A história de Balsa é revelada, pela primeira vez, por Estácio da Veiga na segunda metade do século XIX, que dá conta de vestígios arqueológicos que se encontravam dispersos por hectares e hectares de vinhas, pomares, hortas e casario nas margens da ria Formosa.
Nas coleções do Museu Nacional de Arqueologia estão mais de 8 mil registos de peças que foram do Algarve para Lisboa. Os vestígios de necrópoles, uma parte habitacional, edifícios com mosaicos, tanques de salga de peixe, cerâmica e moedas ainda por lá subsistem, mas em larga medida a cidade continua por descobrir (frases resultam de documentação diversa publicada).
Exposição “Balsa Cidade Romana” patente no Palácio da Galeria
Esta exposição é muito mais que uma mostra de artefactos, muito mais que um repositório de ações passadas visando “conhecer” Balsa é muito mais que a riqueza e diversidade do espólio aqui mostrado.
Existe uma qualidade na conceção museológica do espaço em que se desenvolve, que surpreende. Percorridas as oito salas, assalta-nos o desejo de reiniciar o percurso, tal a empatia que a exposição causa ao visitante, então, se for tavirense, conhecedor do enquadramento socio-cultural-geográfico, fica cativado e identificado com um passado que muito provavelmente lhe era desconhecido.
Do empenho e dedicação dos obreiros desta exposição resulta uma extraordinária lição histórica da nossa ancestral comunidade.
A diversidade temática e a abrangência temporal levam o visitante a navegar pela história desta nossa urbe, despertando-lhe interesse e a curiosidade em conhecer mais.
Estamos, em verdade, na presença dum “embrião” dum futuro museu, que, pela forma como está “desenhado”, merecerá a transformação em espaço museológico definitivo que comporte os testemunhos arqueológicos que se encontram dispersos e que urge recolher.
Muito mais haverá que explorar e divulgar, no contexto “Balsa”, para além da “mostra” aqui patente. Essa será também a ideia dos “fazedores” desta exposição e, decerto, numa próxima abordagem irão dar-nos a conhecer mais do rico historial que Balsa arrasta.
Haverá que aprofundar, trazendo ao conhecimento popular, o genial labor do primeiro arqueólogo português, o tavirense Estácio da Veiga, pioneiro da arqueologia em Portugal que em Balsa recolheu inúmeros artefactos, uns por prospeção pessoal, outros por dádivas e outros ainda por aquisições onerosas e fazer o historial da inconsequente fundação do Museu Arqueológico Nacional, por si idealizado, cujo destino foi o adormecimento, nas caves do Mosteiro dos Jerónimos, onde jazeu por mais dum século, do verdadeiro tesouro arqueológico que juntou, com múltiplas peças oriundas de Balsa.
Haverá que explanar publicamente a dedicação dos sucessivos empenhos que Balsa motivou, daí resultando estudos e investigações que constituem um manancial histográfico relevante para o conhecimento e mui honroso para Tavira.
Nomes como Sebastião Martins Estácio da Veiga, Maria Luísa Estácio da Veiga, Maria Garcia Pereira Maia, Manuel Maia, Catarina Viegas, João Pedro Bernardes, Vasco Mantas, José d’Encarnação, Luís Fraga da Silva, Cristina Garcia, Carlos Fabião, e muitos outros, deixaram valiosíssimos contributos sobre “Balsa”, que constituem valiosos registos da nossa história.
Devemos ter por obrigação divulgar tais estudos e investigações, elevando-os ao estatuto de valores da nossa identidade, como contributo para o culto das nossas memórias, por forma a legar aos vindouros esta prebenda que a história nos facultou.
Ressalta destes breves conceitos a quão oportuna, indispensável e ansiada, criação, em Tavira, de uma estrutura museológica permanente, alicerçada em “Balsa” e do importantíssimo contributo que Tavira e os tavirenses aportaram à Arqueologia Nacional.
Em tempos, ao ser reativado, circunstancialmente, o interesse por “Balsa”, foi aventada a ideia de, no local, se vir a criar um centro interpretativo e um museu arqueológico. Afigura-se que tal se reveste da maior valia e interesse, mas não na localização inicialmente aventada, a zona da Torre de Ares.
Não se vê viabilidade de o realizar no local sugerido. Por acessibilidades deficientes, por questões de direitos de propriedade e até pelo avultado investimento que tal opção comportaria. Acresce que o isolamento do local não é propício à frequência de públicos requerida numa estrutura desta natureza, conduzindo a um “divorcio” da população para com tão importante centro cívico e memorial.
Tal ideia é de excecional valia, se concretizada em Tavira, em espaços adequados, dando um primordial contributo para o enriquecimento cultural e constituindo um vetor turístico de especial relevância.
Seria uma forma de projetar a nossa cidade no meio científico, por mais tendo como alicerce a eminente figura da arqueologia nacional, o tavirense Estácio da Veiga e todos os arqueólogos que perseguiram o sonho de trazer “Balsa” à luz do conhecimento.
Decerto que os tavirenses, eventualmente detentores de “peças” provenientes de “Balsa”, se sentirão orgulhosos em colaborar no surgimento de tão importante meio cultural na sua terra, cedendo-as por doação ou empréstimo ao Museu Arqueológico de Tavira, o qual, permitimo-nos desde já sugerir seja designado por Museu Arqueológico “Estácio da Veiga”.
Prestar-se-ia assim uma muito devida homenagem a este distinto tavirense e, simultaneamente, contribuir-se-ia para a expansão e elevação do nome da nossa cidade e suas gentes.
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