da artéria uterina, técnica baseada na interferência com a vascularização dos miomas através da obliteração da artéria uterina.
Porém, esta técnica apenas permite uma redução parcial dos miomas, pode interferir com a vascularização do ovário, provocando uma menopausa precoce, não é isenta de riscos como a necrose uterina e a doença inflamatória pélvica. Os resultados parecem-nos insuficientes em relação a fertilidade futura e complicações na gravidez.
Até ao momento, as únicas opções dadas às mulheres para tratar esta doença implicavam cirurgia ou técnicas invasivas.
Isto porque, as opções de tratamento médico dos miomas, particularmente, o dispositivo intra-uterino com levonorgestrel e as pílulas contraceptivas, demonstraram algum benefício no controlo das hemorragias, sem, contudo, revelarem uma eficácia significativa na redução destes tumores uterinos.
Contudo, dispomos actualmente de um novo medicamento de administração oral (acetato de ulipristal) que, para além de conseguir o controlo das hemorragias e correcção da anemia, induz uma redução de volume dos miomas, tendo um efeito prolongado, mesmo após a paragem do tratamento. Os efeitos adversos são raros.
Este tratamento inovador pode implicar uma solução na vida destas mulheres.
Nos casos em que houve necessidade de se recorrer à cirurgia, a redução de volume dos miomas permite o recurso às técnicas minimamente invasivas já referidas, evitando a remoção do útero (histerectomia).
No decurso desta terapêutica tem-se vindo a verificar que algumas mulheres ficam assintomáticas e não necessitam de cirurgia, sobretudo as que se encontram perto da menopausa.
Também em casos graves de múltiplos miomas em mulheres que desejam engravidar, esta alternativa terapêutica deve ser considerada, sobretudo quando a cirurgia pode implicar mais riscos que benefícios.
Já se confirmou ser uma terapêutica eficaz na preparação da doente para a cirurgia e os estudos indicam resultados promissores no sentido de ser possível adiar ou evitar essa mesma cirurgia.
Tendo em consideração que, nem todos os miomas necessitam terapêutica, cabe ao ginecologista decidir quais as situações em que este medicamento está indicado.
Este e outros temas como, por exemplo, as lesões durante o exercício físico, as patologias prostáticas, o cancro do pulmão e a qualidade no fim de vida são alguns dos temas que vão estar em destaque no 3º Congresso Internacional Lusíadas Saúde que decorre no dia 5 de Novembro, no Centro de Congressos de Lisboa.
* Responsável do Centro Especializado em Endometriose do Hospital Lusíadas – Lisboa