Com a chegada do calor e o regresso aos dias passados na praia ou na piscina, muitos portugueses voltam a abrir os sacos de verão guardados desde o ano anterior. No meio das toalhas, óculos de sol e chapéus, é comum encontrar um frasco de protetor solar usado no verão passado e ainda com produto no interior. A dúvida instala-se: será que este protetor continua eficaz? Pode ser usado com segurança ou deverá ser substituído?
Condições extremas testadas em laboratório
De acordo com a Organização de Consumidores e Utilizadores (OCU), oito protetores solares, seis com fator de proteção 30 e dois com fator 50+, foram submetidos a um conjunto de testes em laboratório para simular as condições reais a que podem ter sido sujeitos durante e após o verão.
Os produtos foram inicialmente armazenados a 4 °C para simular o transporte em avião. Seguiram-se quase duas semanas a 40 °C, reproduzindo o calor intenso a que estão expostos em contexto de praia, com o frasco a ser aberto regularmente. Após esta fase, os protetores foram irradiados com luz UVB usando um simulador solar, voltando depois à temperatura de 4 °C. Por fim, foram guardados durante 14 meses a cerca de 20 °C, replicando o armazenamento habitual em casa.
Aspeto visual não basta para garantir eficácia
Passados os 14 meses, os especialistas da OCU analisaram as alterações físicas dos produtos. Dois protetores apresentaram sinais visíveis de degradação. Um encontrava-se seco e o outro com a textura alterada. Os restantes mantiveram o aspeto, o cheiro e a consistência inalterados.
No entanto, a organização alerta que a aparência do protetor solar pode não refletir a sua eficácia real. Mesmo que pareça intacto, há a possibilidade de os filtros terem perdido capacidade de proteção contra os raios ultravioleta.
Resultados divididos na proteção contra UV
Dos oito produtos analisados, seis mantiveram a eficácia indicada no rótulo tanto para UVB como para UVA. Dois, no entanto, revelaram perda de eficácia contra UVB, o tipo de radiação que mais contribui para as queimaduras solares. Segundo a mesma fonte, os dados mostram que alguns protetores continuam eficazes mesmo após 14 meses, mas não todos.
O fator de proteção solar (SPF) e a proteção contra raios UVA estão entre os elementos mais importantes a verificar. A alteração destas capacidades pode comprometer a segurança da pele durante a exposição ao sol.
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Opinião de uma especialista nacional
A Professora Helena Margarida Ribeiro, da Faculdade de Farmácia da Universidade de Lisboa, recorda que o uso de protetor solar é essencial em qualquer exposição solar prolongada. Segundo a especialista, deve optar-se por um fator de proteção igual ou superior a 30, sendo fundamental renovar a aplicação de duas em duas horas, ou sempre que houver contacto com água ou transpiração.
A mesma especialista reforça ainda a importância de respeitar o prazo indicado pelo símbolo PAO (period after opening), habitualmente representado por um frasco aberto com o número de meses que indica a durabilidade após a abertura. Se o produto tiver ultrapassado esse limite, a sua eficácia não está garantida.
Além disso, a professora explica que o calor, a luz e a humidade aceleram a degradação dos ingredientes ativos presentes nas fórmulas, comprometendo a capacidade de proteger a pele.
Como avaliar o estado do protetor solar
A mesma fonte recomenda que, antes de reutilizar um protetor solar do ano anterior, se observe atentamente a textura, a cor e o cheiro do produto. Se existirem alterações, o protetor deve ser descartado. Mesmo que o prazo de validade ou o PAO ainda estejam dentro dos limites, sinais físicos de alteração indicam possível perda de eficácia.
O armazenamento em local fresco e seco é crucial para manter a estabilidade do produto. A exposição ao calor excessivo, como a que ocorre frequentemente quando se deixa o frasco dentro de um carro ao sol, é uma das principais causas de degradação dos filtros.
Se após esta avaliação persistirem dúvidas sobre a integridade do produto, o mais prudente é não o utilizar. A exposição solar sem proteção adequada representa um risco acrescido para a saúde da pele.
O relatório completo com os produtos analisados e os respetivos resultados está disponível no site da OCU. Para quem quer saber se vale a pena guardar o protetor solar para o verão seguinte, esta análise fornece dados concretos que ajudam a tomar uma decisão mais informada.
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