- Por João Tavares
Milhões de pessoas visitam o Algarve todo o ano. Procuram o sol, a praia e a boa comida, e o setor do turismo e da restauração são reforçados com milhares de trabalhadores, e muitos deles têm de se contentar com contratos a termo e precários. Mas o Algarve é muito mais do que um ‘pacote turístico’ e quer apostar em outros ramos de atividades, e com recursos humanos de excelência. “Temos de diversificar a nossa economia e apostar na qualificação e formação profissional”, começa por destacar ao POSTAL a delegada regional do Instituto de Emprego e Formação Profissional (IEFP).
Os desafios são muitos e o Algarve não quer perder a corrida, isto num período em que as mudanças são cada vez mais rápidas e radicais. “O Algarve não é só restauração e hotelaria. A formação profissional tem de adaptar-se às necessidades atuais e futuras, resultantes da evolução e das alterações do mercado de trabalho”, salienta Madalena Feu, adiantando que é preciso encontrar respostas para a época baixa.
“Não conseguindo os empregadores garantir postos de trabalho a tempo inteiro durante todo o ano, faz com que haja um número elevado, e maior que a média nacional, de contratos a prazo, sazonais e precários. É por isso que se torna vital diversificar a nossa economia”, garante a responsável do IEFP, confirmando que as empresas e entidades têm consciência dessa realidade. “Não queremos matar a “galinha dos ovos de ouro”, que é o turismo, e que muito tem contribuído para a economia do país, mas temos de encontrar também outras respostas”.
E para que tal realidade seja possível, tem de haver vontade do setor empresarial e a aposta numa mão-de-obra cada vez mais capaz. “Precisamos de pessoas qualificadas, com as competências necessárias e ajustadas às necessidades do mercado, para garantirmos o desenvolvimento sustentável da nossa economia, daí ser tão importante apostar na formação profissional. Só assim podemos colher frutos no futuro”, conta a responsável do IEFP no Algarve. Mas o problema não é só a qualidade, mas também a quantidade.
“O Algarve tem falta de recursos humanos, apesar dos últimos censos evidenciarem o aumento da população na região. Mas este aumento aconteceu à custa da população mais idosa e também dos últimos fluxos migratórios para a nossa região, que vieram à procura de melhores condições de vida, designadamente de cidadãos estrangeiros de países terceiros. E precisamos destas pessoas, porque apenas com os recursos humanos da região não se consegue responder às necessidades de mão de obra e à diversificação e crescimento da economia regional”.
E para Madalena Feu todos têm respondido ao desafio: as empresas, os jovens, aqueles que têm estado no desemprego e até mesmo trabalhadores que estão no ativo, mas que querem melhorar as suas competências. “É preciso investir não só na formação inicial dos jovens e dos migrantes, dando-lhes as competências necessárias para se ajustarem ao mercado de trabalho, mas também reconverter aqueles que já não querem estar no setor do turismo, ou em qualquer outro setor, mas sim em outras atividades profissionais. Temos de qualificar e requalificar para novos empregos, mas também melhorar e desenvolver novas competências para manter postos de trabalho”.
Segundo a delegada regional do IEFP, todos têm a ganhar com esta aposta no futuro. “Quanto mais qualificados forem os trabalhadores de uma empresa, mais fácil é garantir os parâmetros de qualidade e de excelência nos resultados. A formação não deve ser vista como um custo para a empresa, mais sim como um investimento”.
“É preciso apostar na transformação digital”
A União Europeia promove em 2023 o Ano Europeu das Competências. O Postal do Algarve desafiou a diretora regional do IEFP a enumerar as áreas em que é preciso apostar no imediato.
“O Algarve tem condições para não ser apenas restauração e hotelaria. A estratégia de desenvolvimento regional para uma especialização inteligente, sustentável e inclusiva do Algarve, a designada RIS 3, identifica os diversos setores em que é necessário apostar. Considero que, no presente, uma das áreas mais urgentes é a que está relacionada com a transição digital, pois temos de acompanhar esta importante mudança decorrente da inovação tecnológica. E o digital é transversal a todas as atividades profissionais, bem como também “mexe” com a vida das pessoas. É preciso prevenir a possível exclusão social, que daí poderá advir”. Mas há outros. “Áreas profissionais relacionadas com a economia do mar e economia verde, com a transição energética e ambiental, bem como tudo o que tenha a ver com os setores da saúde e bem-estar e social. Todos estes setores podem ajudar a encontrar outros focos de desenvolvimento na região”.
E esta necessidade de apostar na qualificação e requalificação tem levado a que haja uma procura cada vez maior no IEFP. “Fazemos muita formação em línguas estrangeiras, em especial no inglês, francês, alemão e espanhol, mas também em língua portuguesa dirigida a estrangeiros (Português Língua de Acolhimento), o que é muito necessário na nossa região, bem como permitirá aos cidadãos estrangeiros uma melhor integração social e profissional. Mas há outras áreas em que temos vindo a apostar, designadamente as áreas digitais, de multimédia, de marketing digital e comércio eletrónico”.
Mas também o setor empresarial sente a necessidade de evoluir. “Apostamos cada vez mais na formação dirigida aos ativos das empresas. Esse número tem aumentado. Muitas empresas procuram-nos de modo a realizarmos ações de formação nas áreas ajustadas às suas necessidades, por norma de curta duração, em que podem melhorar as competências dos seus trabalhadores”, garante Madalena Feu.
“Faltam graus intermédios no Algarve”
É nas escolas que os jovens acabam por fazer as primeiras escolhas antes de entrarem no mercado de trabalho. Uma das primeiras, é a via a seguir até ao primeiro emprego.
“Muitos pais ainda têm o ensino superior como uma bandeira, têm aquela ideia de que os filhos têm de ser doutores”, começa por contar Madalena Feu, realçando a necessidade de apostar “na formação profissional, como uma alternativa de excelente qualidade, que permitirá o acesso mais rápido ao mercado de trabalho, mas que também permitirá prosseguir estudos, caso essa venha a ser a vontade de cada pessoa”.
“O mercado de trabalho no Algarve precisa de jovens (e adultos) com estudos superiores, mas também tem muita falta de trabalhadores com qualificações de nível intermédio. Falo de qualificações de nível 4 e 5. E temos um número significativo de jovens, que terminam ou abandonam previamente a sua escolaridade obrigatória e não prosseguem estudos. Havendo falta de mão de obra em áreas profissionais de nível intermédio, considero ser muito importante intervir a este nível”, acrescenta.
E a formação aproxima de imediato os formandos do mundo laboral. “A vantagem da qualificação profissional é que muita dessa formação implica um estágio com uma carga horária elevada numa empresa. A maior parte desses jovens ficam a trabalhar nas empresas onde estagiam ou vão para outras”, conta a diretora regional, avançando ainda que tem muitas empresas a trabalhar em parceria com o IEFP.