A TAP nunca teve, não tem e, segundo tudo indica, nunca terá uma política de transporte aéreo vocacionada para o turismo do Algarve.
As principais companhias aéreas de bandeira europeias, cuja importância e dimensão são muito superiores à TAP, mantêm com bastante sucesso, ao longo do ano, voos directos ponto a ponto de e para a região.
A TAP concentra as suas operações em Lisboa, ignorando, propositadamente, as potencialidades dos restantes aeroportos, esquecendo o facto destes gerarem um movimento significativo de passageiros altamente rentável, como é o caso de Faro.
A TAP representa pouco mais de três por cento do tráfego aéreo no aeroporto de Faro, maioritariamente doméstico e, por conseguinte, com pouco valor acrescentado para a economia portuguesa.
Não se compreende como é que se pode reestruturar uma empresa mantendo o mesmo modelo de gestão e de negócio – os primeiros e principais responsáveis pelo seu fracasso
Esta realidade é tão ou mais importante quando os turistas que nos visitam são, sobretudo, oriundos de países do centro e norte da Europa, o turismo é um sector estratégico e prioritário da economia nacional e o Algarve a maior e mais importante região turística do País.
Assim, os milhares de milhões de euros de prejuízos acumulados pela TAP ao longo de décadas não podem ser imputados nem à região, nem aos algarvios e, muito menos, à actividade turística regional, apesar de, em nome do interesse público, termos sido, sucessivamente, chamados a suportar os enormes prejuízos da companhia aérea portuguesa.
A anunciada reestruturação da TAP só pode estar condenada ao fracasso, na medida em que para além de alguns ajustes para satisfazer clientelas específicas, o modelo de negócio e a estratégia comercial mantêm-se inalterados, sendo mais que previsível o agravar dos prejuízos que, mais tarde ou mais cedo, todos teremos que voltar a pagar.
Não se compreende como é que se pode reestruturar uma empresa mantendo o mesmo modelo de gestão e de negócio – os primeiros e principais responsáveis pelo seu fracasso. A TAP acha que sim. Congéneres europeias da TAP, confrontadas com problemas semelhantes, realizaram com êxito reestruturações profundas. A TAP recusou seguir estes exemplos de sucesso.
Acresce que, já agora, o transporte aéreo não pode existir em Portugal como um sector autónomo, devendo passar a ser entendido ao serviço do turismo.
O que é estratégico para o nosso País é a acessibilidade aérea e não a TAP, como nos pretendem vender, através da interacção e desenvolvimento da conectividade entre os aeroportos existentes, situação que a TAP menospreza, mas que as companhias aéreas estrangeiras têm, felizmente, vindo a assegurar cada vez mais.
Por outro lado, as infra-estruturas aeroportuárias e a sua integração num programa de competitividade/sustentabilidade do turismo português implicam, necessariamente, a clarificação do papel e dos apoios tangíveis e intangíveis que a transportadora aérea nacional beneficia para dar prioridade ao transporte intercontinental de portugueses para o exterior, em parte para concorrer com a oferta turística do nosso País, através de “charters” organizados pelos Operadores Turísticos e Agentes de Viagens Nacionais.
A TAP deve divulgar quantos voos “charter” organiza, anualmente, para transportar portugueses para o estrangeiro, assim como as respectivas receitas e despesas. Por outro lado, era importante saber quem são os administradores não executivos da TAP e os seus vencimentos.
O futuro da TAP depende do mercado e de uma reestruturação profunda ao nível da sua organização. A viabilidade da TAP só será possível através de um aumento significativo do seu tráfego intercontinental, mas que precisa ser alimentado por rotas europeias desenvolvidas em concorrência com as companhias aéreas Low Cost e “Full Service Carriers” para todos os aeroportos nacionais, designadamente Faro, uma lacuna que a TAP deve saber ultrapassar rapidamente.
A TAP tem que conseguir ultrapassar os graves problemas financeiros em que se encontra mergulhada, melhor forma de evitar que todos paguem os benefícios de alguns.
* O autor não escreve segundo o acordo ortográfico