Provavelmente já observaram estas imagens em algum lado na vossa vida e em movimento, imagens clássicas do movimento do trote de um cavalo, mas é tudo uma ilusão, uma vez que o movimento em vídeo como nós o conhecemos é apenas uma série de fotografias estáticas tiradas sucessivamente num período de tempo muito curto. As imagens em causa são da autoria do fotógrafo, Eadweard Muybridge (1830-1904), que na altura usava um processo antigo e lento de captação e revelação das placas fotográficas, normalmente chamado de Processo de Colódio Húmido, uma espécie de verniz em estado líquido que era aplicado juntamente com nitrato de prata às placas de vidro. Portanto para tirar estas fotografias, Muybridge usou uma série de 12 a 24 câmaras dispostas lado a lado em frente a uma tela refletora. O mecanismo de disparo foi acionado através de um fio que se partia à medida que o cavalo ia passando a correr pelas câmaras. Através desta técnica, conseguiu conjuntos de fotografias sequenciais das fases sucessivas da caminhada, do trote e do galope do animal. Quando as fotografias foram publicadas internacionalmente na imprensa popular e científica, foi demonstrado que havia diferenças na posição das pernas do animal nas representações tradicionais desenhadas à mão. Isto foi memorável e uma revelação, porque para provar que as suas fotografias eram precisas, Muybridge criou um projetor de slides dedicado especialmente para que as possa projetar sequencialmente numa tela, uma a uma, o resultado foi a primeira apresentação de cinema no Mundo, demonstrando a ilusão de movimento através de fotografias sequenciais. Estávamos em 1880 e este evento foi promovido pela San Francisco Art Association (SFAA).
Após a invenção do processo de papel de gelatina e prata, que consiste numa camada adesiva de gelatina transparente que fixa os sais de prata no papel facilitou imensamente o processo de obtenção de fotografias. Produzido industrialmente a partir de 1880, foi um dos fatores que ajudaram na popularização da fotografia em larga escala. Muybridge rapidamente adoptou esta técnica que melhorou significativamente o processo de captura e revelação das suas fotografias em movimento. A convite da Universidade da Pensilvânia em 1884-85 produziu um conjunto de 781 fotografias sequenciais de muitos tipos de animais e pessoas a praticar variadas atividades.
A análise fotográfica do movimento utilizado pela técnica de Muybridge coincidiu com os estudos do fisiologista francês Étienne-Jules Marey que desenvolveu outra técnica de captura, a cronofotografia. Enquanto Muybridge usava diversas câmaras em sequência para capturar estas imagens detalhadas e separadas dos estágios sucessivos do movimento, Marey usou apenas uma câmara, gravando uma sequência inteira de movimento em apenas uma placa. Com este método, as imagens das várias fases do movimento por vezes sobrepunham-se umas às outras, simplificando o processo de ver e perceber como o fluxo do movimento realmente funcionava. Marey igualmente aperfeiçoou a velocidade de captura e o tempo de duração, conseguindo intervalos mais pequenos do que Muybridge. O trabalho destes dois homens contribuiu imenso para o desenvolvimento dos estágios iniciais do estudo do movimento e para o desenvolvimento do filme como nós o conhecemos hoje em dia. Conhecendo isto é fácil perceber que houve um filme em 1999 que utilizou esta mesma técnica para criar uma sequência rápida de fotografias num curto espaço de tempo tão curto, aproveitando-se da modernização dos equipamentos fotográficos atuais, para criar sequências rotativas tão icónicas que foram revolucionárias na altura, transformando e modernizando o cinema para uma nova era, tendo sido copiada por muitos outros artistas e cimentada para sempre na história do cinema moderno. Esse filme foi “The Matrix”, realizado por Lilly e Lana Wachowski, a técnica fotográfica rotativa inovadora intitulada de “bullet time” ficou a cargo do designer e inventor John C. Gaeta.