Ao longo da história, muitos povos emigraram para fugirem de repressão política e religiosa, da pobreza, ou pela miragem de melhores condições de produção e deram às regiões e povoações em que assentaram nomes das terras donde vieram: Santarém, Alenquer, Óbidos, Almeirim e Alter do Chão nas margens do Amazonas; acompanhando a Reconquista, Franceses fundaram povoações como Tolosa, Provença, Niza e Lousã; a invasão muçulmana trouxe topónimos como Tunes ou Odelouca (rio Loukkos) e mesmo a designação Algarve.
A Península dita Ibéria pelos Gregos tem na região do Cáucaso uma outra Ibéria que correspondia ao reino de Cártlia, situado no Sudeste da atual Geórgia. A utilização do termo Ibéria, para ambas as regiões, sempre suscitou a ideia de alguma relação entre os povos ditos “iberos” do Oeste e do Este.

Professor coordenador (aposentado).
Escola Superior de Educação e Comunicação, Universidade do Algarve
Na região que agora abrange a Geórgia, Azerbaijão, Arménia e partes de norte do Irão, surgiram comunidades que praticavam a agricultura, a domesticação animal e a produção de vinho (entre 8 e 6000 ac.), tornando-a um dos primeiros exemplos de sociedades agrícolas estabelecidas. As sucessivas migrações e ocupações de povos de língua indo-europeia a partir do final do terceiro milénio ac. acabam por originar o reino de Cártlia nas margens do Mar Negro, assim como o reino da Cólquida, situado a Norte, ambos na atual Geórgia. O II milénio ac. corresponde ao desenvolvimento das grandes civilizações do Próximo Oriente: Egito, Babilónia, Grécia, Hitita. Desenvolve-se a escrita em todos eles e a idade do Bronze. Surgem sociedades estruturadas e palácios e templos em grandes cidades. Apenas em 302 ac. a Cártlia e a Cólquida foram libertadas em conjunto do domínio Persa, por outro invasor, Alexandre Magno, formando um reino independente que existiu até ao sec. V dc., que no período de maior extensão terá abrangido a região da Albânia caucasiana, ligando o Mar Negro ao Cáspio, no que hoje corresponde à Geórgia, partes da Arménia, do Azerbaijão e o Daguestão (Rússia).
Os dois últimos séculos (1200-1000 ac.) do segundo milénio correspondem a um tempo de desestruturação dos territórios do Próximo Oriente e Anatólia. Invasões de povos vindos das planícies da Ásia Central, através do Cáucaso e das planícies a norte do mar Cáspio e os ataques dos Povos do Mar, provocaram a repentina decadência das civilizações do Próximo Oriente, exceto a Egípcia, abrindo o Próximo Oriente à ocupação de novos povos/nações, como filisteus, hebreus, frígios, fenícios, etc.
Descontando imprecisões, fica claro que na região que vai do nordeste da Anatólia até ao sul da Rússia, do Mar Negro ao Cáspio, chegaram povos que disputaram territórios pela sua riqueza, mas também por constituírem a passagem no Cáucaso. Fica também claro que os que lá estão numa certa época, não são os mesmos que primeiro aí se instalaram. Esta região alberga a maior densidade etnolinguística do mundo, com expressão ainda hoje na Ossétia, Abcásia ou Nagorno-Karabach.
Foi neste reino da Cólquida-Ibéria que os comerciantes das cidades Gregas estabeleceram colónias a partir do sec. VIII ac., mas também relações de amizade e uma intensa troca cultural atestada pela fundação de templos a deuses gregos nestes territórios e templos a deuses destas regiões na Grécia. No entanto, embora no séc. VII ac. houvesse cerca de 90 colónias Gregas no Mar Negro, apenas duas se situam nesta costa,talvez pela instabilidade da região a que chamaram Ibéria. Esta região, constituía a fronteira conhecida dos gregos como “região rica em ouro”, onde iam os navegadores e mercadores trazer produtos ricos e exóticos. Tal gerou mitos e histórias fantásticas que deram origem a uma literatura que estruturou a cultura grega, como a narrativa mítica do “Velo de Ouro e os Argonautas” ou o mito das “Pelíades”, quesimbolizaram a riqueza aurífera e o interesse pela região, mas também a fronteira do conhecido, campo para a fantasia dos heróis e do fantástico. Não fica claro por que os Gregos lhe chamaram Ibéria!

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