Todos os sectores da vida e da sociedade portuguesa relacionam o Algarve com o Verão. O Verão é sinónimo de bom tempo e de férias e, por conseguinte, de ócio e lazer. Neste sentido, o Algarve e o Verão são sinónimos de turismo, encontrando-se profundamente enraizados no espírito dos portugueses e dos povos do centro e norte da Europa, principais consumidores de férias.
O clima ameno não é exclusivo dos meses impostos pelo calendário, estendendo-se praticamente ao longo de todo o ano, sobretudo durante a Primavera e o Outono. Assim, o Verão turístico vai muito para além dos três meses oficiais do calendário.
Um e outro são indissociáveis e ainda bem, não só para o Algarve, mas também para o país, cabendo a cada um cumprir a parte que lhe compete. Não é pedir muito
O Algarve despertou para este fenómeno em meados da década de sessenta do século passado, tendo-se afirmado como um destino turístico de eleição, atendendo ao bom clima, às belezas naturais das suas praias, à sua gastronomia e ao povo hospitaleiro, sendo uma referência obrigatória no contexto da oferta turística tradicional contemporânea junto dos principais mercados emissores de turistas do centro e norte europeus.
Neste contexto, o Algarve e o Verão são, de facto, eixos estratégicos e prioritários da economia nacional, principal destino de férias dos portugueses e responsável por cerca de 60 por cento das receitas oriundas do maior sector exportador, atraindo importantes recursos externos para a cobertura do défice comercial.
Embora condenados a viver juntos para sempre, passadas que estão mais de quatro décadas após o nascimento do turismo moderno, o Algarve e o Verão enfrentam novos desafios decorrentes das oscilações/transformações económicas europeias e mundiais.
A globalização económica mundializou a actividade turística e, por essa via, a competitividade entre os diversos destinos à escala planetária, criando constrangimentos de vária ordem aos agentes económicos, confrontados com factores que não controlam nem dominam.
Por outro lado, a actividade turística impulsionada pelos avanços tecnológicos e pela crescente desregulamentação internacional, com especial destaque para a liberalização do transporte aéreo, conjugadas com a apetência das economias mundiais para a sua terciarização, assim como a aposta progressiva em sectores marcadamente exportadores, afectaram ainda mais a competitividade dos destinos turísticos ditos tradicionais, incluindo o Algarve.
Neste sentido, não é despiciente afirmar que os tempos de abundância já não são o que eram, sendo agora necessário definir e implementar novos rumos e novas estratégias mais condicentes e ajustadas com as realidades económicas do presente.
Estão neste caso, entre outras, a necessidade de políticas públicas capazes de repor níveis competitivos mais fortes, quer seja para melhorar a produtividade laboral, quer no que se refere à redução da carga fiscal, quer ainda no respeitante à definição de políticas de transporte aéreo e de gestão aeroportuária mais próximas da concorrência.
Por outro lado, importa assegurar as verbas necessárias para a implementação de um plano de marketing estratégico operacional e de uma política de promoção proactiva mais vocacionada para as vendas que, reconhecidamente, nunca tivemos.
O que está em causa é, precisamente, reposicionar a oferta de turismo do Algarve, visando esbater a sua maior fragilidade – a sazonalidade –, através do aumento da ocupação ao longo do ano, de forma a restabelecer a sustentabilidade financeira dos agentes económicos, na medida em que as ocupações durante os meses de Verão se encontram mais ou menos asseguradas.
A economia do turismo e do tempo livre dos cidadãos enfrenta hoje novas dinâmicas, como são os casos do turista individual na procura de estadias e do aparecimento de novos canais de comercialização e distribuição de férias proporcionados pelas tecnologias de informação, o que exige dos poderes públicos um melhor entendimento sobre a substância do turismo do Algarve na economia, bem como a adopção de medidas que visem facilitar, afirmar e consolidar a actividade turística, enquanto eixo estratégico da economia portuguesa.
O Algarve e o Verão apresentam-se, deste modo, como duas faces da mesma moeda, ou seja, um e outro são indissociáveis e ainda bem, não só para o Algarve, mas também para o país, cabendo a cada um cumprir a parte que lhe compete. Não é pedir muito.
*O autor escreve de acordo com a antiga ortografia
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