A lampreia é um dos pratos mais emblemáticos da gastronomia portuguesa, especialmente apreciado nas regiões ribeirinhas do Tejo e do Minho. Considerada uma iguaria de sabor intenso e tradição secular, este peixe ciclóstomo tem vindo a tornar-se cada vez mais raro, levando a um aumento significativo do seu preço. Apesar das dificuldades na captura e da diminuição da sua abundância nos rios nacionais, a lampreia continua a ser um símbolo culinário que atrai apreciadores e turistas, sendo celebrada em festivais gastronómicos e promovida como um produto de excelência.
Escassez no Rio Tejo
A pesca da lampreia tem sido um desafio crescente para quem trabalha no rio Tejo. Nos últimos anos, a escassez desta espécie tem levado muitos pescadores a considerarem o negócio inviável.
Rui Ferreira, pescador com mais de quatro décadas de experiência no Tejo, recordou à Sic Notícias tempos em que uma lampreia era vendida a cinco euros. Atualmente, os preços podem ultrapassar os 120 euros, uma diferença que reflete a sua crescente raridade.
Nos restaurantes da região, onde a lampreia faz parte da tradição culinária, a situação não é diferente. O que antes era um prato abundante nos menus tornou-se cada vez mais difícil de encontrar.
Com a oferta a diminuir, o custo da lampreia tem disparado, mas a procura mantém-se elevada. Contudo, já há quem receie que, num futuro próximo, este peixe possa desaparecer das ementas.
Para os habitantes das zonas ribeirinhas do Tejo, a lampreia é mais do que um prato tradicional – é um símbolo da gastronomia local. No entanto, garantir a sua presença no futuro depende de medidas eficazes para preservar a espécie.
E no Minho?
No norte do país, a realidade não é muito diferente. No rio Minho, a lampreia tornou-se um verdadeiro luxo, atingindo preços elevados e sendo cada vez mais escassa, conforme noticiado pelo Jornal de Notícias.
Numa conferência de imprensa em Paredes de Coura, Carlos Fernandes, especialista em Gastronomia e Turismo do Instituto Politécnico de Viana do Castelo, afirmou que a lampreia deve ser promovida como um produto exclusivo. “Já há três anos que não como lampreia porque por 120 ou 150 euros (que cada uma custa) compro três cabritos na minha terra”, comentou o especialista, sublinhando o impacto do aumento de preços.
A iniciativa “Lampreia do Rio Minho – Um Prato de Excelência”, promovida pela ADRIMINHO, arrancou a 15 de janeiro e decorrerá até 30 de março. Carlos Brandão, coordenador da associação, reconheceu que foi necessário rever os preços nos restaurantes aderentes.
“Temos que promover a lampreia como um prato de excelência, raro, infelizmente cada vez mais raro. É um desafio que o território tem de enfrentar”, afirmou, salientando a necessidade de encontrar soluções para minimizar a escassez.
A subida dos preços é inevitável, tendo em conta que o valor de compra ao pescador ronda os 150 euros. Segundo Carlos Brandão, existem normas para os restaurantes, mas o preço de mercado dita os valores praticados.
Atualmente, um restaurante fora da região do Minho chegou a cobrar 220 euros por uma lampreia, valor que daria para quatro pessoas. Nos estabelecimentos aderentes à iniciativa, os preços variam, mas rondam os 200 euros para este peixe, respeitando a margem de lucro dos restaurantes.
Manoel Batista, presidente da Comunidade Intermunicipal do Alto Minho, sublinhou a importância de continuar a promover os produtos gastronómicos tradicionais. No entanto, reconheceu que a redução da lampreia no rio Minho é uma dificuldade crescente.
Apesar da escassez, os organizadores procuram inovar e atrair novos apreciadores. Este ano, foram apresentados pratos alternativos como croquetes e piza de lampreia, numa tentativa de diversificar a oferta.
Garantir a continuidade de este peixe na gastronomia nacional exige um esforço conjunto de pescadores, empresários e autoridades. Sem medidas concretas, a tradição pode estar em risco. Enquanto o futuro da lampreia permanece incerto, os consumidores terão de se adaptar à nova realidade: um prato outrora acessível tornou-se num verdadeiro luxo à mesa.
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