Dois dias depois das eleições autárquicas de 2025 e findo o tempo inerente à digestão dos resultados, é tempo de analisar as inclinações contemporâneas do eleitorado.
Em primeiro lugar, urge reconhecer o partido vencedor a nível nacional, porque só ele o é realmente: o partido dos abstencionistas. Note-se que dos mais de 9 milhões de inscritos no Continente e nas Regiões Autónomas, somente 59,26% votaram. Esta, que é a praga que corrói a nossa democracia internamente, assume-se uma patologia, ainda que atenuável, incurável.
Em segundo lugar, o CHEGA, embora não tenha alcançado os objetivos a que se propôs, conquista, pela primeira vez desde a criação do partido, três Câmaras (Albufeira, Entroncamento e São Vicente) sendo uma delas por maioria absoluta.
O PSD conquistou a Associação Nacional dos Municípios Portugueses (ANMP) e toma conta de seis dos dez concelhos mais populosos, em detrimento do PS, que deixou de ser o primeiro partido autárquico. O CDS-PP continua a ser a quarta força autárquica e a CDU atinge o pior quadro eleitoral registado.
No nosso Algarve, as duas Câmaras que nunca mudaram de cor política desde a Revolução de Abril, assim permanecem. É o caso de Olhão e Portimão, agarradas com unhas e dentes pelo Partido Socialista. Coincidentemente, foram verificados os maiores níveis de abstenção (entre 47%, a 58%) nas Câmaras ganhas pelo Partido Socialista: Olhão, Loulé, Portimão e Lagos, para além de Albufeira, agora do CHEGA. Por outro lado, as duas Câmaras ganhas pelo PSD, Vila do Bispo e Castro Marim, apresentam a segunda menor percentagem de abstenção (entre 26%, a 37%).
Retira-se, por conseguinte, duas conclusões. A de que a guinada do eleitorado à direita não se cingiu às legislativas e que o cansaço generalizado, a par da descrença nas Câmaras socialistas conduziu os algarvios às urnas, motivando-os a sede de mudança perante a política de dinastia que o PS implementou.
Perderam, neste seguimento, duas Câmaras (Vila do Bispo e Aljezur), para o PSD e o R-MI, ao passo que o PSD perdeu duas (Faro e Albufeira), para o PS e CHEGA, respetivamente.
Embora tenha perdido a Capital Algarvia, o grande vencedor da nova dinâmica política a nível nacional é o PPD-PSD e o mesmo se pode adivinhar com um pé já nas presidenciais.
Assim como fiz das legislativas para as autárquicas, projeto agora as minhas apostas das autárquicas para as presidenciais. Os candidatos de centro-direita, na minha leitura, são os únicos que têm hipótese. Excluo, efetivamente, o António José Seguro da eventual possibilidade de vir a ser eleito Chefe de Estado.
A guinada do eleitorado à direita é clara e inegável. Viu-se há uns meses nas legislativas, esta semana nas autárquicas e ver-se-á nas presidenciais. O eleitorado identifica-se cada vez menos com a lengalenga dos partidos de centro-esquerda, que perdem, consecutivamente, terreno político.
Leia também: Faro e Olhão: Municípios vizinhos, realidades distintas | Por Adriana Martins
















