Durante anos, este pequeno ilhéu situado na Europa foi um verdadeiro paraíso mediterrânico. A sua famosa Lagoa Azul tornou-se um íman para turistas de todo o mundo, muito graças às redes sociais. Agora, o mesmo começa a reagir à pressão do excesso de turistas, com o governo de Malta a ver-se forçado a adotar novas regras para proteger o local.
Sentado num café na Baía de Marfa, em Malta, Colin Backhouse observa o ilhéu de Comino ao longe. Com apenas 3 km por 5 km, é uma ilha rochosa, rodeada por águas de tons azul-turquesa e azul-escuro, que já foi um refúgio calmo e pouco conhecido.
O “Inferno na Terra”
Backhouse, criador da página “Malta Holiday Experiences”, com mais de 51 mil seguidores no Facebook, recomenda os melhores sítios para visitar nas ilhas maltesas. No entanto, há um local que evita sugerir. “É maravilhoso nesta altura do ano”, diz, apontando para Comino. “Mas no verão? Nem me pagavam para lá ir. É o inferno na Terra.”
Paraíso de águas cristalinas
A Lagoa Azul é uma das atrações mais emblemáticas de Malta, com águas cristalinas que refletem a luz sobre um fundo calcário branco, criando um cenário considerado por muitos ‘perfeito’ para fotografias, como refere a ZAP. No inverno, reina a tranquilidade. Mas no verão, o cenário muda radicalmente: multidões apertadas, lixo espalhado e barcos com música alta contribuem para um ambiente caótico, com o excesso de turistas a praticamente ‘estragar’ o local.
Backhouse lembra-se da primeira vez que visitou Comino, em 1980. “Era um sítio isolado, quase intocado. Hoje, vejo a destruição acumulada ao longo dos anos. Já nem percebo o que atrai tantas pessoas.”
Muitos saem desiludidos
A frustração com o excesso de turismo é partilhada por muitos. Há quem considere a visita a Comino uma deceção, com barcos sobrelotados, falta de infraestruturas e danos ambientais. A pressão sobre as autoridades aumentou nos últimos anos.
Em 2022, o grupo de ativismo local Movimenti Graffiti retirou espreguiçadeiras da ilha como forma de protesto contra a exploração comercial do espaço público. A mensagem era clara: Comino precisa de ser protegida, não explorada.
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Aparição em filmes e séries
A popularidade da Lagoa Azul foi reforçada por aparições em filmes como O Conde de Monte Cristo, Troia e até em episódios de Game of Thrones. Mas foram as redes sociais que colocaram o local no centro das atenções, atraindo milhares de visitantes em busca da “fotografia perfeita”.
“Está no topo da lista de desejos de muitos turistas”, afirma Rebecca Millo, responsável de marketing da companhia aérea KM Malta. “Muitos chegam e querem ir diretamente para lá.”
Reação das autoridades maltesas
Este ano, as autoridades maltesas decidiram agir. Para proteger o ilhéu, que faz parte da rede ecológica Natura 2000, vão limitar o número de visitantes diários a 5000, reduzindo as excursões de barco para metade. Embora seja um passo importante, os ambientalistas consideram a medida insuficiente para combater o excesso de turistas.
“Limitar o número de pessoas é um bom início”, afirma Mark Sultana, da BirdLife Malta. “Mas é preciso um plano mais abrangente que vá além do controlo das multidões e garanta a conservação do ecossistema.” Defende ainda um sistema de bilhetes limitados por dia.
Não é caso único
Comino não é caso único. Cidades como Veneza e Atenas também adotaram medidas para conter o turismo de massas. A tendência aponta para um turismo mais sustentável e consciente. Joanne Gatt, guia turística em Malta, ouve frequentemente queixas dos visitantes. “As pessoas esperam encontrar um paraíso e saem desiludidas. É tudo muito desorganizado. Esperamos que o novo limite ajude a mudar isso.”
Com estas novas regras, há esperança de que Comino recupere parte do seu encanto perdido e volte a proporcionar uma experiência mais calma, respeitadora da natureza. Mas para muitos, os estragos já estão feitos. “Com tanta pressão ano após ano, só espero que reste algo para as próximas gerações”, conclui Joanne Gatt.
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