Após uma tese de Mestrado sobre voto estratégico (cujo trabalho foi pioneiro a nível mundial) e um estudo sobre “eleitores fantasma” (que teve enorme impacto na comunicação social portuguesa e estrangeira), fui convidado por diversos órgãos de comunicação social, sobretudo televisões, para falar sobre o meu trabalho. Rapidamente comecei a ser convidado para o comentário político puro e duro. Senti algum deslumbramento na altura, cometi erros, mas sempre procurei ser sério e isento na minha opinião. Fiz parte dos “1%” de comentadores que criticavam José Sócrates e alertavam de que era um péssimo governante, vendedor de falsidades, numa fase em que ele era “o maior” e adorado por tudo o que é comentador e jornalista. Infelizmente, vivemos hoje uma situação semelhante com António Costa e os 3 partidos de esquerda e extrema-esquerda que apoiam o Governo. Eles são bons e tudo o resto é mau para “99%” dos jornalistas e comentadores, os quais têm o dever e a obrigação de ser sérios, isentos e profissionais mas, lamentavelmente, não o são. E porquê? Os seus empregos e avenças dependem disso? É porque é fácil estar do mesmo lado daquilo que é a propaganda dominante? Defendem os seus partidos preferidos? Qual a razão? Em parte, foi esta uma das razões que me levou a afastar do comentário político. Para sustentar as minhas afirmações, vamos aos factos pois estes são sempre melhores que meras opiniões:
A esquerda sempre teve necessidade de ter um fascista de serviço. Já foi o CDS-PP, agora é o Chega e André Ventura, apelidado de Populista. Entre diversas formas de o definir, populismo é por exemplo “um termo utilizado na Ciência Política para explicar práticas associadas a governantes da América Latina durante boa parte do século XX”. Isto é, um “conceito que caracteriza o modo como um político usa estratégias e recursos que têm como objectivo agradar e obter o apoio e a confiança da população através de um discurso que é agradável a todos, no fundo sem desagradar a ninguém”. Ora quem na sociedade portuguesa se encaixa mais neste perfil? Diria que o Presidente da República surge em 1º lugar, seguido do actual Primeiro-Ministro e da líder do BE, que dizem tudo e o seu contrário para agradar aos eleitores. Não vejo André Ventura fazer isto, como também não o vejo despir-se e ir a banhos para a comunicação social filmar e divulgar, ou tirar fotografias a toda a hora com tudo e todos, ou António Costa com a questão da Galp e da refinaria de Matosinhos ou como a líder do BE com as IPSS (que tanto abomina e que quer exterminar) que as critica ao mesmo tempo que as defende quando lhe dá jeito atacar o Governo. Então, pergunto, por que razão há esta desonestidade de jornalistas e comentadores?
BE e PCP são de extrema-esquerda e o Chega não é de extrema-direita (validado por investigadores e cientistas políticos). Então, por que razão jornalistas e comentadores abominam o Chega, dizendo que é um partido não democrático e de extrema-direita, e tratam como partidos democráticos e legitimam partidos “não democráticos” e de extrema-esquerda como o BE e o PCP? Por que razão a autoridade para a comunicação social não intervém perante manipulação e mentiras constantes? Quanto ao facto do Chega ser um partido não democrático, o Tribunal Constitucional já se pronunciou e se assim fosse o Chega já não existia. Alguém por acaso já ouviu André Ventura elogiar ou legitimar governos de países onde vigoram ditaduras, onde pessoas são presas e mortas apenas porque criticam os regimes dos seus países tal como BE e PCP ao defenderem países como a Coreia do Norte? Ou quando gritam nas ruas votos de morte ao Presidente de um país irmão como o Brasil? Ou quando defendem regimes não democráticos socialistas/comunistas como a Venezuela e Cuba? Ou regimes e políticas que exterminaram milhões de pessoas? Onde está a isenção e a coerência de tais jornalistas e comentadores?
Mamadou Ba tem posições públicas que cabem na definição de um racista. É inacreditável como uma pessoa que promove o racismo está à frente de uma associação supostamente anti-racista e ainda recebe convites do Primeiro-Ministro para fazer parte de um grupo de trabalho contra o racismo. Já André Ventura não me parece racista, mais que não seja pelo simples facto de ter amigos e dirigentes partidários de raça negra na sua equipa (algo que um racista jamais faria). É certo que tem uma espécie de “fixação” com a comunidade cigana mas daí a ser racista vai uma enorme distância. Mais uma vez tudo é distorcido pela maioria dos órgãos de comunicação social.
Nas entrevistas, os jornalistas fazem perguntas incómodas e apontam incongruências no discurso a André Ventura (sobretudo a este) e a outros líderes de partidos de direita. Aliás, há 3 décadas que assim é: aos governos de esquerda tudo se perdoa; o escrutínio aos governos do centro-direita é enorme bem como a crítica fácil. No entanto, não procedem de igual forma com os líderes políticos da esquerda. Porquê? Jornalistas contribuem para a discussão de “não assuntos” como o destaque que foi dado à questão da prisão perpétua, em que de forma oportunista o Primeiro-Ministro aproveitou para fazer um vídeo que rapidamente foi colocado a correr nos órgãos de comunicação social, os quais lhe deram demasiado destaque, contribuindo assim para dar tempo de antena extra ao PS numa fase de pré-campanha (o que não devia acontecer, favorecendo, assim, o PS). Mas, mais grave ainda, é o Primeiro-Ministro ser convidado para dar 4 pseudo-entrevistas em talk shows da RTP, SIC e TVI numa fase de pré-campanha eleitoral a 3 semanas das eleições naquilo que considero um escandaloso favorecimento ao candidato do PS e actual Primeiro-Ministro (algo verdadeiramente ilustrativo daquilo que se passa numa qualquer ditadura). O BE tem candidatos condenados por terrorismo (das ex FP25 que roubaram e mataram pessoas) e a comunicação social questiona Rui Rio sobre a prisão perpétua (que se percebeu não é defensor) e André Ventura porque um seu dirigente disse um disparate qualquer, não fazendo o mesmo com os disparates e a demagogia dos partidos de esquerda. Há inclusive jornalistas a apelar directamente ao não voto no Chega. Ventura é acusado de ter um discurso fácil e demagogo; e os líderes da esquerda não têm? O Primeiro-Ministro não é demagogo quando fala da semana de trabalho de 4 dias? Ou quando afirma que virou a página da austeridade em 2015, quando na realidade é desmentido pelos números do INE e EUROSTAT que demonstram que durante o seu governo existiram as maiores cargas fiscais de sempre e o menor investimento público de sempre, inclusive comparando com aquele efectuado no tempo da Troika? Eu poderia dar mais exemplos mas o espaço é curto.
Por fim, como estamos em mês de eleições legislativas, tenho assistido aos debates políticos. É com perplexidade que vejo a necessidade da esmagadora maioria de jornalistas, politólogos e tudólogos (para quem não sabe são pessoas que comentam política, desporto e tudo o que calha) dizerem que Ventura perde os debates e que os outros candidatos é que ganham (sobretudo se são de esquerda). A um jornalista ou comentador aquilo que se pede é isenção, profissionalismo e seriedade. E não é isso que vejo, pelo contrário, o que vejo é que não conseguem despir a camisola da preferência política e, independentemente da realidade do que se assiste, Ventura perde sempre. Se os debates fossem um jogo de futebol até se podia dizer que uma equipa jogou melhor e perdeu, mas não é o caso. Na minha opinião, Ventura ganhou os debates todos (com excepção do debate com Rui Tavares que diria deu um empate) e deixou imensamente nervosos, atrapalhados e sem argumentos os seus opositores (sobretudo a líder do BE). Os debates são muito pobres em ideias e propostas para o país e demasiado curtos. Por outro lado e em contraposição, há programas sobre futebol que ocupam horas diárias de espaço televisivo ou, pior, os comentários dos debates, que duram muito mais que os próprios debates, como se quisessem poupar a má governação e o escrutínio dos partidos de esquerda e tentar orientar os eleitores a votar na esquerda. Até os intervalos, com demasiados anúncios, demoram quase o tempo do debate, quando está em causa o acto de maior importância para um país – a eleição dos seus representantes Parlamentares e o Governo. Mas também nestes debates, os jornalistas têm culpa, porque fazem perguntas directas aos líderes dos partidos e estes fogem às questões discutindo muitas vezes assuntos sem relevância. Devia haver regras para isto, como por exemplo uma penalização do tempo para o líder que não respondesse a uma pergunta directa.
Muito mais há para dizer mas o espaço deste artigo não é infinito. Fica aqui esta reflexão: muito gostaria que jornalistas e comentadores se auto-avaliassem e fizessem um esforço para serem verdadeiros profissionais e isentos, a bem da democracia e, já agora, da decência e do civismo. Um pouco de ética também não lhes ficaria mal. Convém não esquecer que a Democracia representa, acima de tudo, liberdade e igualdade.