Num momento em que se fala cada vez mais de alimentação saudável e desperdício zero, um alerta de especialistas vem lembrar que nem todos os hábitos mais comuns na cozinha são seguros. Parece um gesto inofensivo, mas pode ser perigoso para a saúde: guardar arroz cozido no frigorífico mais de um dia pode provocar uma intoxicação alimentar. O aviso é da engenheira alimentar Susete Estrela, que explica como este erro, frequente em muitas casas, permite o desenvolvimento de uma bactéria que resiste ao calor e não tem cheiro nem sabor.
A especialista explica que o risco está na bactéria Bacillus cereus, presente em grãos crus e capaz de resistir mesmo depois da cozedura. Quando o arroz é deixado a arrefecer à temperatura ambiente ou ao guardar no frigorífico durante mais de um dia, esta bactéria pode multiplicar-se e produzir uma toxina chamada cereulide, que não é eliminada mesmo após o reaquecimento.
“É uma toxina invisível, sem cheiro e sem sabor, que resiste ao calor e pode causar intoxicações mesmo depois de o arroz ser reaquecido”, alerta a engenheira alimentar, citada pela revista Sábado.
O que pode acontecer se o arroz for consumido
Os sintomas mais frequentes associados à ingestão desta toxina incluem náuseas, vómitos, diarreia e mal-estar geral. Embora em muitos casos passem em poucas horas, a repetição deste tipo de contaminação pode ter efeitos mais duradouros, afetando o intestino e reduzindo as bactérias protetoras da flora intestinal.
De acordo com Susete Estrela, “a segurança dos alimentos é o primeiro pilar de uma alimentação saudável”. Por isso, guardar o arroz de forma incorreta ou durante demasiado tempo é suficiente para transformar um alimento nutritivo num risco silencioso.
Alimentação saudável também pode ser perigosa
A engenheira alimentar lembra que comer bem não é o mesmo que comer de forma segura. “Há famílias que não adoecem por comer mal, mas por comerem de forma insegura”, explica. O problema está nos hábitos enraizados, transmitidos de geração em geração, que hoje se tornaram desajustados à realidade alimentar atual, segundo a mesma fonte.
“Os alimentos percorrem longas cadeias de produção e transporte antes de chegarem à nossa mesa. Precisam de cuidados diferentes dos que existiam na cozinha da avó”, acrescenta.
Outros erros comuns nas cozinhas portuguesas
Entre os comportamentos de risco, a especialista identifica também o hábito de lavar o frango cru, que espalha bactérias pela bancada e utensílios, e o de provar a comida para saber se está estragada, uma prática enganadora, já que muitas toxinas não alteram o sabor nem o cheiro.
Outro erro frequente é deixar a comida arrefecer toda a noite fora do frigorífico. Mesmo que pareça inofensivo, este gesto favorece o crescimento bacteriano e pode comprometer a segurança da refeição no dia seguinte.
Materiais que podem aumentar o risco
Susete Estrela recomenda também atenção aos recipientes usados para guardar comida. Os plásticos antigos, riscados ou utilizados no micro-ondas podem libertar substâncias químicas que migram para os alimentos. “O vidro é a escolha mais segura. É estável, não interage com o que guardamos e não transfere riscos invisíveis”, explica, citada pela mesma fonte.
A mesma precaução deve ser aplicada ao uso de papel de alumínio. A especialista lembra que este material não deve ser usado em contacto direto com alimentos ácidos, como tomate ou citrinos, para evitar que partículas de alumínio passem para a comida.
Como prevenir intoxicações alimentares
Para reduzir riscos, Susete Estrela recomenda arrefecer o arroz rapidamente depois de cozido, guardar no frigorífico apenas pequenas porções e consumi-lo no prazo máximo de 24 horas. “Nunca deve ser reaquecido mais do que uma vez”, sublinha.
Outras boas práticas incluem manter o frigorífico entre 2 e 4 graus, separar alimentos crus de cozinhados e substituir tábuas e recipientes quando estão riscados ou danificados, de acordo com a Sábado.
Um alerta para mudar hábitos
A engenheira alimentar, que também é mentora de nutrição integrativa, defende que a segurança alimentar deve ser vista como parte essencial de uma vida saudável. “Cozinhar de forma segura é cuidar da saúde e do planeta. Pequenas mudanças de atitude podem evitar doenças e proteger famílias”, afirma.
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