É o fenómeno social mais avassalador do nosso tempo: por causa do alongamento da esperança de vida, dos cuidados de saúde, da problemática do cuidador, dos lazeres, da preparação de profissionais para o seu cuidado. Mas há muito mais, como se reflecte nas consignas: envelhecimento activo, envelhecimento bem-sucedido, dar mais vida aos anos… certo e seguro é que é preocupação geral que há tudo a ganhar em que este envelhecimento tenha como principal meta melhorar a qualidade de vida das pessoas, proporcionar uma vida saudável, que seja promotor de igualdade de oportunidades e que contribua para a participação, autonomia e a independência possível dos seniores. E tudo conjugado, este fenómeno é mais do que social, é socioeconómico e cultural e atravessa transversalmente a vida comunitária, ressoa a diálogo entre gerações, o pacto intergeracional, a educação integral, as práticas inovadoras na cidadania.
“Envelhecimento, perspectivas, projectos e práticas inovadoras”, com organização de Maria Conceição Antunes e Maria Engrácia Leandro, Húmus, 2016, é uma organização de ensaios atentos à realidade do nosso país que têm em comum a preparação/formação de profissionais para o desempenho de funções junto da população idosa, por um lado, e a apresentação de resultados em intervenção comunitária e formação de adultos, incluindo em academias de seniores. Com acerto, parte-se de uma noção de envelhecimento que extravasa a dimensão biofisiológica, aborda-se com profundidade a revolução demográfica e daí a caracterização das perdas cognitivas ligadas à idade, contrapondo diferentes metodologias para a estimulação cognitiva. Dá-se um quadro da problemática sénior actual como contraponto à de velho ou idoso, o que põe como referência a melhor preparação para responder aos medos do envelhecimento e à natureza das políticas sociais que permitem ao sénior condições mais condignas de vida.
Como este livro é essencialmente dedicado a profissionais que trabalham com elementos da idade sénior, aborda-se a gerontologia educativa, o imperativo numa formação ao longo de toda a vida e num contexto em que se estabeleça uma trama robusta entre envelhecimento e políticas sociais em Portugal. É neste ponto que se equaciona o envelhecimento e a família e se apresentam elementos categóricos de que percentualmente, e de forma esmagadora o cuidador familiar em Portugal não tem qualquer termo de comparação com o que se passa noutros países europeus, os cuidadores familiares são superiores a 80%, pois o idoso vive em meio familiar, isso eram dados de há 8 anos atrás, hoje é bem visível, com o crescente número de residências para seniores que o cuidador familiar decresce em detrimento da vida do sénior fora da família. O ensaio analisa as políticas de alívio da pobreza e reflecte os cuidados de longa duração e o papel que se pretende atribuir à RNCCI – Rede Nacional dos Cuidados Continuados Integrados, uma solução para a prestação de cuidados de longa duração.
Uma outra abordagem prende-se com o sénior enquanto consumidor, aforrador e o olhar projectado num mundo empresarial e do marketing.
A segunda parte da obra é dedicada à intervenção comunitária, à formação e educação dos seniores e às metodologias mais bem-sucedidas e daí uma apresentação detalhada das academias seniores e do largo campo aberto para a reeducação em tempos livres. É dado assente que as práticas educativas das chamadas universidades da terceira idade, que os seniores pagam simbolicamente, proporcionam o convívio e a ocupação dos tempos livres de uma forma educativa, lúdica, activa e saudável contribuindo para a promoção do envelhecimento activo, por outras palavras uma vida mais agradável, mais participativa e autónoma. Publicação de maior interesse para todos aqueles que lidam profissionalmente com a problemática sénior.
* Assessor do Instituto de Defesa do Consumidor e consultor do POSTAL