Numa manhã ensolarada, estava a tomar café no “Mira” e olhando para o decrépito Cineteatro António Pinheiro, pensei que eventualmente poderia ser uma solução para as instalações do Conservatório Regional de Tavira que fundei e que funcionava num 1.º andar, propriedade do chefe dos bombeiros de Tavira. Haviam uns rumores que a IURD estava a sondar os proprietários para a compra do imóvel. Não sei se era verdade, mas a ser, era um problema grave e poderia acontecer que Tavira ficasse com um “Templo” desta seita para todo o sempre, como aliás aconteceu com o cinema Império em Lisboa. Falei com o presidente da Câmara eng.º Macário Correia que me autorizou a fazer contactos com o proprietário maioritário, o Dr. Alexandre Cesário, afim de negociar a compra do imóvel.
Fiz de pombo correio e negociador, sendo parte interessada, pois queria instalar lá o Conservatório.
Fundou-se uma Associação, o “Fórum Cultural de Tavira”, da qual faziam parte a saudosa Dona Adelaide Palmilha, eu como presidente, o director do cineclube de Tavira André Viane, a Drª Sara Mansinho e a professora Carla Lopes, entre outros.
A compra foi financiada pelo Banco Espírito Santo e o empréstimo autorizado pelo próprio CEO.
A escritura foi realizada em Loulé assinada por mim, mandatado para tal pela CMT a altas horas da noite no edifício do Tribunal.

Presidente da Associação Artedosul
Director Artístico do Festival Internacional de Piano do Algarve
Director Artístico do Festival Algarve Classic
O presidente Botelho disse-me na altura que provavelmente iria abandonar o projecto por este ter problemas de estacionamento, o que para mim obviamente era uma desculpa esfarrapada para não dar seguimento ao projecto que não era o 'dele'
Posteriormente fez-se uma encomenda de um projecto ao arquitecto Júlio Quaresma de Lisboa, e cujo esquiço aqui apresento. Tive uma reunião com a directora dos centros históricos na altura, que me revelou a sua preocupação quanto à “teia “(caixa de palco) que efectivamente tem de ter 18 metros de altura e não é esteticamente bonita. No projecto que eu e o eng.º Macário Correia mandámos fazer, como se pode verificar, esta ficava disfarçada, e o edifício tinha uma dinâmica modernista, não perpetuando o aspecto salazarista que o edifício tem. Quando foi comprado, o António Pinheiro comportava cerca de 700 lugares entre plateia e balcão. Penso que o actual projecto diminuiu significativamente o número de espectadores, o que é um erro crasso, pois desse modo inviabiliza-se qualquer rentabilidade financeira de um espectáculo, ficando assim sempre dependente do apoio camarário. Terminado o meu mandato como director do Conservatório, que deixei sem dívidas e que os meus sucessores decidiram integrar na actual Academia de Música, e entregue o edifício do Cineteatro à Câmara, cessei as minhas funções em Tavira.

No entanto, e após a saída do eng.º Macário, voltei a Tavira para perguntar ao então presidente Botelho, o que tencionava fazer em relação ao projecto por nós iniciado. O presidente Botelho disse-me na altura que provavelmente iria abandonar o projecto por este ter problemas de estacionamento, o que para mim obviamente era uma desculpa esfarrapada para não dar seguimento ao projecto que não era o “dele”.
O resto já é conhecido, mas gostaria de dizer que quando a política interfere nas coisas da cultura e vice-versa normalmente o resultado não é bom.
Tavira deve assumir um papel mais preponderante na área cultural e para tal necessita de um Auditório condigno. Era necessário que se tivesse feito algo diferente e não colocar “botox” no velhinho António Pinheiro. Toda a gente sabe de programação, de auditórios, mas quando não são ouvidos os que verdadeiramente sabem da matéria, o resultado está à vista.
É pena porque se perdeu uma oportunidade, pois não se constroem auditórios todos os anos.
Tentei dinamizar a vida cultural e criei o Tavira XXI com o apoio da Direcção Geral das Artes. O piano Bechstein que existe foi comprado por mim para o Conservatório e só espero que o coloquem no “novo” auditório. Tenho pena que o meu antigo e modesto funcionário, agora director da Academia, não tenha agarrado a dinâmica da altura e dar-lhe continuidade.
Só me resta desejar-vos boa sorte. Quando é a inauguração?
O autor escreve de acordo com a antiga ortografia
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