Uma jovem foi despedida da Mercadona dois dias depois de ter publicado um tweet onde relatava que o seu supervisor exigiu que falasse apenas espanhol com os clientes. O caso aconteceu na loja da empresa em Oliva, Valência, e já gerou debate público sobre direitos linguísticos e liberdade de expressão.
A situação ocorreu no primeiro dia de trabalho da funcionária, estudante de Filologia Catalã, que comunicou nas redes sociais a orientação que lhe foi dada.
Exigência de falar apenas espanhol
Segundo a jovem, Laura García, o seu superior indicou-lhe que deveria usar apenas o espanhol no atendimento, justificando que havia clientes de fora que se poderiam sentir incomodados com o uso do valenciano, explica o Noticias Trabajo.
Laura afirma que respondeu de forma breve, com um “que tristeza”, e que mais tarde relatou o episódio na rede social X, antigo Twitter. A publicação acabou por se tornar viral.
Demissão sem explicações formais
Dois dias após o tweet, recebeu uma carta de rescisão de contrato, refere ainda a mesma fonte. A Mercadona justificou a decisão referindo apenas que a jovem colaboradora “não correspondeu às expectativas”, sem apresentar advertências prévias ou motivos concretos.
Laura esclareceu que não se recusava a usar o espanhol, mas que se expressava naturalmente em valenciano, mudando de idioma quando necessário para garantir o entendimento dos clientes.
Língua regional protegida por lei
O caso levanta dúvidas sobre o respeito pelos direitos linguísticos na Comunidade Valenciana. O Estatuto de Autonomia reconhece o valenciano como língua oficial, a par do espanhol, e proíbe qualquer discriminação com base na língua utilizada.
A Lei 4/1983 sobre o Uso e Ensino do Valenciano reforça esse princípio, determinando que a escolha linguística não pode originar tratamento desigual no acesso ao trabalho ou na relação com entidades públicas ou privadas.
Impacto das redes sociais no caso
A ex-funcionária suspeita que a publicação do tweet teve influência direta na decisão de a despedir. “Se eu não tivesse tuitado nada, provavelmente ainda estaria lá”, afirmou em declarações ao jornal Vilaweb.
Num outro tweet, Laura escreveu: “Sim, fui demitida. E para quem julga por ignorância: tenho uma carreira, sempre trabalhei e sei muito bem o que é preciso para ganhar a vida. Isso não é ignorância, é autenticidade e orgulho de classe.”
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Liberdade de expressão e contexto legal
Especialistas em direito laboral, citados pelo Noticias Trabajo, explicam que, durante o período probatório, uma empresa pode terminar o contrato sem apresentar causa, desde que não haja violação de direitos fundamentais.
No entanto, sublinham que, se a demissão tiver resultado diretamente da publicação do tweet, poderá configurar um caso de represália, sendo necessário provar a ligação entre os dois acontecimentos.
Repercussões no futuro académico e profissional
A jovem lamentou o desfecho, mas mantém a convicção de que agiu corretamente. Está agora à procura de outro emprego para continuar a financiar os estudos universitários.
“Lamento perder o emprego, mas não falar valenciano”, afirmou. “Estamos em Oliva, não em Albacete; aqui, mudar de idioma não deveria ser motivo para demissão.”
Reações e debate na comunidade
A situação gerou críticas nas redes sociais e levantou questões sobre a gestão da diversidade linguística em empresas com presença em regiões bilingues.
Vários utilizadores destacaram que a atitude da jovem foi de adaptação e respeito, e que o episódio evidencia um possível desrespeito pelos direitos consagrados na legislação regional. A Mercadona não emitiu, até ao momento, qualquer declaração pública sobre o caso que envolve o despedimento da jovem.
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