Na sessão extraordinária da Assembleia Municipal de Faro, realizada no dia 27 de novembro, foi aprovada, entre a ordem de trabalhos, uma deliberação sobre a capitalidade – ou o cerco dela – pelo predador territorial que é o município vizinho.
Um golpe silencioso, a cidade à beira do desfalque, uma estratégia de esvaziamento bem-sucedida e, no final, a capital à deriva: Loulé quer ser capital e Faro está a deixar.
A vocação cosmopolita da cidade revela-se na presença da Universidade do Algarve, do único aeroporto a sul do país e o principal hospital público da região. Faro é casa dos principais serviços e infraestruturas inerentes à educação, mobilidade e saúde pública.
Enquanto capital administrativa, cultural e histórica do Algarve, tem sofrido um assalto que resultou na transferência ou edificação primária de instituições várias para o município louletano. É o caso do Tribunal Administrativo e Fiscal, do futuro Hospital Central, dos serviços de emergência do INEM e da Proteção Civil, do laboratório de saúde pública e da pretensão de construir mais um campus de saúde referente à Universidade.
Recentemente, decorrem diligências para arrancar de Faro o Comando Territorial de GNR. Urge, nesse sentido, a atuação dos órgãos municipais para travar aquele que será mais uma usurpação a adicionar à lista ambiciosa do executivo vizinho. “Por ser o centro urbano mais populoso da região requer, evidentemente, uma maior presença policial, bem como uma articulação próxima com as autoridades judiciárias e uma cooperação estreita com outras forças e agentes de segurança, que garantam e reforcem a manutenção da paz e ordem públicas” leia-se na deliberação.
O embuste pelo Município de Loulé concretiza-se pela persuasiva estratégia de oferta de terrenos junto de várias entidades, a que Faro tem respondido com passividade e inércia.
A cooperação deve estar na base da relação intermunicipal, cedendo à rivalidade tóxica – um risco para a coesão territorial – a que temos assistido. É de censurar a posição política de Loulé, mas também a postura apática de Faro, que se senta conformada, enquanto lhe roubam a carteira, o telemóvel e o relógio, ao mesmo tempo que lhe dão um passou-bem.
Chegou o momento de dizer basta a este perigo iminente que tem sido cultivado pouco a pouco rumo ao desequilíbrio regional. Haja lugar à união entre autarcas, instituições e cidadãos na defesa pública da capitalidade e à pressão política junto de ambos os executivos porque nenhuma capital sobrevive se abdicar de se comportar como tal.
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