Hoje a Europa está em todo o lado e todo o lado é Europa
Gouveia, Guarda, foi a terra que me viu nascer. Talvez, tal como a Vergílio Ferreira, tenham sido os ares da Serra que me fizeram despertar para a vontade de querer ver o mundo. Uma inquietude que nunca se ultrapassou. Explico-vos como.
Não obstante, não só de Gouveia se faz a Estrela, pelo que foi em Seia que a cultura erudita despertou em mim e ingressei no Conservatório de Música, na bela arte do violino, pela mão do Professor Ludovic. Este percurso perdurou 8 anos, paralelo ao ensino básico e secundário. Certamente, terá sido neste ponto que com Bach, Mozart, Lalo, Tchaikovski, sem faltar o preferido Rachmaninoff, e o português Braga Santos, comecei a descobrir a Europa através da cultura.
Sobretudo, aprendi que a música e a matemática não são assim tão indissociáveis como se possa pensar num primeiro espectro. Uma sem a outra não existem. Eu próprio não existiria sem ambas.
Porque hoje a Europa está em todo o lado e todo o lado é Europa, a União oferece aos seus jovens um mecanismo de participação cívica e promoção da cidadania europeia exímio. Falo exatamente do programa Erasmus+. Este que me permitiu descobrir que havia mais mundo aos meros 17 anos.
Através do projeto Erasmus+ Empower Students with Entrepreneurial Skills [Empoderar os estudantes com competências empreendedoras], fiz a primeira viagem ao estrangeiro, evidentemente. Até Halifax, no Reino Unido. Por 1 semana, com jovens de toda a Europa Espanha, Roménia, Itália, Alemanha e Finlândia -, desenvolvemos as chamadas soft skills e criamos amizades internacionais.
Enquanto a primeira aventura do Erasmus terminava, logo outra começava. Desta vez em Coimbra, que me acolheu por mais 6 anos. Escolhi a Universidade de Coimbra como Alma Mater. Ou foi ela que me escolheu a mim, nunca percebi bem. Inicialmente, na Faculdade de Economia, e depois com um pézinho na Faculdade de Ciências e Tecnologia, formei-me em Gestão (licenciatura) e posteriormente em Métodos Quantitativos em Finanças (mestrado). Fui feliz. Será ainda aqui, na cidade banhada pelo Mondego, que se iniciará o meu percurso associativo, com derrotas que construíram as vitórias, com desconhecidos que se tornaram amigos.
Pois bem, graças ao programa Erasmus e um conjunto de pessoas determinadas e orientadas pelos valores desta grande União juntei-me à Erasmus Student Network (ESN) Coimbra. Onde cresci e procurei criar impacto na sociedade, com a perspetiva de a tornar mais tolerante e inclusiva. Mais assente nos direitos humanos e livre. Mais democrática e digna. Foi ainda na ESN que percebi a força do multiculturalismo e a necessidade de apoiar a integração de estudantes internacionais na comunidade local e, ainda, o quanto a comunidade local ganhava por contactar com jovens de diferentes realidades de todo o mundo.
Na ESN fui desenvolvendo o meu percurso, crescendo, sobretudo, a nível pessoal. As sinergias que foram criadas com todas as instituições da cidade ainda hoje perduram e tornaram-se intrínsecas à própria dinâmica da cidade. Tanto o é através da participação na Comissão Permanente do Conselho Municipal de Juventude de Coimbra, onde se pretendeu levar a visão da importância da internacionalização da educação, assim como, a essencialidade representada pelo programa Erasmus+ enquanto promotor da cidadania e identidade europeia.
Um projeto que recordo com especial carinho foi o estabelecimento das bases para o que viria a ser o Student Council [Conselho de Estudantes] da aliança europeia de universidades EC2U – European Campus of City Universities [Campus Europeu de Cidades Universitárias]. Sempre consideramos a representação estudantil essencial nos órgãos de decisão do ensino superior, assim como a criação de um espaço onde os mais de 200 000 estudantes e jovens pudessem participar e ver a sua voz representada no futuro desta aliança. Assim aconteceu conjuntamente com a Associação Académica de Coimbra.
Chega então o momento de passarmos para um panorama nacional. Tive a honra de servir como presidente da ESN Portugal durante o ano letivo de 2023/2024. Estivemos determinados em dois objetivos essenciais: providenciar mais apoio aos estudantes internacionais provenientes da Comunidade de Países de Língua Portuguesa (CPLP) e desenvolver Tomadas de Posição que explanassem, não só as dificuldades de acesso à mobilidade internacional de estudos, mas sobretudo apresentar soluções sustentáveis aos decisores políticos.
Aproveitando o momentum, surge então o “Caderno Reivindicativo para as Eleições Europeias” da ESN Portugal onde se apresentam recomendações para 6 áreas essenciais: Mobilidade Internacional; Digitalização dos Programas de Mobilidade; Sustentabilidade e Transportes Verdes; Inclusão Social, Saúde e Bem-Estar; Alojamento e Habitação; e, Impactos da Participação Civil. Apresentadas aos partidos políticos do panorama democrático.
Para além disto, construímos Tomadas de Posição para áreas essenciais: Lei do Voluntariado; Estatuto do Estudante Internacional; e, Saúde e Bem-Estar. Todas complementares entre si.
Foi em janeiro de 2024 que se iniciou um novo mandato do Conselho Nacional Juventude, desta vez, e pela primeira vez, com a ESN como um dos membros da direção. Com um foco bastante claro: fazer ouvir a voz do “jovem internacional”. O jovem cosmopolita, que acredita na cooperação entre os Estados como fonte de desenvolvimento através da educação. Do jovem que percebe o papel essencial de Portugal na diplomacia internacional. Do jovem que acredita na força da lusofonia.
É por demais evidente o impacto positivo que a ESN pretende criar na sociedade e a este ponto espero já ter convencido o caro leitor da importância do programa Erasmus no desenvolvimento pessoal e profissional dos jovens e das suas repercussões positivas na sociedade. Despeço-me a acreditar no papel transformador dos jovens e na sua motivação para mudar o mundo.
*Nota Bibliográfica: José Francisco Silva tem 25 anos, é mestre em métodos quantitativos em finanças (Universidade de Coimbra). Trabalha como analista de risco. É Membro da Direção do Conselho Nacional de Juventude e foi Presidente da ESN Portugal (2023/2024).
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