É frequente ouvir esta pergunta “Fiz um curso superior para quê?” Esta frase mostra bem o desespero impotente de quem a profere.
As famílias das classes sociais baixas fazem um esforço titânico para que os seus filhos frequentem a Universidade para que possam ter uma vida melhor do que os seus pais. Esses jovens vêm-se frustrados após acabarem os seus estudos por volta dos vinte e cinco anos ao verem serem ultrapassados por pessoas sem qualquer curso ou especialização, só pelo facto de serem militantes de um partido político com influência na superestrutura do Poder.
É triste ver jovens com grande talento intelectual, que começam a trabalhar só depois dos vinte e quatro ou vinte e cinco anos, por isso só poderão reformar-se mais tarde do que aqueles que nasceram em ‘berço de ouro’ ou que a única coisa que conseguiram foi tirar um curso de ‘cola cartazes’ do partido em que se inscreveram.
Há jovens adultos licenciados a trabalhar em restaurantes e supermercados enquanto outros só com a escolaridade obrigatória são assessores na Assembleia da República ou em um qualquer ministério a ganharem cerca de três mil euros por mês só porque exibem o cartão do partido que estiver no Poder. Este país está do avesso!
Há raparigas universitárias, nas grandes cidades, que se prostituem para conseguirem suportar as suas despesas escolares, alimentação, alojamento e de deslocação para longe de casa, há rapazes que trabalham a meio tempo com a mesma finalidade. Mais tarde, quando acabam os seus cursos, vêem-se ultrapassados por, certamente boas pessoas, quem não estudou nem fez nada de muito válido na vida, apenas têm o mérito de serem lambe botas daqueles que os subjugam.
Aprende-se na Sociologia que as classes sociais se reproduzem ao longo das gerações, são poucos aqueles que conseguem, honestamente, subir na hierarquia social. Filho de pobre será pobre e filho de rico será rico, nas condições sociais de existência do seu tempo. Hoje, ou se inscreve num partido político ou não será bafejado pela “sorte”.
Antes da privatização das empresas públicas, especialmente bancos e companhias de seguros, os trabalhadores estudantes nessas empresas, após terminarem os seus cursos, com grande conhecimento da respectiva empresa, viam-se ser ultrapassados por pessoas exteriores à empresa só porque essas pessoas eram filiadas nos partidos do Poder.
Actualmente a maior parte dos concursos são viciados à nascença, já sabem à partida quem vai ocupar o lugar, quando não dá para fazer concurso contratam as pessoas como técnicos altamente especializados ainda que tenham só o ensino primário, para isso não é necessário concurso.
Tudo isto faz-me recordar o Palácio dos Condes de Anadia, Viseu, que tem um conjunto de painéis de azulejos, denominados ‘O mundo ao contrário’, um dos quais representa um coelho caçador com a espingarda ao ombro e vários homens pendurados à cintura.
Assim vai este país.