A exposição exibe documentos fundamentais sobre a presença dos guerreiros monges e do seu património no Reino do Algarve, revela a decisão pontifícia, imagens associadas a essa presença histórica e põe-se um acento sobre a organização e a gestão dos bens. Escolhemos alguns dos textos que nos pareceram primordiais para a compreensão do conteúdo da exposição.
Texto de apresentação da exposição
A Ordem de Cristo foi criada em 1319, por ordem do rei D. Dinis, depois da extinção, pelo Papa Clemente V, da Ordem dos Templários, uma das mais famosas Ordens Militares de Cavalaria, fundada em 1118, no rescaldo da 1ª Cruzada. Com um papel determinante no período da Reconquista, na atividade militar contra os Mouros e no povoamento do território, a Ordem dos Templários era também detentora de um vasto património que, por direito, pertenceria à Santa Sé, facto que ameaçava a soberania do rei. Com o pretexto de defender a costa algarvia dos ataques de piratas e piratas magrebinos, D. Dinis consegue decretar a criação da nova Ordem religioso-militar. A 1ª sede da √, com um dos mais sólidos sistemas defensivos de todo o Reino do Algarve e situado na fronteira marítima com Marrocos e nas imediações da comunidade islâmica de Granada.
Voltando um pouco atrás, entenda-se a razão por que esta imagem é patente na exposição. A Ordem do Templo era poderosíssima, suscitou invejas, o monarca francês tinha uma dívida colossal, fizera empréstimos à Ordem, partiu de França a maquinação de levantar suspeitas de diferente ordem, sucederam-se pressões internacionais, os templários foram considerados heréticos e moralmente abomináveis, esta imagem fala da condenação à fogueira do grão-mestre templário Jacques de Molay e do cavaleiro templário Geoffroy de Charnay. Depois da extinção da Ordem, pôs-se a discussão do que fazer dos bens, houve sugestões que passassem para a propriedade régia, para Roma, para outras Ordens Militares. É aqui que o rei D. Dinis terá um desempenho determinante nas alianças internacionais que obteve e que levou à criação da Ordem de Cristo.
Imagem de 1642, recorde-se o texto de abertura da bula Ad ea ex quibus, de 1319, do Papa João XXII: “Tivemos por bem de ordenar Casa de Nova Ordem de Milícia de Jesus Cristo em o dito Castelo de Castro Marim, a qual Casa decretámos, que seja a cabeça da mesma Ordem, e damos-lhe a Igreja Paroquial de Santa Maria do mesmo Castelo da Diocese de Silves, e a outorgamos e juntamos à dita Ordem com todos os seus direitos, e pertenças.”
Em 1327, teve início o mestrado de D. Martim Gonçalves Leitão que fruía de grande estima por parte de D. Afono IV, que o descreve como “magnífico, estrénuo e poderoso cavaleiro”.
D. Estevão Gonçalves Leitão sucede ao seu falecido irmão no comando da Ordem de Cristo, em 1335. O seu mestrado ficou marcado por um período de guerra (1336-1339) entre o reio português D. Afonso IV e o rei de Castelo, D. Afono XI. Este conflito originou uma incursão do exército castelhano pelo vale do Guadiana que resultou do cerco a Castro Marim em 1338, ao qual os cavaleiros de Cristo se opuseram com grande êxito.
D. Rodrigo Anes (1344-1357) foi o último mestre da Ordem de Cristo, durante a permanência da sede em Castro Marim. Tal como tinha acontecido com João Lourenço, também este se viu forçado a renunciar às suas funções em 1357, ano que assinala a transferência da sede da Ordem de Cristo para Tomar.
Vista aérea do Castelo de Castro Marim, ao fundo distingue-se perfeitamente o Castelo Velho e sob o pano de muralha em que assenta a porta principal vê-se a antiga igreja do castelo onde decorre a exposição sobre as origens da Ordem de Cristo na maior praça fortificada do Algarve do seu tempo.
A Ordem de Cristo cobrava direitos sobre grande parte das atividades económicas de Castro Marim, por exemplo ao pão que saía e que entrava na Vila para ser vendido e às pescarias capturadas. Aos direitos da Ordem sobre a quantidade do peixe capturado, juntam-se a quarta parte de todo o sal produzido durante o ano.
A Portagem, a par da Alfândega, era um dos principais locais de cobrança tributária no século XVI. Estava reservada à Ordem de Cristo e incidia sobre alguns produtos que “procedem ou se dirigem aos Reinos de Portugal e Algarve, ou ainda para a vizinha Ayamonte , através destas, por terra, a outros lugares de Castela”.
No século XVI, o termo de Castro Marim apresentava-se já com uma marcada identidade e com uma grande diversidade económica e social.
Os comendadores foram obrigados a residir nas comendas e a registar em livro – o “Tombo da Comenda” – o estado patrimonial em que as mesmas lhes eram confiadas. O inventário devia ser atualizado sempre que os comendadores melhorassem ou acrescentassem os bens e rendimentos das comendas.
Com a subida ao trono de D. Manuel I (1495-1521), o governo do reino inclina-se para o absolutismo e segue uma política de cariz marcadamente centralizadora. É nesta conjuntura que são feitos levantamentos do património das Ordens Militares e organizados os Tombos das Comendas.
Em finais de 1509, a Comenda de Castro Marim recebe a Visitação da Ordem de Cristo, que regista os bens, propriedades e direitos da Ordem na dita comenda.
Finda a exposição, viagem a Vila Real de Santo António, única e exclusivamente para contemplar a escultura de José Cutileiro, Vila Real de Santo António deve o seu casco histórico à decisão do Marquês, aqui temos a disposição ortogonal que encontramos em Lisboa e, modestissimamente, em Porto Covo.
Aqui se finda uma visita ao Sotavento Algarvio, a pretexto de visitar amigos queridos chegou-se a Castro Marim e viu-se uma exposição sóbria, mas muito elucidativa. Até à próxima viagem.