A produção e comercialização de mel na União Europeia estão a ser alvo de preocupação crescente devido ao aumento da entrada de produtos fraudulentos no mercado. Em Portugal, os apicultores alertam para a concorrência desleal de produtos importados, principalmente de países asiáticos, que, segundo os produtores, não cumprem os mesmos critérios de qualidade e segurança alimentar exigidos na Europa.
A Federação Nacional dos Apicultores de Portugal (FNAP) já havia chamado a atenção para este problema em outubro, alertando que cerca de 50% do mel comercializado no espaço europeu poderia ser fraudulento, de acordo com dados da Comissão Europeia. Na Alemanha, esse valor ascende a 80%, segundo a mesma entidade.
A concorrência de produtos que não correspondem ao padrão de mel puro tem agravado a crise do setor apícola europeu, que já enfrenta desafios como a mudança climática e a proliferação da vespa asiática. A FNAP teme que, sem medidas eficazes de controlo, a apicultura europeia não consiga suportar esta competição desleal.
Protesto em Lisboa exige mais controlo sobre as importações
Os apicultores portugueses manifestaram-se esta terça-feira em Lisboa para exigir um maior controlo sobre os produtos importados. Manuel Gonçalves, presidente da FNAP, afirmou à TSF que o mel nacional está a acumular-se nos armazéns, enquanto produtos de qualidade inferior chegam ao mercado europeu.
“O mel dos produtores portugueses fica no armazém; o mel de fraca qualidade da Ásia está a entrar na Europa”, denunciou. Em declarações à RTP, foi ainda mais direto ao afirmar que “o que tem vindo não é mel: é um sucedâneo de mel”.
Segundo o responsável, a fraude ocorre através da mistura de mel autêntico com xaropes concentrados de textura e sabor semelhantes. Estes produtos passam por processos químicos que lhes conferem a aparência do mel natural, mas sem os seus benefícios nutricionais. Gonçalves revelou ainda que, atualmente, há cerca de 450 mil toneladas de mel de produtores portugueses que permanecem sem escoamento, enquanto o produto importado se mantém no mercado europeu com certificação oficial.
A forma como esse mel entra na Europa também levanta preocupações. O presidente da FNAP aponta que o mel importado muitas vezes recebe um certificado oficial ao ser misturado com pequenas quantidades de mel produzido dentro da União Europeia, numa proporção que pode ser de 0,5 para 20 ou 1 para 20.
Consumidores devem verificar a origem do mel
Para evitar a compra de produtos adulterados, a FNAP recomenda que os consumidores escolham sempre mel com rótulo que indique que foi integralmente produzido na União Europeia. “Ficam mais descansados se não escolherem produtos não-UE”, aconselhou Manuel Gonçalves.
Odete Gonçalves, presidente da Meltagus, reforça a necessidade de maior fiscalização e equidade nas regras aplicadas aos produtores nacionais e aos importadores. “O mel importado tem de ser controlado em análises. Os produtores portugueses são obrigados a fazer extracção em estabelecimentos licenciados; em Espanha e na Ásia não. Há aqui uma desigualdade, não é justo”, declarou à RTP.
Os apicultores exigem medidas mais rigorosas para impedir que mel de qualidade inferior continue a inundar o mercado europeu, defendendo que a certificação e fiscalização dos produtos importados devem ser reforçadas para garantir a autenticidade e qualidade do mel consumido.
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