O Secretário Geral da NATO, Mark Rutte, esteve em Portugal e deixou-nos um alerta importante: gastar 2% do PIB em defesa pode não ser suficiente para garantir a nossa segurança no futuro. A notícia surge, precisamente, quando Portugal se comprometeu a atingir esta meta até 2029. Mas o que significa isto para o nosso país e para as nossas famílias?
Muitos perguntam, e com razão: “Como podemos gastar mais em defesa quando precisamos de investir em hospitais e escolas?” É uma preocupação legítima, mas que parte de um equivoco. Investir em defesa não significa, necessariamente, a redução do financiamento dos serviços públicos. Na verdade, pode conduzir ao aumento do financiamento e do investimento em serviços públicos.
Mas como é isto possível? Desde logo, porque o investimento em defesa tem de ser feito e deve ficar na nossa economia. Quando compramos equipamentos militares produzidos na Europa, estamos a criar empregos qualificados, a desenvolver novas tecnologias e a fortalecer a nossa capacidade industrial. Em Portugal existem bons exemplos de pequenas e médias empresas que trabalham para o setor da defesa. É fundamental que ajudemos estas empresas a crescerem e a contribuírem para a economia portuguesa, o que, por sua vez, contribuirá para aumentar a possibilidade de investimento no Estado Social.
Além disso, é fundamental que a União Europeia estabeleça novos instrumentos para financiar estes investimentos. Em vez de sair apenas dos orçamentos nacionais, o investimento virá, igualmente, de fundos europeus específicos e de novos mecanismos financeiros, sendo, igualmente, fundamental alavancar a iniciativa e investimento privado. Assim como a UE se uniu para recuperar as nossas economias da pandemia, também na área da Segurança e da Defesa, em conjunto, conseguiremos fazer mais sem sobrecarregar cada país individualmente.
Mas devemos salientar outro aspeto fundamental, poucas vezes ressalvado: sem segurança, não existe Estado Social. É como construir uma casa, primeiro precisamos de alicerces fortes. A guerra na Ucrânia mostrou-nos que a paz não pode ser vista como um dado adquirido. Se queremos manter os nossos serviços de saúde, as nossas escolas e o nosso sistema de segurança social, precisamos, primeiramente, de garantir que conseguimos defender estes valores.
Sobre esta temática, não nos referimos apenas a tanques e a aviões. A defesa moderna é muito mais do que armas e equipamentos militares. Precisamos de especialistas em cibersegurança para proteger os nossos sistemas informáticos, de tecnologia avançada para vigiar as nossas fronteiras marítimas, de investigadores para desenvolver novas tecnologias e soluções de segurança. Tudo isto cria oportunidades de emprego qualificado para os nossos jovens e gera oportunidades de desenvolvimento para o nosso setor empresarial.
Portugal tem uma oportunidade única. Com o aumento do investimento europeu em defesa e garantindo que ele é feito de maneira transversal, fomentando parcerias entre os vários Estados-Membros, as nossas empresas (existentes e a criar) podem participar em grandes projetos internacionais. Isto significará mais exportações, mais empregos e mais desenvolvimento tecnológico.
No entanto, não nos podemos esquecer do fator humano. As Forças Armadas Portuguesas enfrentam, atualmente, um dos seus maiores desafios: a falta de efetivos. Precisamos, urgentemente, de tornar a carreira militar mais atrativa para os jovens portugueses. Isto significa investir, verdadeiramente, nas pessoas, com melhores salários que reconheçam a especificidade da condição militar, com mais formação especializada e certificada, com carreiras estruturadas e atrativas e promovendo melhores condições de trabalho. Quando investimos nas Forças Armadas estamos, também, a investir em milhares de famílias portuguesas.
A guerra na Ucrânia ensinou-nos uma lição dolorosa: os nossos valores, nomeadamente a liberdade e a democracia, precisam de ser defendidos. Não podemos estar dependentes de países terceiros, em termos de segurança. A Europa, e Portugal com ela, tem de ser capaz de se defender a si própria. Este não é um investimento que possamos adiar. É uma questão de responsabilidade para com as gerações futuras.
Definitivamente, é disto que se trata: proteger o nosso modo de vida, o modelo social europeu, os nossos valores e o nosso futuro. O investimento em defesa não é um luxo, é uma necessidade básica para garantir tudo aquilo que conquistámos e que queremos preservar para os nossos filhos e netos.
Leia também: A proteção dos cabos submarinos: uma questão de segurança nacional