No azul tranquilo do Mediterrâneo, há um espaço que junta natureza e cultura de forma invulgar. Trata-se de uma galeria de arte subaquática, criada para ser observada debaixo de água e que já atrai visitantes de vários países.
O projeto nasceu em França, com o intuito de dar um novo uso a um recanto da costa francesa e, ao mesmo tempo, contribuir para a preservação ambiental. Neste país com um número alto de emigrantes portugueses, a obra foi encarada como uma forma de cruzar arte e ecologia num ambiente marinho em constante transformação.
Uma instalação pioneira na Europa
Desde 2021, a Ilha de Sainte-Marguerite, ao largo de Cannes, alberga o Eco-Museu Subaquático. É a primeira galeria de arte subaquática do continente europeu e representa uma nova forma de aproximar o público da vida marinha.
O local foi escolhido não só pelo valor natural, mas também pelo potencial de criar um refúgio protegido para a fauna e a flora do Mediterrâneo. A área está delimitada por boias e encontra-se interdita à navegação.
Esculturas que se tornam recifes
As obras são da autoria do britânico Jason deCaires Taylor, artista com trabalhos semelhantes em locais como o México, as Maldivas, as Bahamas e Lanzarote. Em Cannes, produziu seis esculturas monumentais com rostos de habitantes locais.
Cada peça tem cerca de 2,5 metros de altura e pesa em média dez toneladas. Foram feitas com materiais de pH neutro e não poluentes, preparados para servirem de suporte à colonização por corais, algas e outros organismos.
Um percurso debaixo de água
As esculturas estão colocadas entre três e cinco metros de profundidade, a uma distância de 80 a 150 metros da costa. Assim, quem mergulha encontra um percurso subaquático acessível e seguro.
Com o tempo, as superfícies lisas transformam-se em recifes vivos. Por essa razão, não é permitido tocar nas peças, já que qualquer contacto pode danificar o ecossistema em formação.
Como chegar à ilha
A viagem até ao Eco-Museu começa em Cannes, com um percurso de barco de cerca de 15 minutos, operado pela Compagnie Trans Côte d’Azur. Depois, segue-se uma caminhada de 1,3 quilómetros através de um pinhal até ao ponto de mergulho.
A curta duração da viagem permite que a experiência seja feita num único dia, funcionando como uma alternativa às visitas culturais em terra.
História e património à superfície
A Ilha de Sainte-Marguerite é a maior das Ilhas Lérins e combina natureza e história. Tem três quilómetros de comprimento, é coberta por pinhais e eucaliptais e está atravessada por trilhos pedestres.
No local encontra-se o Fort Royal, fortificação do século XVII que mais tarde foi usada como prisão. Foi aqui que esteve encarcerado o enigmático “Homem da Máscara de Ferro”.
Um arquipélago com tradição monástica
Ao lado, a Île Saint-Honorat é ocupada por monges cistercienses há mais de 1.600 anos. No mosteiro continuam a produzir vinho artesanal, ligando espiritualidade e tradição agrícola.
O conjunto das duas ilhas oferece um ambiente de silêncio e recolhimento, em contraste com a agitação cosmopolita de Cannes.
Arte, natureza e futuro
O Eco-Museu Subaquático acrescenta um elemento contemporâneo a este património. Ao conjugar escultura e ecossistema, cria uma obra viva e mutável, em constante interação com o meio marinho, a página de notícias Meteored descreveu-a como “uma viagem curta até um mundo diferente”, referindo ser “um lugar onde o passado e o futuro se encontram, separados apenas pela superfície da água”.
A galeria de arte subaquática funciona, assim, como ponto de encontro entre passado e futuro, mostrando como a criação humana pode dialogar com a natureza.
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