Mais do que reinventar o turismo e os empresários portugueses do sector, o que está em causa é a necessidade de uma reinvenção total do país, a começar pelo sistema de ensino e, muito principalmente, dos seus agentes políticos.
Razão tinha o outro quando afirmava que Portugal precisa mais de mestres do que de professores com elevadas competências pedagógicas, mas sem qualquer experiência profissional. Já o Rei D. Carlos, cujo reinado ficou marcado por sucessivas e permanentes instabilidades económicas e políticas, durante uma recepção ao corpo diplomático acreditado em Lisboa, perante a recomendação de um embaixador estrangeiro para que Sua Majestade se rodeasse de pessoas mais capazes, El Rei terá respondido: tem toda a razão, mas saiba V. Exª. que eu só me posso governar com os portugueses que tenho.
Haverá que reinventar o nosso sistema de ensino das escolas e das universidades
O que mais sobressai é uma nítida falta de capacidade, nomeadamente de índole política e governamental, em definir as regras e estratégias económicas e sociais, capazes de garantir mais-valias e valor acrescentado à economia portuguesa e, por essa via, ao bem-estar das populações residentes.
A reinvenção do turismo exige um esforço de todos, não apenas de algumas empresas ou sequer, apenas do Estado, mas um esforço colectivo que requer um conceito organizador e dinamizador por via da actuação estruturante do Estado, como principal orientador estratégico.
Quer se queira quer não, as coisas são o modo como as encaramos. Daí que se imponha a necessidade de outras reinvenções, porventura mais importantes e indispensáveis ao relançamento da nossa economia em geral e do turismo em particular.
E isto porque os esforços de planeamento e de organização a montante da actuação política, não permite o domínio das poderosas cadeias de comercialização, já que as nossas empresas não dispõem de dimensão nem de condições para um reposicionamento na cadeia de valor do turismo internacional.
Por outro lado, é preciso afirmar, claramente, que o nosso modelo de desenvolvimento não se encontra esgotado, como defendem alguns líderes de opinião e, muito menos, que o turismo português seja um sector com uma estrutura e um padrão de actividade rudimentares, próximo do turismo descoberto nos anos 60.
Uma coisa é certa: o turismo constitui uma das poucas oportunidades da economia portuguesa, incluído nos elementos estruturantes e motores de um modelo estratégico renovado, sendo mesmo um dos sectores de maior capacidade e potencial de desenvolvimento.
A verdade é que o turismo tem sido abordado, desde sempre, através de um discurso fácil, diria mesmo populista, sem o estabelecimento de uma lógica coerente entre os diversos pontos de vista e sem princípios de razoabilidade minimamente aceitáveis.
Portugal encontra-se, por um lado, atrasado a nível organizativo, tecnológico e de gestão e, por outro, o aumento competitivo das nossas empresas passa pela designada economia do conhecimento. Ou seja, na era global, teremos de ser capazes de inovar através de uma aprendizagem constante sobre o que se vai fazendo em outros países mais adiantados no seu desenvolvimento.
Neste contexto diria que, mais que reinventar o turismo, haverá que reinventar o nosso sistema de ensino das escolas e das universidades e, por conseguinte, dos próprios professores, enquanto elos mais fortes do sistema.
Os meios académicos desenvolveram uma tendência preocupante para se abrir pouco ao exterior, vivendo encerrados na sua concha protectora. Como referia um amigo meu, a maioria dos professores universitários carece de uma cura empresarial.
Estou certo de que se tal se verificasse, muitos deles não se arvorariam, do “alto dos seus poleiros”, em donos absolutos da verdade, até porque esta é, conforme todos sabemos, sempre subjectiva.
Não admira, portanto, que Portugal registe taxas elevadas de insucesso e abandono escolar, já para não falar do grande número de jovens que não termina a escolaridade obrigatória. O facto do nosso País deter uma das mais baixas frequências de trabalhadores em formação profissional acentua ainda mais estas e outras fraquezas, designadamente a fraca produtividade que se verifica na economia portuguesa.
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*O autor escreve de acordo com a antiga ortografia