Realizou-se no passado dia 16 de Outubro a primeira sessão de uma série de diálogos regionais, sob o mote «O que a Europa faz por mim», que vão acontecer no território até ao final do ano. Realizada no âmbito da Semana Europeia das Regiões e dos Municípios dedicada à Coesão e Cooperação, a sessão «Algarve Rural + Digital» dedicou-se ao tema da digitalização do mundo rural e contou com participação de diversos parceiros locais, regionais e internacionais. A iniciativa conjunta do centro de informação Europe Direct Algarve, Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Algarve (CCDR Algarve), entidade hospedeira deste centro, e das Associações de Desenvolvimento Local do Algarve, envolveu outros parceiros locais, com o objetivo de celebrar os resultados da política de coesão na região, mostrando o que a Europa tem feito nos territórios.
Sandra Tendinha, que neste encontro representou o Comité das Regiões, falou na digitalização do mundo rural enquanto “oportunidade económica para o futuro”, lembrando que Portugal está atrás de todos os países em termos de digitalização, quer nas cidades como ainda mais nas zonas rurais. Há apenas um nível de 50% de cobertura digital”, sendo que atrás de Portugal apenas se encontra a Roménia. “Os novos fundos têm como uma das prioridades a digitalização que pretende colmatar o fosso entre as cidades e o mundo rural”, enfatizou Sandra Tendinha.
Um Algarve muito assimétrico merece um olhar atento
Aquiles Marreiros, responsável no Órgão de Acompanhamento das Dinâmicas Regionais, da Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Algarve (CCDRAlg) lembrou neste primeiro diálogo que “as oportunidades e as potencialidades derivam de um contexto regional”. Estamos perante uma região que “não tendo uma grande dimensão, é muito assimétrica”. Uma assimetria que se mede na forma como “se distribuem as pessoas, as atividades e a forma como a conectividade está enraizada”. Não ficaram dúvidas com a afirmação de que há “territórios que ainda que perto que estão distantes”, num Algarve muito desigual.
E “segundo os últimos dados da ANACOM [Autoridade Nacional de Comunicações] a taxa de cobertura de alta velocidade no Algarve diz-nos que em 67 freguesias 35 supera os 50%, em 7 freguesias entre 25% e 50%, em nove freguesias é apenas de 1,25% e em 16 freguesias, incluindo a de Cachopo [onde se realizou este encontro] é igual ou inferior a 1%”, o que, aliás, foi possível verificar face às inúmeras dificuldades de conetividade a partir de Cachopo para a realização deste evento de caráter online. O mesmo responsável lembrou que a “política de coesão nos últimos 35 anos contribui para melhorias, mas não conseguiu evitar a regressão das zonas rurais”, e salientou que a 11 de Setembro de 2020 foi aprovada a Estratégia de Desenvolvimento Regional para 2030, sendo que o desenvolvimento “digital está no topo, a par da descarbonização”, configurando assim uma dupla prioritária da União Europeia.
Os neo-rurais são a promessa de um futuro do Interior
“A digitalização é um dos problemas sistémicos que continua a verificar-se no mundo rural”. Artur Gregório, presidente da Associação de Desenvolvimento Local In Loco, aludiu ao período de confinamento que decorreu em Portugal fruto da pandemia e pediu que imaginássemos um mundo urbano sem conexão digital, lembrando que “é assim que vivem diariamente as pessoas no mundo rural onde menos de 1% têm acesso à banda larga de internet”, como já percebemos que é o caso de Cachopo. Para este responsável “o equilíbrio territorial será possível se o Interior for atrativo para os neo-rurais. As estratégias que são desenhadas têm de dar passos muito mais céleres”. Para Artur Gregório tem de haver uma “intervenção estruturada e musculada pública porque falamos de Coesão, não podemos deixar à mercê do mercado”. Artur Gregório é perentório ao afirmar que a falta da digitalização “é um dos principais obstáculos para o futuro da vida destes territórios [de baixa densidade]”.
A corroborar a constatação de Artur Gregório, Otília Cardeira, presidente da Junta de Freguesia de Cachopo lembrou que com o confinamento e a pandemia em geral surgiram muitas queixas de quem, na freguesia de Cachopo, tentou fazer teletrabalho sem sucesso. “Para um jovem se fixar aqui tem de ser criadas condições para haver rede de telemóvel. Espero que todos consigamos em conjunto fazê-lo. As acessibilidades e a habitação são também prioridades a par da digitalização”, testemunhou a autarca que recentemente investiu “bastante” para que houve acesso à internet na freguesia.
Desde os anos 80 que a Política de Coesão combate assimetrias
Catarina Cruz, diretora do Centro Europe Direct do Algarve, lembrou que muitos dos cidadãos ainda não sabem do que se trata quando se fala de Política de Coesão. “Mas o facto é que as suas evidências estão patentes no território do Algarve e em todo o País desde a década de 80 com a entrada de Portugal para a União Europeia em 1986. Desde a pré-adesão até ao atual quadro comunitário de apoio, os equipamentos, as infraestruturas, a formação, o apoio a empresas são algumas tipologias financiadas por fundos europeus no sentido de reduzir as disparidades económicas, sociais e territoriais significativas que ainda existem entre as regiões da Europa.
RURALidades ausculta os jovens das zonas de baixa densidade
Jesica Dias, da Associação ECOS, leva a cabo o projeto RURALidades. Neste caso, várias entidades juntaram-se para a consulta e participação dos jovens do meio rural, apurando o seu lado empreendedor. Este trabalho de auscultação está a ser feito em cinco concelhos: Alcoutim, Monchique, Tavira, Loulé e Silves. O objetivo passa por “tentar levar a cabo uma avaliação a partir dos jovens sobre as dificuldades e as potencialidades das suas zonas rurais”. Apesar de trapalhado pela Covid-19, o RURALidades já conseguiu aperceber-se que os jovens demonstram estar reticentes quanto à sua continuidade nas zonas de baixa densidade devido à falta de oportunidade de emprego, mas também fica a conclusão que o seu lado empreendedor será tão apurado quanta a melhoria de condições de vida, nomeadamente no que diz respeito às acessibilidades, não só digitais, mas também de estradas e transportes públicos.
Exemplo de neo-ruralidade em Cachopo
Maria Luísa Francisco é socióloga e está neste momento com uma bolsa da Fundação Calouste Gulbenkian para uma investigação em plena freguesia de Cachopo. A esta investigação junta a sua atividade de empresária onde leva a cabo atividades que vão à descoberta dos saberes e sabores do mundo rural em plena serra do Caldeirão. Depois de um trabalho de investigação no nordeste algarvio e após uma incursão pela cidade de Tavira, regressa ao meio rural onde preserva o contacto humano com as populações e onde alia um investimento que fez nas vias digitais para conseguir trabalhar de uma forma mais consistente e condizente com as novas necessidades. Assumindo-se também como neo-rural, Maria Luísa F. explica-nos que apesar das dificuldades próprias das zonas rurais está resiliente em dar continuidade à adaptação ao mundo rural do seu produto turístico que vive de experiências e contacto com gentes e lugares despovoados, mas onde a cultura imaterial preenche qualquer pacote turístico feito à medida das novas tendências dos viajantes.
Para concretizar a visão para as zonas rurais, a Comissão Europeia lançou uma consulta pública com o objetivo de examinar como vivem os habitantes de das zonas rurais na Europa e identificar os elementos-chave para a sua prosperidade. reunindo os pontos de vista e as perspetivas dos europeus, que decorre até 30 de novembro.
Entretanto, já estão definidas mais duas sessões no âmbito deste diálogo no Algarve. A 19 de Novembro e 17 de Dezembro. Acompanhe estes encontros online através das redes sociais, nomeadamente do Facebook da CCDRAlg.
Informação Europe Direct Algarve
Leia tudo sobre a semana Europeia das Regiões e cidades:
https://www.ccdr-alg.pt/site/info/regioes-e-municipios-no-centro-da-agenda-europeia-de-outubro
O Centro Europe Direct Algarve é um serviço público que tem como principal missão difundir e disponibilizar uma informação generalista sobre a União Europeia, as suas políticas e os seus programas, aos cidadãos, instituições, comunidade escolar, entre outros. Está hospedado na CCDR Algarve e faz parte de uma Rede de Informação da Direcção-Geral da Comunicação da Comissão Europeia, constituída por cerca de 500 centros espalhados pelos 28 Estados Membro da União Europeia.
A Rede de Centros Europe Direct em Portugal inclui 15 centros e é apoiada pela Comissão Europeia através da sua Representação em Portugal.
Os Centros de Informação Europe Direct atuam como intermediários entre os cidadãos e a União Europeia ao nível local. O seu lema é «A Europa perto de mim»!