“A arte é a mentira para conhecermos a verdade”.
Pablo Picasso
À medida que a humanidade, ao longo dos séculos, foi evoluindo do ponto de vista dos conhecimentos e recursos tecnológicos, as artes acompanharam essas mutações, surgiram novas concepções, disciplinas, técnicas e instrumentos de trabalho artístico.
A humanidade expressa-se de várias formas e através da arte, de todas as épocas nos chegaram obras produzidas pelas diversas civilizações. Em todos os continentes encontramos expressões da espiritualidade humana, a arte inspirada pelo transcendente e o divino.
Surgiram com o Renascimento e desenvolvimentos científicos “gabinetes de curiosidades”, espólios de viagens e conquistas, museus sobretudo a partir do século XVIII com o iluminismo, salões de arte, mercados para colecções públicas e de particulares com capacidades aquisitivas.
O aparecimento da fotografia no século XIX colocou, à representação realista, a necessidade de encontrar novas concepções e práticas pictóricas. A fotografia mostrava a realidade e o momento, provocou alterações conceptuais, emergiram movimentos artísticos como impressionismo, cubismo, surrealismo, abstracionismo, entre tantos outros.
Nos últimos dois séculos o cinema e o vídeo, mais recentemente a arte digital e inúmeras variantes ligadas às novas tecnologias.
Debates sobre a função da arte e a possibilidade de interpretar significados, envolveram pensadores como Marx e Freud, Nietzsche afirmava que “não existem factos, apenas interpretações”, Susan Sontag defendia que “o estilo interpretativo escava e ao escavar destrói”, “interpretar é empobrecer, exaurir num mundo de significados”.
Hoje dispomos de uma quantidade imensa de possibilidades de construção de programas que podem integrar conjuntos de obras apresentados e apoiados em curadorias especializadas, existem ao dispor da programação espólios dos museus nacionais, de colecções publicas e privadas, para além da produção de autoria.
Na direcção e programação das artes são indispensáveis cultura geral e conhecimentos pluridisciplinares que permitam compreender o movimento das ideias, os seus contextos sociais e expressões individuais, formação adequada e profissionalização. Neste contexto, amplo e variado, a história e sociologia da cultura e das artes são indispensáveis.
Não há programação em abstracto, esta não é uma sucessão avulsa de alinhamentos expositivos sem reflexão de prioridades, direcção estratégica e critérios de escolha.
O plano e programa estabelecem-se de acordo com a natureza publica ou privada das instituições promotoras, a missão, se detêm colecções ou espólios significativos, se prosseguem funções investigativas, educativas e pedagógicas de desenvolvimento sociocultural ou como finalidades o mercado das artes, caso de galerias de arte, empresas de edição e produção.
A forma de conceber a exposição, designada por museografia e também cenografia, sobretudo nas que fazem o encontro com as artes performativas e os audiovisuais.
É fundamental conhecer as características da cidade, dos seus habitantes e visitantes, as exposições devem ser concebidas para acesso de camadas da população com interesses específicos, de diferentes grupos etários e origens, democratizando o conhecimento e valorizando o local.
Em todas as esferas do conhecimento e de intervenção são necessárias formações nos diversos domínios da cultura, dada a complexidade dos assuntos a especialização das actividades e temas. Mantem-se no País a necessidade da oferta formação superior em gestão cultural para níveis de concepção/direcção e gestão dos recursos culturais, com especializações e cursos técnico-profissionais em áreas complementares, como produção e museografia, comunicação externa e interna, economia da cultura, avaliação de actividades, segurança e mobilidades,…
* O autor não escreve segundo o acordo ortográfico
* Sociólogo. Sócio da AGECAL, programador de Artes Visuais e Exposições de Faro 2005 – Capital da Cultura e de museus