Estamos numa época em que todos estamos a tomar consciência de quão importante é o Bem-Estar e a Saúde Mental na vida das pessoas. É uma preocupação das Escolas, é uma preocupação dos Serviços de Saúde, é uma preocupação nacional e internacional. Estima-se que uma percentagem significativa da população portuguesa e mundial sofra de algum problema de saúde mental.
A saúde mental é o bem-estar geral, da forma como se pensa, se regula pensamentos, sentimentos e comportamentos. Por vezes, a pessoa sente-se muito perturbada e angustiada, mas nem sempre se trata de uma perturbação mental. É normal estar-se preocupado com uma apresentação oral, com uma longa viagem, com um acontecimento significativo da vida. Mas quando esta preocupação ultrapassa o previsto, aumentando as angústias e tristezas em forma e cor, então poderá estar-se perante um problema mais grave.
Para a maioria, a luta com a doença mental é uma luta interna, solitária e silenciosa, uma luta invisível, que pode passar despercebida por todos os que estão à volta. Quantas vezes é que se descobre que um adolescente está com uma anorexia grave num estado avançado da sua perturbação? Quantas vezes não se fica surpreendido por o colega alegre e bem-disposto meter baixa por estar gravemente deprimido?
Por esta solidão e este silêncio há necessidade de quebrar o preconceito, o estigma, que anda à volta da saúde/doença mental e, nesta luta contra o estigma, é fundamental o falar e o ouvir.
O ser humano, naturalmente social, gosta de falar, mas falar de si e dos sofrimentos internos para muitos parece “impróprio”. No entanto, ao falar do que lhe vai na alma e no coração e ouvir-se a si próprio e aos outros estará a ajudar a reformular as narrativas internas, para as dores atenuarem e ganharem novos significados. Ao falar sobre a luta que cada um trava, ela torna-se mais leve, menos traiçoeira e possibilita a compreensão do próprio e dos outros, para construir um caminho rumo ao equilíbrio.
Todos passam por momentos de crise ao longo da vida que podem desencadear pequenos ou grandes problemas no equilíbrio mental de cada um. As crises são acontecimentos normais nas vidas das pessoas que, ao trazerem algum desequilíbrio, ajudam o individuo a procurar novas soluções, novas alternativas e a ganhar consistência interna e maior segurança.
O dia da mãe relembra-me um dos momentos de crise comuns nas vidas das pessoas. Relembra aquele dia em que a mãe acorda e descobre que os filhos cresceram, ganharam asas, foram à vida e deixaram um vazio sem fim. O Ninho está vazio.
Este fenómeno afecta de forma diferenciada todas as mães e de forma diferenciada cada elemento de uma família. E traz sentimentos “baralhados e antagónicos”. Por um lado, há a felicidade de ver os filhos criados, sem atilhos e, por outro, a invasão de uma angústia de abandono e de separação, que poderá ser inibitória do bem-estar psicológico para quem fica neste ninho vazio e mesmo para quem parte.
Não é fácil ver chegar aquele dia em que o filho parte, com uma interrogação como futuro e as regras em mudança. E seguem os recados para a partida: “ … levas tudo? … telefona quando chegares … vai dando notícias…” e, como na canção, o sentimento é um misto de tristeza e de alegria “… Ai que tristeza esta minha alegria, Ai que alegria esta tão grande tristeza… “
Mas a bem da saúde mental e do bem-estar interno, a gestão deste momento é fundamental, como em qualquer momento de crise.
Há que optar pelos sentimentos que se quer dominar. Se houver um olhar positivo e crente, este movimento dos filhos poderá ser visto como uma oportunidade para reduzir conflitos familiares e laborais e poderá trazer muitos benefícios pessoais. Quando o último filho sai de casa a mãe e o pai poderão ter oportunidade de se reencontrarem e de melhorarem a qualidade do casamento, da relação, da vida.
Se a mãe ou o pai, sentem este momento como uma perca e vivem com grande angústia, então terão que tomar medidas internas, dentro de si, para manter a saúde mental e o bem-estar interno.
Ajuda alterar a narrativa interna e aceitar este momento como um sucesso também da família, “os bebés, são adultos, estão a construir os seus Ninhos”, e pensar o que cada um, mãe ou pai poderá fazer para ajudar estes meninos grandes nas suas novas construções.
E neste movimento de partida, o manter o contacto, mesmo que à distância de quilómetros grandes, é mágico. Vivemos no mundo das tecnologias e das comunicações em que qualquer filho ou filha estão à distância de um click.
É maravilhoso partilhar e ouvir os sentimentos de alegria, angústia e preocupação com pessoas de quem se gosta.
Mas se sentir que esta angústia de separação, esta dor, está a ter um peso demasiado grande no dia a dia, e a influenciar negativamente o bem-estar interno, as relações interpessoais e até o rendimento laboral, procure a ajuda de um profissional para perceber o que se passa internamente e aprender a lidar com estas separações.
O ser positivo não é apenas pensar que vai tudo correr bem, é pensar em novas alternativas para a vida pessoal em termos de relações, trabalho e lazer.
Pensando novamente nas mães e no seu dia, não há dúvida de que são belas as mães que, como disse Paulo Freire, proporcionam o inédito viável, dão o futuro a ser construído, as raízes e asas para os filhos voarem, para serem autónomos, para pensarem por si e construírem o futuro.
Se se preparar e antecipar o seu Ninho vazio poderá planificar novos desafios, com antecedência, para sentir a partida do filho como um ganho e não como uma perda.
Sempre que um filho parte, o pai e a mãe sabem que vão sofrer, sabem que ao jantar mesmo na sua ausência aquele lugar na mesa estará sempre preenchido com as memórias do amor. Este lugar permanecerá cheio de afecto e, provavelmente, com algo tecnológico, para que, à distância do tal click, estejam todos juntos na confusão da família.
A saúde mental é tão importante quanto a saúde física. Amigos e profissionais são portas que se abrem para a partilha de sentires.
Se tem dúvidas no que sente consulte sites da Ordem dos Psicólogos Portugueses https://encontreumasaida.pt/ ou https://eusinto.me/