Há tendência para dizer que sobre o Algarve e o seu turismo está tudo dito e o que agora é preciso é passar das palavras aos actos. Em consciência, temos de concordar que, na realidade, já existem orientações e acções de tal maneira evidentes e consensuais, na região e sobre a região, que excluem mais estudos, análises, propostas ou comentários. O que é preciso é agir.
Em linhas gerais, o que falta ao Algarve é uma VISÃO esclarecida sobre um modelo de desenvolvimento económico e social. Um modelo que leve em consideração a aspiração legítima do Algarve pretender, por um lado, ser a região mais rica e desenvolvida de Portugal e, por outro, crescer a um ritmo económico elevado, contribuindo deste modo para o aumento da riqueza e prosperidade do país e, por essa via, melhorar a vida das populações residentes.
Em suma, mais do que repensar o Algarve é sobretudo preciso assumir o Algarve. Não porque isso satisfaz os interesses dos algarvios ou dos seus empresários, mas porque isso é do interesse público do País.
O que falta ao Algarve é uma VISÃO esclarecida sobre um modelo de desenvolvimento económico e social
Há um sentimento instalado nos diversos sectores da sociedade algarvia que esta incompreensão nacional sobre o Algarve e, particularmente, sobre o seu turismo, resulta do seu fraco peso eleitoral, político, económico, social, cultural e da falta de uma liderança regional com capacidade de intervenção forte e credível.
É minha convicção profunda que muitos dos estrangulamentos com que a actividade turística do Algarve se confronta resultam, basicamente, do não entendimento da natureza e substância do turismo, de uma incapacidade em tomar as medidas adequadas e de uma insuficiência clara em concretizar o investimento público necessário ao fomento e desenvolvimento da economia regional.
Tudo isto conduziu à criação de uma cultura nacional, com alguns ecos na região, consubstanciada numa política que podemos designar por “Medo do Desenvolvimento”. No Algarve não se aprovam investimentos, no Algarve proíbem-se investimentos. Tudo isto conduziu a um modelo explicativo inadequado sobre o turismo da região e o seu desenvolvimento, traduzido em políticas erradas, profundamente injustas e lesivas dos interesses colectivos, tanto públicos como privados.
Esta política de travagem, não só do turismo como de toda a actividade económica regional, vem diminuindo a competitividade das nossas empresas e comprometendo o seu sucesso no futuro.
Para isso, precisamos de políticos e políticas corajosos, decididos e determinados que, sem se deixarem intimidar pela força do discurso negativo tradicional sobre o turismo e o Algarve, sejam capazes de entender que apesar da actividade turística algarvia deter a maior importância absoluta e o maior potencial de crescimento em Portugal, regista o maior atraso em investimentos públicos e enfrenta problemas específicos em várias áreas.
O ordenamento tem de ser prospectivo e com visão de futuro e ser capaz de compatibilizar os impactes das actividades humanas com os graus de protecção e implantação das actividades ambientais, devendo resultar de uma avaliação e de uma opção política calma, modesta e de bom senso.
O ordenamento não pode continuar a ser a expressão de políticas autistas e, por conseguinte, incapazes de entender a nobreza do ordenar e a modéstia que é preciso ter para o fazer na defesa do interesse público.
Por outro lado, e sem bons serviços, o Algarve não será competitivo no turismo e em outras actividades. É preciso garantir, em quantidade e qualidade, bons serviços de saúde, limpeza, abastecimento de água, electricidade, recolha e tratamento de águas residuais e resíduos sólidos urbanos, etc.
O Algarve e a actividade turística representam um campo prioritário para implementar uma estratégia inovadora em matéria de descentralização, redução da burocracia, ordenamento do território e, por essa via, produção de mais riqueza para Portugal.
Repensar o Algarve é apostar no futuro. O futuro começa na demonstração clara que todos os algarvios desejam e precisam de Mudança. A Mudança é um factor essencial de modernidade e de progresso.
* O autor não escreve segundo o acordo ortográfico