Num setor onde as margens de lucro costumam ser apertadas, há uma cadeia de supermercados que está a dar que falar. Com uma presença cada vez mais sólida em Portugal e um domínio histórico em Espanha, a Mercadona conseguiu fechar o último ano com lucros bem acima dos seus concorrentes, graças a uma estratégia que foge aos modelos tradicionais.
Lucros recorde num mercado competitivo
A Mercadona, atualmente a maior cadeia de supermercados espanhola, fechou o ano fiscal de 2024 com vendas líquidas no valor de 35.605 milhões de euros. Este montante representa um crescimento de 8,35% face ao ano anterior. Mais impressionante ainda foi o lucro: 1.383 milhões de euros, traduzindo um aumento de 37%.
Estes resultados colocam a empresa numa posição invejável no setor da grande distribuição. A margem líquida atingiu os 3,88%, o que significa que a Mercadona obteve quase 4 euros de lucro por cada 100 euros de vendas, o que representa um número muito superior à média do setor, segundo a Marketeer.
À frente de gigantes internacionais
Para se ter uma ideia mais clara da dimensão deste feito, basta comparar com outras grandes cadeias internacionais. A norte-americana Costco registou uma margem de 2,95%, a Walmart ficou pelos 2,88% e a britânica Tesco nos 2,87%.
Já em Espanha, os concorrentes diretos estão ainda mais distantes: o Carrefour obteve apenas 0,93% e o grupo DIA apresentou mesmo resultados negativos, refere a mesma fonte.
Estes dados revelam uma diferença significativa na rentabilidade entre a Mercadona e as restantes cadeias, nacionais e internacionais.
A força da eficiência
Num setor onde a margem de lucro habitual ronda entre 1% e 2%, o sucesso da Mercadona assenta numa estratégia centrada na eficiência. A empresa aposta numa oferta reduzida de produtos, com grande predominância das suas marcas próprias: Hacendado (alimentação), Bosque Verde (limpeza) e Deliplus (higiene e beleza).
Estas marcas não são apenas mais baratas de produzir, como também fidelizam o consumidor e garantem maior controlo de qualidade e custos. De acordo com dados já divulgados, citados pela Marketeer, estas marcas chegaram a representar mais de metade das vendas da empresa.
Relação direta com fornecedores
Outro dos pilares do sucesso está na forma como a empresa gere as suas parcerias. Desde os anos 90 que a Mercadona mantém relações duradouras com os seus fornecedores, num modelo de cooperação que visa estabilidade e qualidade, em vez de negociação constante e pressão sobre preços.
Este modelo permite uma cadeia de abastecimento mais eficiente e um produto final com melhor relação qualidade/preço, fatores que pesam fortemente na escolha dos consumidores.
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Logística e marketing fora do comum
A aposta na automação dos centros logísticos é outro fator importante. A Mercadona tem investido fortemente em tecnologia para tornar os seus armazéns mais rápidos e precisos, reduzindo perdas, erros e custos operacionais, adianta ainda a mesma fonte.
No que toca ao marketing, a empresa segue um caminho atípico: não faz campanhas publicitárias tradicionais. Em vez disso, aposta no ‘boca-a-boca’ e na reputação construída ao longo dos anos. Segundo a fonte supracitada, a comunicação com o público é feita quase exclusivamente através da experiência nas lojas e da opinião dos clientes.
Escala que dá poder de negociação
Com 1.674 lojas espalhadas por Espanha e Portugal, a Mercadona consegue também tirar partido da sua dimensão. Esta escala permite-lhe negociar melhores condições com fornecedores e manter os preços competitivos sem sacrificar a margem de lucro.
Essa capacidade de negociação, aliada ao controlo apertado sobre os custos e à aposta em produtos próprios, explica grande parte do seu sucesso no panorama europeu da grande distribuição.
Uma lição de gestão no retalho
O caso da Mercadona mostra que é possível crescer, lucrar e manter preços competitivos, tudo ao mesmo tempo. A chave está numa gestão rigorosa, com visão de longo prazo e foco na eficiência em todas as etapas, da produção à prateleira.
Num mercado onde muitos sobrevivem com margens mínimas, a cadeia espanhola provou que, com o modelo certo, é possível destacar-se.
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