Nos últimos três anos temos assistido a um bombardeamento de acontecimentos que nos confrontam com ameaças à nossa integridade física, moral, assim como à própria vida. Falo de ataques diretos – a nós próprios – e indiretos – aos outros. Falo, especificamente, do impacto da pandemia e, mais atualmente, das guerras.
Foquemo-nos nas guerras. É certo que estes acontecimentos nos afetam e que é impossível ficarmos-lhes indiferentes. Assistimos voluntariamente, e/ou até mesmo involuntariamente, através dos media, a pessoas que tentam fugir do seu país, a membros de famílias que são separados, a cenários de destruição de domicílios, escolas e hospitais.
“Quando estamos perante a incerteza de não saber o que vai acontecer nem como, quando somos assombrados por esta dúvida, é possível agarrarmo-nos à palavra esperança”
Ficamos a saber que há pessoas que não resistem e que morrem. Existem culpados e existem inocentes. Pessoas vulneráveis que nos fazem sentir. Não existe a indiferença perante um cenário de guerra. Existe sim, a empatia, a fadiga de compaixão, o sentimento de tristeza, de medo, de injustiça e de impotência que dão enfâse à ansiedade, à depressão e ao stress pós-traumático. Estas respostas tendem a tornar-se mais intensas com a elevada exposição à informação sobre a guerra.
Perante este sofrimento, o que podemos fazer para aliviá-lo? É certo que somos todos diferentes e sabemos que a regulação emocional e de pensamentos depende, principalmente, da nossa atitude perante a vida.
Existem algumas estratégias que poderão ser colocadas em prática. Deixo-vos algumas que podem ajudar, nomeadamente:
. Limitar a nossa exposição a notícias – devemos limitar o consumo de notícias sobre o assunto. Podemos definir um limite de vezes, ou escolher os horários do dia em que assistimos deliberadamente às notícias. O mesmo será suficiente para nos mantermos informados e devemos procurar sempre fontes credíveis no sentido de combater a desinformação.
. Envolvermo-nos em campanhas de solidariedade dinamizadas pelas diferentes instituições que nos permitam ser parte ativa na resolução do conflito.
. Promover o autocuidado, através de momentos de bem-estar e realização de atividades prazerosas, de forma a manter uma rotina e monitorizar a nossa Saúde Psicológica.
A Ordem dos Psicólogos Portugueses (OPP) desenvolveu um recurso, através do site eusinto.me, para pessoas que procuram conhecer os sinais de alerta e os sintomas dos principais problemas de Saúde Psicológica e saber como agir quando temos um problema de Saúde Psicológica, ou quando conhecemos alguém que está a sofrer.
A OPP também desenvolveu os manuais a “Guerra afeta-nos a todos”, onde inclui diversas recomendações sobre como gerir emoções e sentimentos em situação de crise e ainda “Conversar sobre a Guerra”, dirigido a pais e cuidadores de crianças e jovens, com o intuito de explicar a guerra aos mais novos. Ambos estão disponíveis no site da OPP e são úteis nesta fase em que vivemos.
É certo que não sabemos se a violência irá continuar a escalar ou quando estas guerras vão terminar. Quando estamos perante a incerteza de não saber o que vai acontecer nem como, quando somos assombrados por esta dúvida, é possível agarrarmo-nos à palavra esperança. E é esta palavra que nos faz mover e ser agentes de mudança, acreditando na paz e num sentido para a vida.
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